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Marquinho: ‘Efetivo que não trabalhar será descontado’

Prefeito fala em corte de ponto para estatutário da Educação e diz que movimento do Sepe é ‘político’

14 junho 2017 - 08h14Por Texto e foto: Rodrigo Branco
Marquinho: ‘Efetivo que não trabalhar será descontado’

O prefeito de Cabo Frio, Mar­quinho Mendes (PMDB), resol­ver falar um dia após os protes­tos de servidores da Educação, que cumprem hoje o terceiro e último de paralisação, por conta de atraso no pagamento dos sa­lários de maio aos contratados. Ele recebeu a reportagem no gabinete para falar da primeira grande crise do seu mandato e apresentou dados sobre quanto o município já pagou em folha, entre salários atrasados e deste ano: R$ 171 milhões.

Em tom mais duro que o ha­bitual, Marquinho afirmou que os efetivos da Educação estão com vencimentos em dia e ga­rantiu que irá descontar os dias de quem não foi trabalhar. Para completar, disparou contra o Sepe, a quem acusou de agir ‘politicamente’.

– A minha indignação é que os nossos alunos sejam afetados por esse impasse. Quando mexe com uma criança, mexe comigo – dispara.

Folha dos Lagos – Como avalia a manifestação dos ser­vidores da Educação e a para­lisação de 72 horas?

Marquinho Mendes – Para explicar a situação, tem que vol­tar atrás um pouquinho no que diz respeito à Educação. Assu­mimos em janeiro com os pro­fessores em greve e os alunos fora da sala de aula. Fizemos um acordo com o Sepe para que pudéssemos terminar o ano leti­vo de 2016 e iniciar o de 2017. Esse acordo de pagamento de duas folhas por mês foi honrado. Devemos muito pouco da dívida deixada pelo governo Alair, que é significativa. O salário do esta­tutário da Educação está em dia. Como existiu a possibilidade de melhora de orçamento, publicamos um edital para equiparar o salário do novo contratado, de três meses, com o do efetivado, o que aumentou a nossa folha em R$ 1,5 milhão. Esperáva­mos que o repasse do Fundeb e a arrecadação própria pudessem melhorar, mas isso não ocorreu. Quero deixar claro: estamos em dia com os efetivados e estamos pedindo agora é que pudesse ser postergada essa diferença sala­rial. Pagaríamos inicialmente o valor pago pelos governos an­teriores e, daqui a dois meses, o restante em folha complementar. Só que houve uma incompre­ensão muito grande do sindi­cato. Nossa proposta é viável, estamos nos desdobrando. As dívidas não foram só com a fo­lha, mas com água, com luz, e estamos deixando em dia. En­tão temos crédito para solicitar isso e não houve compreensão do sindicato. O estatutário está com salário em dia, tem que trabalhar. O contratado até po­deria propor uma paralisação. Professor efetivado vai ter que ir pra sala de aula, vai ter que trabalhar. A minha indignação é simplesmente que as nossas crianças sejam afetadas por esse impasse. Quando mexe com um aluno, mexe comigo. Então esta­mos nesse impasse, que já pode­ríamos ter solucionado.

Folha – O Sepe reclama que não há transparência total por­que a Fazenda informa as des­pesas, mas não onde o dinheiro foi gasto. O que tem a dizer?

Marquinho – Eu digo que a transparência é total. Os dados estão lá para serem disponibili­zados. Se algum dos represen­tantes do Sepe quiser se can­didatar à prefeitura, que o faça daqui a três anos e meio. É um direito que tem, qualquer cida­dão poder se candidatar a pre­feito. Mas o prefeito, o gestor, sou eu. O direcionamento do recurso quem faz sou eu, não é o Sepe. Ele tem que questionar para onde está indo, está lá, com muita transparência. A receita tá aqui e a despesa tá aqui. Eles acompanham cada centavo da receita da prefeitura. Eu discor­do completamente dessa posição do Sepe. Hoje, ele não tem nada do que reclamar. Hoje, tem um governo de diálogo, compreen­são, de transparência e por parte deles não há essa compreensão. Quando não há compreensão, cada um vá procurar os seus di­reitos. Eu vou procurar o meu direito, que é colocar criança dentro da sala de aula. Efetivado vai ter que trabalhar porque está com o salário em dia, senão eu vou descontar.

Folha – A lua de mel com o Sepe acabou?

Marquinho – Não tenho lua de mel com o Sepe. Eu me im­porto com os estudantes da rede. Com o Sepe, não tenho, nem pretendo. Primeiro, porque eles têm uma opção política que não é a minha. A opção política do Sepe hoje é outra, bem clara na campanha eleitoral, quando foram contra minha candidatu­ra. Então, não posso ter lua de mel com quem é contra o meu governo. Declaradamente contra meu governo. O que a gente tem é respeito, é procurar o diálogo. Mas não existe possibilidade ne­nhuma de ter lua de mel com o Sepe. Ele têm a opção deles po­lítica, partidária e de candidatu­ra. Ninguém é obrigado a votar em Marquinho Mendes. Mas eu governo para todos.

