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Charitas

Grupos LGBT protestam contra censura no Charitas

Ato terá como alvo a direção do museu, acusada de mandar virar fotos de exposição sobre Parada Gay

16 setembro 2014 - 11h33Por RODRIGO BRANCO
Grupos LGBT protestam contra censura no Charitas
Está marcado para o final da tarde de hoje um protesto de grupos ligados ao movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) na Região dos Lagos em frente ao Charitas – Museu e Casa de Cultura José de Dome, no Centro.
Denominado  ‘Manifestação em Favor do Estado Laico e Contra a Censura e Homofobia’, o ato, previsto para as 16 horas, servirá como demonstração de repúdio e cobrança à prefeitura e autoridades da área cultural do município, de uma atitude com relação à direção do espaço, onde na última sexta-feira, fotos da exposição sobre os 10 anos da Parada Gay em Cabo Frio, da fotógrafa Tatiana Grynberg, apareceram viradas para a parede.
O fato causou grande repercussão nas redes sociaise provocou a ira das lideranças de grupos ligados à causa LGBT, como o presidente do Grupo Iguais, Rodolpho Campbell, que acusa a diretora do Charitas, Sônia Portugal, de censura e homofobia. Segundo ele, a ordem para virar as imagens teria partido da direção, preocupada com a visita de um grupo de estudantes ao local.
– Nunca fomos censurados ou tivemos nossos direitos cerceados dentro de um espaço público de diversidades cultural – indigna-se.
O ativista também conta que convidou para a manifestação professores, estudantes, artistas e companheiros de militância. Ele pede a punição da diretora baseado na Lei Municipal N° 2.557, de 26 de Março de 2014, que prevê sanções e multas, em caso de atos de discriminação.
– Espero uma atitude do secretário (José) Facury e do prefeito Alair Corrêa, que sempre se mostraram contra essas práticas – cobrou.
Responsável pela pasta à qual o Charitas está  subordinado, José Facury classificou o ato como ‘lamentável’, mas ressaltou a necessidade de regulamentação dos equipamentos culturais da cidade.
–Os espaços culturais de Cabo Frio não tem regulação de uso. Hoje podem fazer o que quiser neles, mas independentemente disso achei o fato lamentável – argumentou.
O secretário disse ainda que nos próximos dias será publicada no Diário Oficial a Regulamentação de Cessão dos Espaços Culturais. Segundo ele, o objetivo é ver ‘o que cabe e o que não cabe’ em cada espaço. Apesar da polêmica, Facury garante que a exposição permanecerá no mesmo local, ‘até quando desejarem os organiza-dores’.
Conforme a Folha antecipou na edição do final de semana, desde os preparativos, em junho, a mostra se viu envolta em controvérsias. Um dos motivos é que as fotos estão expostas em ambiente que ostenta a imagem de uma santa da Igreja Católica.
– O Charitas não a postura de julgar ninguém – defendeu-se a diretora Sônia Portugal.
FALAMOS CINCO MINUTOS COM TATIANA GRYNBERG, AUTORA DA EXPOSIÇÃO
"NÃO TEVE PEDIDO DE DESCULPAS, NEM EXPLICAÇÃO OFICIAL"
Se o incidente ocorrido na última sexta-feira, no Charitas, quando fotos da exposição fotográfica sobre os 10 anos de história sobre a Parada LGBT de Cabo Frio foram viradas para a parede, causou indignação em ativistas e simpatizantes do movimento, que viram evidências de censura e homofobia na atitude do espaço de cultura, chateou principalmente a autora do trabalho, a premiada fotógrafa Tatiana Grynberg. Em entrevista para a Folha, a artista desabafou sobre o episódio e disparou contra a direção do museu: “Não imaginei que teria essa atitude”.
 
Folha dos Lagos – O Charitas já deu alguma explicação oficial a você pelo ocorrido? Houve algum pedido de desculpas?
Tatiana Grynberg – Não teve um pedido de desculpa, nem uma explicação oficial das fotos viradas. As informações que tive foram através de amigos e da imprensa, que estiveram lá.
Folha – Como foi a reação do público em geral ao ocorrido? Você tem recebido muitas manifestações de apoio?
Tatiana – Alguns amigos que foram ver ficaram indignados, não entenderam nada. E mais:  uma amiga que acompanha meu trabalho desde o início chegou na sexta às 15 horas, perguntou pela minha exposição e eles fingiram que não sabiam de nenhuma exposição de fotos de Tatiana Grynberg. Minha colega insistiu porque eu havia feito o convite pessoalmente para que fosse prestigiar a exposição.  Então as levaram elas até o espaço onde as fotos estavam viradas, viraram uma a uma para ela verem e  disseram que estava assim porque iriam receber crianças do Colégio Sagrado (Coração de Jesus). O curador (Evangelos Pagalidis) falou que devia ser alguns evangélicos, que estavam no lançamento de um livro, que tinham virado. Coisa feia, né?
Folha – Como avaliou o que aconteceu? 
Tatiana – Primeiro fiquei triste com a  atitude dos visitantes que não respeitam a arte alheia, depois quando soube que partiu da própria direção do Charitas a ordem para virar as fotos e ainda desconhecer a minha exposição, fiquei indignada. Como uma diretora de um espaço cultural faz uma coisa dessa? Outro fato curioso é que no final da montagem já senti uma certa resistência. Depois que a diretora chegou, queriam trocar de lugar a exposição por conta de uma (imagem de) santa nessa sala, mas no final ficou tudo certo. O curador Evangelos, que me ajudou a montar, até me pediu desculpas pessoalmente na hora do coquetel de vernissage, mas não imaginei que a direção iria ter essa atitude.
Folha – Falando exposição propriamente dita, como e por que surgiu a ideia de promovê-la?
Tatiana – Há 11 anos fui umas das fundadoras do Movimento  LGBT de Cabo Frio e, como fotógrafa, registrei tudo. Após algumas Paradas do Orgulho LGBT, percebi que tinha umas fotos interessantes, bonitas, coloridas e divertidas e aí mesmo saindo da militância continuei a ir a todas as paradas e fotografar, já pensando em expor quando fizesse 10 anos de Parada. São só 20 fo-tografias escolhidas com muito sacrifício porque o acervo é enorme. No dia do vernissage passamos muitas fotos pelo datashow. 
Folha – Vocês pretendem levar a exposição a outros espaços?
Tatiana – Não está nos meus planos levá-la a outros espaços. Vou doar  para Grupo Iguais  da qual também fui uma das fundadoras e depois fazer outra exposição, mas com outro tema que se passe aqui em Cabo Frio.