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Jubileu de Ouro: Delegado que mora em Cabo Frio completa 50 anos de Polícia Civil em 2021

José Geraldo Araújo foi titular de diversas delegacias da região e acompanhou a evolução da corporação

16 maio 2021 - 10h30Por Rodrigo Branco

Usar da inteligência para solucionar crimes e defender a sociedade é o trabalho ao qual o delegado da Polícia Civil José Geraldo de Souza Araújo tem se dedicado ao longo das últimas cinco décadas, marca completada em 27 de abril. Desde que começou na corporação, ainda no antigo Estado da Guanabara, no longínquo ano de 1971, na função de escrivão da 5ª DP (Lapa), José Geraldo, que mora em Cabo Frio, acumula casos elucidados e muitas histórias para contar, que remontam à própria trajetória da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Tornou-se delegado em 1982, após passar em um concurso interno. Desde então trabalhou em diversas unidades, na capital e em cidades do interior do estado, na maior parte das vezes como titular. Na Região dos Lagos, já respondeu pelas delegacias de Cabo Frio, Búzios, Araruama e Iguaba Grande. Atualmente, é corregedor regional na 4ª Corregedoria Regional de Polícia, em Macaé, onde atua para apurar casos de má conduta e coibir eventuais abusos na ação policial. O veterano delegado fala com com orgulho do reconhecimento de seus pares e da população, além da ficha disciplinar intacta.

No currículo, constam diversas comendas, homenagens e reconhecimentos públicos, como o Título de Cidadão Cabo-friense. A última delas, um elogio no boletim interno da corporação, feito pelo secretário estadual de Polícia Civil Allan Turnowski, por ocasião do Jubileu de Ouro completado por José Geraldo.

Completei 50 anos como policial, como delegado ou escrivão, e jamais respondi a uma sindicância, seja por corrupção ou por uso de violência garante.

Ao longo de décadas atrás de pistas, provas e evidências para fazer cumprir a lei, as equipes chefiadas pelo policial resolveram casos que se tornaram célebres e tiveram grande repercussão na imprensa, inclusive nas páginas da Folha.

Em 1992, antes das eleições municipais daquele ano, um policial militar matou um cabo eleitoral para roubar o dinheiro da boca de urna em Arraial do Cabo. Como não havia delegacia em Arraial à época, a equipe de José Geraldo, em Cabo Frio, esclareceu o caso. O inquérito levou o PM a ser condenado a 25 anos de prisão e a ser expulso da corporação.

Já em Búzios, chegou aos responsáveis pelas mortes de Therezinha da Silva e José Conceição dos Santos, em dezembro de 1998, no que ficou conhecido como o 'crime do Horto', ocorrido por disputa de terras na região da Marina do Canal. No ano seguinte, prendeu os sequestradores e assassinos do cabelereiro Olímpio Damasceno Filho, cujo corpo foi encontrado no lixão da Baía Formosa. No tribunal, os autores foram condenados a 30 anos de prisão.

O delegado conta que, à época, o juiz Sandro Vinicius dos Santos Pinheiro, já falecido, elogiou o trabalho de investigação pela rapidez. Em uma época em que se dispunha de menos recursos do que hoje, era preciso se desdobrar nas investigações para a conclusão dos inquéritos.

E, ao longo de meio século de serviços prestados à Polícia Civil, José Geraldo pôde acompanhar e participar do processo de evolução da força de segurança.

É muito diferente [o trabalho da polícia] do que já foi. São épocas totalmente distintas. Entre as décadas de 70 e de 2000, não havia a criminalidade que tem atualmente, mas as dificuldades eram maiores. Não tínhamos uma polícia cientifica e criminal eficiente. Uma perícia de local para detectar vestígios do crime, uma perícia de papiloscopia [que retira as impressões digitais], como tem atualmente. O número de servidores é o mesmo de antes. Mas, de dois anos para cá, as polícias foram aquinhoadas com viaturas top de linha. A delegacia de Cabo Frio ganhou 10 Toyotas Corolla zero. Dinheiro que o Governo Federal deu para o Grupo de Ação de segurança públicas, em torno de R$ 1 bilhão explica.

A estrutura precária de antes levou José Geraldo a ter que administrar situações difíceis ao longo da carreira, como rebeliões de presos nas delegacias que chefiou. Ele explica que, diferentemente de agora, os presos ficavam longos períodos nas carceragens à espera de julgamento. O policial relembra que chegou a ter 200 detidos sob a sua responsabilidade em Cabo Frio, Araruama e Nova Friburgo. Insatisfações motivadas por razões como qualidade da comida servida tornaram, muitas vezes, o trabalho de José Geraldo um barril de pólvora.

O ponto de mudança ocorreu em 2000, com a adoção do sistema de Delegacias Legais no estado do Rio. Depois disso, os presos permanecem, no máximo, por 48 horas nas unidades, antes de serem levados para um presídio e aguardar o julgamento. A informatização e a modernização dos processos serviram para aperfeiçoar o trabalho da polícia. Bem diferente dos tempos em que José Geraldo ainda atuava como escrivão. Tempos de 'ninguém sabe, ninguém viu'.

Era outra época. Na década de 70, quando comecei, era época da ditadura, peguei muitos problemas de pessoas entrarem encapuzadas sem saber onde estavam. No antigo estado da Guanabara, eu perguntava para o comissário se aquilo era flagrante, e ele dizia "não, não, esquece, esquece" e o pessoal ia lá para o xadrez e depois nem sabia o destino que iam dar àquelas pessoas relembra.

A longa caminhada, contudo, está próxima de chegar ao fim. Aos 74 anos recém-completados, José Geraldo vai merecidamente se aposentar no fim do ano e ter mais tempo disponível para família. Possivelmente o legado terá continuidade com Maria Alice, de 20 anos, filha do segundo casamento que cursa Engenharia Química na UFF e tem pretensão de ser perita criminal.

A família sentiu muito a minha ausência. No segundo casamento, nem tanto, porque já trabalhava próximo. No primeiro, eu morava no Rio e trabalhava em Itaocara, Cantagalo, e outras cidades longe de casa, em que ficava de terça à sexta; e uma vez por mês, no fim de semana, de plantão explica.

O delegado José Geraldo atualmente