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Forte deve continuar com faixa de areia menor no verão

Intensidade das últimas ressacas explica a situação, segundo especialistas 

30 outubro 2019 - 20h56
Forte deve continuar com faixa de areia menor no verão
Quem frequenta a Praia do Forte, em Cabo Frio, percebe a diferença. Desde que duas ressacas atingiram o litoral, em julho, a faixa de areia diminuiu visivelmente. Especialistas explicam que a demora em voltar ao normal ocorre, justamente, pela intensidade das últimas ressacas, que tiveram volume maior do que em anos anteriores. A previsão é de que a situação esteja melhor no verão, mas, provavelmente, ainda vai demorar alguns meses para voltar ao normal.
 
A diminuição da faixa de areia interfere diretamente na vida de quem trabalha na praia. A professora de educação física Michelle Gauté, que mantém um centro de treinamento de vôlei de praia a direção da Praça das Águas, precisou alterar o lugar dos treinos durante três meses. Ao voltar para a praia, teve que fazer adaptações.
 
– Com o avanço do mar, as barracas tiveram que ficar mais para cima e faltou espaço. Os barraqueiros são nossos colegas de trabalho, e eu não queria incomodar, já que podia ir para outro espaço. Ficamos três meses fora da praia. Agora que o mar recuou um pouco, conseguimos voltar, mas estamos funcionando com uma quadra apenas, normalmente são duas. A gente vai se organizando porque ficou bem difícil. O mar não quer descer. Acho impressionante, não me lembro de ver algo parecido há muito tempo – afirma a treinadora.
 
Quem também sente os impactos do avanço do mar no dia a dia é Abílio Araújo, que trabalha em um quiosque na direção do hotel Malibu, justamente o trecho mais impactado pelo avanço do mar, onde a faixa de areia ainda está bem estreita.
 
– Está um pouco difícil de trabalhar desse jeito porque fica muito tumultuado. O mar está subindo muito rápido e as vezes acontece de levar as bolsas dos turistas. Eles acabam sendo surpreendidos. Mas a gente corre atrás das coisas que o mar leva e ajuda a recuperar – conta Abílio.
O geógrafo Agenor Cunha da Silva, doutor em geologia costeira, explica que as variações na dimensão da faixa de areia estão associadas à intensidade dos processos costeiros, como foi o caso das ressacas de julho.
 
– Ventos, ondas e correntes mobilizam e remobilizam os sedimentos em escalas sazonais. Pode haver intensa retirada de areias em uma época e deposição em outras. Outros aspectos, como obras de urbanização, alterações no movimento das dunas causadas pelas construções, e alterações climáticas associadas a eventos extremos, também podem colaborar – afirma ele.
 
– A natureza procura estabilidade. Mas quando ocorrem fenômenos mais graves, a dinâmica costeira demora para se estabilizar e voltar ao patamar anterior – completa o oceanógrafo.
 
Profundo conhecedor da Praia do Forte, o biólogo Eduardo Pimenta prevê que a faixa de areia volte a crescer até o verão, exceto se houve ocorrência de novas ressacas. Mesmo assim, devido à intensidade dos fenômenos de julho, o mais provável, para ele, é que a praia demore alguns meses até voltar ao normal.
 
– A ressaca intensa acabou retirando parte da areia e levando para dentro do mar. Essa areia está acumulada entre 50 e 100 metros para dentro do leito marinho. Isso é comum no inverno, quando ocorre uma diminuição da faixa de areia, e, no verão, ocorre um acréscimo. Mas esse ano tivemos duas ressacas muito severas. Antes disso, somente em 2011 tivemos ressacas tão fortes – lembra ele. 
 
Pimenta afirma que a segunda ressaca interrompeu o processo de recuperação que já estava em curso, e atrasou a reposição da areia.
 
– Quando a natureza começou a repor a areia, veio a segunda ressaca e interrompeu esse processo. Por isso a demora desta vez. Agora, se não tiver outra ressaca nas mesmas proporções, o que é pouco provável, naturalmente a areia vai sendo reposta no seu local de origem. Estamos entrando em um período com o mar menos revolto. Acredito que no verão a faixa de areia já vai estar ampliada, mas não na proporção original. A faixa de areia deverá estar mais reduzida do que no verão passado – conclui Pimenta.