O lugar é um dos pontos que tem a preferência entre a maioria das pessoas: à beira-mar. Meio que alheias às belezas de uma das praias mais famosas de Cabo Frio, a do Forte, cerca de 200 famílias, a maiorira de pescadores, tentam manter as casas que possuem na área conhecida como Lido. Alguns estão no mesmo local há mais de meio século, como Lenine Lopes da Cunha, de 60 anos, que mora com a esposa e três filhos. Isso, no entanto, pode mudar caso a mais recente tentativa de desapropriação vá adiante: desta vez, para a construção de um hotel.
Os moradores, confusos e indignados, reclamam da possibilidade de terem que deixar para trás décadas de história familiar, sem contar os transtornos para exercer a profissão. Um misto de terras da União, do Estado, do Município e também de proprietários particulares, de tempos em tempos a área volta a ser motivo de disputas. Lenine, no entanto, afirma que não vai deixar a casa centenária em que nasceu, onde os pais moraram por toda a vida – e que, agora, além da esposa e filhos, divide com uma irmã e o irmão. A queixa se avoluma quando lembra dos anos de ausência do poder público e da dificuldade que encontra para receber um simples carnê de IPTU.
– Mais uma vez essa histó- ria de querer tirar o povo daqui. Desde o segundo mandato, Alair (prefeito) disse que não faria nenhuma melhoria porque a área era de particular. E agora isso? Pago IPTU, apesar que preciso ir à Secretaria de Fazenda para poder manter meu débito em dia. Tenho planta do terreno e não saio daqui para ir para longe. Não devo nada ao estado, ele é que me deve. Sou legal. A Prefeitura não tem dinheiro para pagar funcionários, mas tem para pagar indenizações baratas? – desabafou, acrescentando que atualmente paga o imposto com desconto por ser deficiente. Segundo ele, é difícil conseguir qualquer melhoria para o local e que dois abaixo-assinados já foram feitos solicitando reforma da quadra, além de vários pedidos em rádio local solicitando a troca de lâmpadas queimadas.
Moradores tentam se organizar
No início do mês, durante encontro da União das Associações de Moradores de Cabo Frio (Uniamacaf) com moradores do Lido, foi discutido o projeto do hotel, que prevê a edificação de uma construção de três andares, com nove metros e meio de altura. No entanto, o também pescador Aldenir Lopes da Cunha, 56, nascido e criado no Lido, se queixa da dificuldade colocada pela Prefeitura para que os moradores consigam pagar o imposto predial e também conseguir legalizar os imóveis.
– Não queremos sair, não concordamos com isso, ainda mais para jogar a gente para longe daqui. Sem contar que para cada um falam um lugar, que pode ser Tangará, Parque Arruda, Alecrim, e valores diferentes. Quem compra alguma coisa com R$ 20 mil? Tem gente que não paga IPTU porque a Prefeitura não estava liberando para pagar. Eu mesmo tive que dar entrada da Defensoria desde 2006 e nada. Só este ano liberaram. A luz também levei décadas para conseguir e só instalaram em 93. A gente vive da pescaria, não quero sair daqui – contou.
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