terça, 19 de março de 2024
terça, 19 de março de 2024
Cabo Frio
25°C
Park Lagos beer fest
FIM DAS ATIVIDADES

Mais uma empresa de investimentos, Flashbets fecha as portas e deixa rastro de prejuízo em Cabo Frio

Grupo liderado pelo empresário Dougllas Soares Aquino, prometia retornos financeiros de 5% ao dia

17 setembro 2021 - 10h17Por Redação

Com promessa de retornos financeiros de cerca de 5% ao dia, mais uma empresa fechou as portas e deixou um rastro de prejuízos em Cabo Frio: a Flashbets, do empresário Dougllas Soares Aquino, de 30 anos, operava com apostas esportivas de forma on-line, exatamente com a Alphabets, do empresário Rogério Cruz Guapindaia. E as semelhanças não param por aí: a desculpa para o encerramento das atividades também foi o mesmo, problemas na plataforma. Mas, enquanto a Alphabets anunciou um plano de ação para começar a quitar suas dívidas, o CEO da Flashbets simplesmente sumiu. As duas empresas se somam à Investing Lagos, do empresário Thiago Lobo de Souza: todas fecharam as portas nas últimas semanas, deixando clientes a ver navios.

Fundada em 19 de maio deste ano, a Flashbets tinha sede no bairro de Santana, em São Paulo. Apesar disso, o CEO da empresa, Dougllas Aquino, viajava por todo o Brasil fazendo a divulgação da plataforma. Em julho, no dia 31, ele esteve em Cabo Frio para conquistar mais clientes. A reunião aconteceu num hotel do bairro da Passagem. Num vídeo de divulgação, momentos antes do encontro, Dougllas e um grupo de pessoas informam, animados, que “dia de saque é dia de bloquear o grupo”. 

Em material de divulgação, o proprietário da Flashbets anunciava até 97% de assertividade nas apostas graças a um software desenvolvido pela própria empresa, uma espécie de robô que analisa 24h por dia dos algoritmos e oportunidades disponíveis nas casas de apostas, “seguindo uma gestão de banca alinhada a uma estratégia altamente lucrativa”. Os ganhos, de acordo com propaganda da própria empresa, seriam através da aquisição de licenças; vendas/indicações direta das licenças, e residual de lucro sobre os indicados, com rendimentos de segunda a sábado de até 5% ao dia, rentabilidade máxima de até 200% da licença, saque mínimo de R$ 100, e saques quinzenais nos dias 5 e 20 de cada mês.

Mas, três meses após ser fundada, o que era sonho começou a virar pesadelo: a Flashbets passou a ter os primeiros problemas com pagamento dos clientes. Embora no material de divulgação Dougllas apresentasse a empresa como “um grupo de investidores do mercado de apostas esportivas”, e anunciasse, inclusive, um plano de carreira “com rendimentos diários com base na licença escolhida”, numa live do dia 13 de agosto, que a equipe da Folha teve acesso, a história mudou. No vídeo, o empresário diz que a Flashbets não era uma plataforma de investimentos.

Na ocasião, a empresa já vinha passando por problemas, e o CEO estava usando a transmissão para tentar amenizar os impactos negativos e ameaças que dizia estar sofrendo por conta de vários prejuízos financeiros: “Não estou dizendo que minha plataforma está fechando, não estou dizendo que não vou pagar isso, não vou pagar aquilo. Só quero que vocês abram os olhos porque eu sempre falei sobre a forma de duplicar (os rendimentos)”. Segundo Dougllas, isso seria possível convidando mais pessoas para participar da plataforma, algo que, segundo juristas, é típico de pirâmides financeiras. 

Poucos dias depois, numa nova live, o empresário tentou novamente se defender, reforçando que “o último saque demorou um pouco por causa de problemas com bancos”. Também denunciou que alguns investidores teriam feito saques duplos ou recebido bônus a mais, por engano, mas não fizeram estorno. E seguiu dizendo que as pessoas que mais o estão atacando são as que mais ganharam dinheiro na plataforma. “Dougllas não vai correr, Dougllas não vai fechar o Instagram nem dizer que raquearam o Instagram, não vou trocar de número (de celular) porque eu sei da minha responsabilidade”, disse ele. Cerca de uma semana depois, no dia 25 de agosto, a Flashbets deu baixa no CNPJ e encerrou suas atividades. Desde então, Douglas excluiu sua conta no Instagram (onde reunia mais de 27.400 seguidores) e parou de falar com os investidores. A equipe da Folha tentou conversar com ele por telefone, Whatsapp e Telegram, mas não houve retorno.

Nos grupos de mensagens onde as vítimas de todo o Brasil se reúnem, existem vídeos de famosos, como MC Mirella, fazendo propaganda da Flashbets. A equipe da Folha conversou com alguns investidores de Cabo Frio que estão no prejuízo. Sem se identificar, um deles afirma que foram 30 mil lesados pela plataforma de Dougllas, mas esse número pode ser muito maior já que num vídeo postado em agosto o próprio empresário anunciou que em apenas dois meses já tinha uma média de 500 novos clientes/dia. “Entrei na Alphabets há uns 2 meses, e logo em seguida entrei na Flashbets. As pessoas que conheciam a Alphabets entraram na Flashbets por causa da rentabilidade maior. A Alfa dava 30% ao mês, e Flash dava 40% ao mês, rentabilidade até 5% ao dia. A forma de operação das duas era idêntica. Usaram o mesmo artifício e a mesma desculpa, sumindo com o dinheiro de todos”, denunciou o investidor. Ele contou que no primeiro mês investiu um valor pequeno apenas para teste, e recebeu certinho. “Depois entrei com R$ 26 mil na Flashbets e R$ 1.500,00 na Alpha”, revelou, informando que para investir recorreu a empréstimo.

