Cinco mulheres, ao admirar a ‘Superlua’ (período em que a lua fica mais próxima à terra), sentadas no deck da Passagem, foram surpreendidas por dois homens, um deles armado: “depressa, tia! Só queremos o celular! Rápido, tia”. Os ladrões levaram os aparelhos e a lua se deixou esquecida sobre o Canal. O Largo São Benedito, um dos destinos mais procurados de Cabo Frio, vive tempos difíceis: iluminação precária e sujeira também assolam um paraíso que se perde em meio aos problemas da cidade.
– O descaso do Poder Público provoca estragos que podem se tornar uma tragédia. Uma coisa simples que fiz naquele lugar durante toda minha vida. Não adianta falar que estávamos na hora e no lugar errados. Isso não justifica ter uma arma nos ameaçando. Se a Passagem está abandonada, sem iluminação, imagine os bairros periféricos –questiona a memorialista Meri Damaceno, 57.
O servidor Eneas Vasconcelos, 56, cobra uma boa iluminação para inibir os crimes.
– A orla está um breu. Pode passar por ela toda, que está completamente escura. Só os postes pequenos que estão ligados, mas não adianta de nada, porque ilumina cerca de uns dois metros de distância. Está mais perigoso por isso — comenta.´
A produtora cultural Luciana Branco, 53, também estava entre as quatro mulheres assaltadas – o sentimento dela, no entanto, é de complacência.
– A pior escuridão é a falta de educação. Crianças e jovens fora da escola, profissionais da educação sem salários... Quando os assaltantes se aproximaram, a palavra que mais mexeu comigo foi “tia”. Senti medo e uma infinita pena da adolescência perdida... Quem acha que o problema está somente na deserta rua escura à espera do luar está muito enganado – desabafa a organizadora do Santo Samba.
A Praça São Benedito, point boêmio e um dos locais mais belos da cidade, também sofre abandono. Enquanto a escuridão toma conta das margens do Canal, postes ligados em plena luz do dia mostram o desperdício de energia. Luciana Branco, inclusive, tem até uma campanha para melhorar o local.
– Começo uma campanha em apoio ao cuidado e à preservação do Largo São Benedito. Quero unir pessoas que amam aquele lugar para que juntos possamos protegê-la. A praça é do povo, é um bem coletivo. Devemos cuidar dela. Chega de esperar pelo Poder Público. A Passagem não merece.
– A praça está largada. Estou criando um restaurante aqui e essa foi a primeira coisa que vi. A sujeira está por toda a praça. Os postes ficam ligados na luz do dia desde um evento. Ninguém desliga. É um absurdo um lugar que tem uma das igrejas mais antigas do Brasil estar largado desse jeito – critica o empresário Carlos Alberto Ferreira, 37.
O marceneiro Renato Ribeiro, 49, também demonstrou insatisfação.
– Falta iluminação pela orla. Aliás, falta uma presença do Estado aqui para resolver as coisas – dispara Renato.