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SAÚDE

Hospital do Jardim Esperança tem dia marcado por falta de médicos na emergência

Pacientes reclamam que situação encontrada pela Folha na unidade é rotineira

22 janeiro 2020 - 19h32Por Rodrigo Branco
Hospital do Jardim Esperança tem dia marcado por falta de médicos na emergência

Amparada, Miriam de Oliveira Dutra caminha com dificuldade até o carro, com muitas dores e frustrada pela falta de atendimento de emergência no Hospital Otime Cardoso dos Santos, no Jardim Esperança. Mas não, necessariamente, surpresa. Minutos antes, ela tinha ouvido do atendente que não havia médicos na unidade, situação que a moradora do bairro Monte Alegre lamenta ter vivido outras vezes – e que se repetiu ontem.

Sem consulta nem receita prescrita, o remédio foi se deslocar para outra unidade de saúde para saber o motivo das dores de cabeça e no ouvido que haviam começado naquela manhã. 

– Está sem médico o maior tempão. Estou quase tendo um troço aqui. O hospital está uma pouca vergonha. Essa prefeitura não tem jeito, não. As pessoas chegam aqui passando mal e são mandadas para UPA ou para São Pedro. A saúde de Cabo Frio está uma pouca vergonha  – esbravejou.

Durante o período de mais de uma hora e meia que a reportagem esteve no local, ouviu reclamações semelhantes.Ontem, durante boa parte do dia, não havia profissionais para atender na emergência adulta, apenas na pediatria. O normal seria ter quatro médicos para fazer o atendimento. O secretário de Saúde, Carlos Ernesto Dornellas, disse em entrevista recente para a Folha que as unidades estariam prontas para o verão. 

Enquanto a Folha esteve no hospital, um médico foi deslocado para a emergência, mas não resolveu a situação. Segundo funcionários, por causa do contingente reduzido, ele só atenderia os chamados casos ‘vermelhos’, ou seja, considerados de maior gravidade.

A situação de ter o atendimento negado revoltou a dona de casa Fátima Rafaela Santos, preocupada com o quadro da filha de 13 anos, que, nos cinco dias anteriores, vinha reclamando de dores no corpo e na garganta e apresentando quadro de febre. Como o atendimento pediátrico foi recusado, por conta da idade da menina, Fátima se viu obrigada a voltar para casa sem solução. O desabafo de Fátima foi postado em vídeo publicado no Facebook da Folha na tarde de ontem.

– Tem um médico para atender todo mundo. E ainda disseram que ela tem 13 anos e não pode ser atendida (no pediatra). E ainda tem que saber se o médico vai atender. A população pede socorro. Estamos pedindo médicos. É só que o que nós queremos. No dia da eleição, todo mundo bate na nossa porta pedindo voto – revoltou-se.

A constante ausência de médicos foi confirmada por outros pacientes e também por funcionários da unidade que falaram com a reportagem na condição de anonimato. De acordo com o Sindicato dos Profissionais da Saúde (Sindsaúde), a situação é diretamente relacionada com os atrasos no pagamento dos salários aos médicos, que também afeta o pessoal de apoio, como auxiliares de enfermagem, por exemplo. 

A reportagem tentou uma posição junto à direção da unidade, que informou que não poderia falar. Já a secretaria de Saúde informou que dos quatro médicos da emergência, três não compareceram ao plantão desta quarta-feira (22). A unidade lamenta o ocorrido e não mede esforços para suprir o atendimento emergencial .

A Secretaria ressaltou ainda que os atendimentos emergenciais passam por uma triagem para determinar a classificação de risco. O método é validado pelo Ministério da Saúde e segue as recomendações sobre a Política de Humanização do Sistema Único de Saúde (SUS). Por fim, esclarece que atendimentos ambulatoriais estão funcionamento normalmente. (Nota da Redação: A coodenadoria de comunicação da prefeitura informou que a resposta ao pedido da reportagem foi enviada às 16h53, ainda a tempo de ser incluída na edição impressa, mas por motivos técnicos, a resposta ora inclusa não chegou à Redação).

Enquanto isso, a doméstica Rayane Jaqueline preparava-se para se equilibrar por vários quilômetros na garupa de uma bicicleta para tentar curar uma doença respiratória. 

– Eu tô aqui com bronquite, pulmão doendo. Machuquei a minha perna e aqui sem médico. Vou ter que recorrer a outro lugar. Tenho que ir pra outra unidade, para Búzios ou pra São Cristóvão. Sempre que eu venho não tem médico. É crítico, é muito doloroso principalmente e para quem precisa.

Para Eduarda Fernandes, a vantagem de morar perto de um hospital grande como o do Jardim transforma-se em gasto depois de receber a negativa na recepção éter que dar meia-volta.

– O cidadão paga seus impostos e não tem um atendimento de qualidade. Vou ter que usar dinheiro de passagem que poderia gastar com outra coisa – diz ela, incomodada com uma espinha de peixe entalada na garganta. 

(*) Matéria atualizada em 23/1 às 10h18.