Embora a Flashbets não tivesse escritório em Cabo Frio, as vítimas contaram à Folha que a empresa tinha gerentes e líderes na cidade. “Primeiro eles faziam pagamento em até dois dias úteis, depois passaram para sete. Na época do segundo saque percebi ninguém estava postando comprovante de depósito, como aconteceu no pagamento anterior, e já comecei a desconfiar. Meu prejuízo foi de R$ 5 mil. Minha bronca é por causa dos meus amigos, que investiram pela minha indicação. Teve amigo que colocou R$ 20 mil. Sorte minha que eles entenderam que fui vítima como eles”, desabafou outro investidor, sem se identificar.

No vídeo postado pouco antes de encerrar a empresa e desaparecer, Dougllas chegou a responsabilizar os clientes pelo prejuízo: “Assumam a responsabilidade de uma aposta. Não queiram entregar a irresponsabilidade de pegar um dinheiro que não deve, apostar numa plataforma, e simplesmente dizer ‘tomei um golpe’”. Em outro trecho, visivelmente nervoso e abalado, ele fala sobre as ameaças que está recebendo, inclusive de morte: “Estão ameaçando minha mulher, mandando mensagens pra ela dizendo que sabem onde ela mora. Estão oferecendo R$ 50 mil pra me matar. Estou andando com segurança. Não venham achar que ameaça vai me fazer baixar a cabeça porque não vai”. 

No mesmo vídeo, ele diz que soube que algumas pessoas estão se reunindo em grupos para processar a Flashbets, e alertou: “Abram os olhos de vocês, se aconselhem com algum advogado sobre o assunto, caso queiram, porque geralmente essas pessoas usam isso para tirar dinheiro de vocês. Entrar com ação coletiva contra site de apostas e diz que não tem nenhum custo? Não tem agora, mas depois nada impede um custo de R$ 100, R$ 200, de 100, 200, 300, 400 pessoas. Dá um dinheiro bom pra um advogado, né?”, questiona. A todo instante Dougllas pede que os clientes tenham calma, e entrem em contato com número de Whatsapp informando o login para que as situações sejam verificadas de forma individual. A Folha tentou mandar mensagem para o número informado, mas não consta a existência de Whatsapp cadastrado.

No site Reclame Aqui as reclamações começaram a ser registradas com a Flashbets um dia antes da empresa fechar as portas. Uma pessoa de Brasília informou que criou um grupo com colegas e familiares para banca coletiva, investindo mais de R$ 57 mil. Porém, a plataforma teria fechado e o dinheiro investido ficou preso. No dia 1º de setembro um investidor de São Pedro da Aldeia reclamou que “eles simplesmente sumiram e não pagam a gente. Fui enganado, no dia do pagamento simplesmente desligaram o app”. Nenhuma reclamação feita no site teve resposta da Flashbets até o fechamento desta edição.

ALPHABETS - Mesmo anunciando um plano de recuperação para 30 dias, o CEO da Alphabets, Rogério Cruz Guapindaia, sofreu a primeira derrota esta semana: a Justiça do Rio de Janeiro solicitou o bloqueio de R$ 95 mil das contas da empresa e do próprio Rogério. A liminar, assinada pelo juiz André Aiex Baptista Martins, da 6ª Vara Cível de Volta Redonda, determinou o arresto depois que uma mulher pediu a devolução da quantia aplicada no negócio. Também esta semana o delegado de Cabo Frio, Carlos Eduardo Pereira Almeida, e o delegado de São Pedro da Aldeia, Milton Siqueira Junior, informaram que o empresário da Alphabets está sendo investigado por estelionato, crimes contra a economia popular e contra a ordem tributária, e será intimado a prestar depoimento. 

Fundada em março de 2020, a Alphabets encerrou as atividades no último dia 8 de setembro, cerca de 15 dias depois da Flashbets, que atua no mesmo segmento e da mesma forma. No entanto, no site da Receita Federal, diferente da concorrente Flash, ela continuava com CNPJ ativo até o fechamento desta matéria. O endereço comercial fica no bairro Candelária, em Natal (RN), no entanto a empresa mantinha um escritório em Cabo Frio, que fechou as portas. À Receita, Rogério informou um capital social de R$ 105 mil. No site, a empresa prometia retorno financeiro médio de 1.2% a 3.2% ao dia, de segunda a sábado. Para atrair clientes a Alphabets anunciava oito tipos de propostas, que variavam de investimentos a partir de R$ 100, até valores acima de R$ 100 mil. 

No site Reclame Aqui são várias as reclamações contra a Alphabets. As primeiras começaram a surgir em junho deste ano, quando um investidor de Goiânia denunciou que depositou R$ 100, e pouco antes da data prevista para saque dos lucros, a empresa mudou as regras, anunciando retiradas somente a partir de R$ 300. Em julho um cliente de Araruama reclamou que não conseguia acessar a própria conta, e um de Saquarema contou que comprou uma licença 7 (no valor inicial de R$ 50 mil), com pagamento via pix, e mesmo após dois dias não estava ativo no site. Mesma reclamação foi registrada em agosto por um investidor de Cabo Frio que comprou uma licença de R$ 1 mil, mas não foi ativado.