Folha – Este é o momento mais difícil do governo?

Marquinho – O momento é dificílimo. Com a reserva que tínhamos, optamos por fazer o pagamento dos atrasados que a gestão anterior nos deixou. En­tão não temos reserva, mas temos disposição para trabalhar e uma equipe competente. O funcio­nalismo está do nosso lado e a população entende que estamos reconstruindo uma cidade. E isso não vai ser da noite para o dia, vai ter muita dificuldade. Mas eu garanto que vamos ultrapassar e vencer esse desafio de construir e levar a cidade para novos tempos.

Folha – Como você chegaram à fórmula de parcelamento das dívidas antigas em dez vezes?

Marquinho – Como não te­mos mais reservas para honrar essa dívidas, nada mais justo, com a compreensão do sindi­cato, que possamos fazer a di­luição dessa despesa. Fizemos primeiro em 12 vezes e, depois, fui questionado se havia pos­sibilidade de reduzir para dez meses, o que eu fiz, para ten­tar acabar com a dívida dei­xada por Alair Corrêa. É uma proposta viável que eu espero que o sindicato possa dar uma resposta positiva.

Folha – Essa proposta é ape­nas para Saúde e administrati­vo. Como fica o residual para Educação e os demais que es­tão pendentes?

Marquinho – Com a Educa­ção é mínima (a dívida antiga), daqui a pouco nós vamos pagar. Eles sabem que estamos fazen­do do limão uma limonada. O que eles não conseguem enten­der é como o governo Marqui­nho Mendes, em tão pouco tem­po, conseguiu fazer o que Alair Corrêa não fez em quatro anos. Acho que, na realidade, o Sepe tem que entender que o que está em jogo não é a questão política. Se eles fizeram opção no passa­do por apoiar outra candidatura derrotada, não significa que não podemos trabalhar com respei­to e de compreensão, principal­mente. Só que a questão deles é política. O Sepe não quer a cida­de reconstruída porque fez outra opção política. O que eu peço é deixar as questões partidárias à parte para que possamos pensar nos alunos e na cidade.

Folha – O ano letivo de 2017 termina em 2017?

Marquinho – Garanto que termina. Tenho uma equipe com­petente à frente da secretaria de Educação e tenho orgulho dela. Vamos terminar o ano letivo.

Folha – O Sepe compara você a Alair. O que você acha disso?

Marquinho – Deve ser por­que o candidato que eles apoia­ram tem essa identificação. O candidato deles, que foi derrota­do, foi apoiado até para tentar in­viabilizar minha candidatura em processo de votação na Câmara. O candidato deles é que deve ser comparado a ele, não eu.

OUTRO LADO – Sepe responde: ‘Criatura igual ao criador’

As declarações do prefeito Marquinho Mendes não repercutiram bem junto à direção do Sindicato dos Profissionais da Educação (Sepe Lagos). De acordo com a diretora de imprensa do sindicato, Denise Teixeira, a categoria não irá recuar das suas posições, apesar da ameaça de corte de ponto feita pelo prefeito. Ela garantiu que as aulas não serão repostas caso as reivindicações não sejam atendidas.

– A gente não tem medo de ameaça, nem de retaliação. O Sepe está na rua e vai continuar na rua, lutando por salário e por dignidade. Se ele quer retaliar, ser ditador a ponto de fazer corte, que ele arque porque o ano letivo não vai ser encerrado. Os pais dos alunos precisam saber disso – disse Denise.

A sindicalista também rebateu as acusações de Marquinho de que o movimento de paralisação dos servidores tenha cunho político. Segundo Denise, a tática é a mesma usada pelo antecessor, Alair Corrêa, a quem chamou de ‘criador’, para tentar desqualificar o movimento. Para ela, Marquinho é a ‘criatura’.

– Quero que ele diga se não pagar até agora o auxílio-doença é um ato político; se não pagar o contratado até agora é um ato político e tirar os direitos, como triênio e quinquênio, também é um ato político – disse.

Por fim, Denise ironiza o pedido de compreensão feito por Marquinho aos servidores. A diretora do Sepe cobrou novamente transparência da prefeitura.

– Compreensão não paga conta. A gente precisa que o prefeito abra as contas de verdade. Não adianta mostrar as dívidas, as despesas e a receita. Tem que mostrar no que está gastando. Tem que abrir os valores dos contratos. A gente viu que, no primeiro quadrimestre, a prefeitura arrecadou R$ 63 milhões por mês. Então não há motivo real para não pagar uma folha de pagamento – conclui.