A Fonte do Itajuru, um dos principais patrimônios históricos de Cabo Frio, deverá passar por uma reformulação completa no próximo ano. Pelo menos é o que prevê José Facury, secretário de Cultura do município. Entre as propostas, restauração da guarita e novo projeto paisagístico.
– O Conselho de Patrimônio está atento aos marcos históricos de Cabo Frio. Temos um cronograma com uma série de locais que receberão atenção especial e, obviamente, a Fonte do Itajuru está inclusa. Provavelmente com recursos próprios – antecipou o secretário.
Segundo ele, alguns estudos para a restauração da guarita e um novo projeto paisagístico, que já vinham sendo desenvolvidos, contariam com o apoio de empresas de grande porte da região. No entanto, as parcerias não se concretizaram e as empresas que apoiariam o projeto desistiram.
– No momento nossos esforços estão sendo direcionados para a reforma do Solar dos Massa, que é o prédio que abriga a Biblioteca Municipal Professor Walter Nogueira. Estamos prestes a dar início a uma série de intervenções na Fazenda Campos Novos e, aí sim, poderemos nos dedicar a reformulação da Fonte, com verba municipal. Por isso, não poderemos antecipar as obras – detalhou Facury, observando que o local é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC).
Facury destacou, ainda, que o parque que compõe a Fonte do Itajuru será totalmente reformulado, mas ressaltou que todas as questões ambientais e históricas serão avaliadas e respeitadas.
– Por se tratar de um patrimônio tombado, temos que ter cuidado redobrado com os mínimos detalhes. Não podemos modificar as características históricas. Muito pelo contrário. Se pudermos restaurar as características originais, melhor ainda – explicou.
De acordo com o secretário, o projeto paisagístico vai contar com árvores nativas e todo tipo de vegetação característica da região.
– A Fonte do Itajuru irá ganhar uma cara nova, mas resgatando e valorizando características históricas – destacou.
Fonte: da história ao surgimento da cidade
Embora não haja documentação relativa ao século XVI com referência a Fonte de Itajuru, é muito provável que suas águas abastecessem o acampamento de pesca tupinambá, situado na Duna Boa Vista (entre outros locais de pesca indígena), além de fornecer água potável às fortalezas e embarcações européias que traficaram pau-brasil na região, entre 1503 e 1615.
No início do século XVII, atribuía à Anchieta a criação da fonte do Itajuru batendo com seu cajado nas secas areias da restinga. Em 1615 para se estabelecer o primeiro núcleo urbano da Cidade de Cabo Frio, no bairro da Passagem, foi levado em conta o problema de água potável na região, encontrado apenas na restinga nas águas correntes da fonte do Itajuru junto ao morro da Guia. Graças a excelente água potável de cor cobre das raízes da tatagiba da fonte do Itajuru, foi possível a colonização de Cabo Frio. Este manancial abasteceu a cidade até a metade do século XVII.
Em 1847 o Major Bellegard, por ordem do imperador D. Pedro II põe em prática projeto de reparo, apresentado e aprovado pela Câmara em 1833. Constrói em proteção a fonte uma guarita em pedra, com o teto revestido em decorados azulejos importados.
Na parte externa é colocada em argamassa a Coroa Imperial, que se mantém até hoje, apesar de um pouco desgastada pelo tempo. Em 1892 é construída, por ordem da Câmara, uma caixa d’água na encosta do morro da Guia e uma casa de máquina junto a fonte, onde a água é impulsionada por uma bomba até a caixa.
Quatro anos depois, o Dr. Adolpho Lindemberg se propõe a fazer as obras de encanamento das águas da fonte do Itajuru para o centro da cidade. A Câmara aceita com a condição de que as bicas sejam colocadas para maior comodidade do público, nos seguintes pontos: uma no largo de Santo Antonio, outra na travessa do Ribeiro, a terceira ao lado da cadeia (atual Rua Érico Coelho) e outra ao lado do prédio municipal, na Avenida Assunção.
Na época, as obras são contestadas pelo Procurador e Síndico da Ordem Terceira Benjamim Luiz de Santa Rosa. A Assembléia Municipal, então, comunica então ao Reverendo, que precisa do morro da Guia e parte de seus terrenos baixos, por onde devem passar as obras de abastecimento d’água sob motivo de utilidade pública.
Do abastecimento a atrativo turístico
Finalmente, no dia 29 de agosto de 1897, às cinco horas da tarde, teve lugar a inauguração das obras de canalização das águas do Itajuru. Em 1920 é colocado um motor a óleo cru, com força de cinco cavalos, juntamente com uma casa para o referido motor e mais maquinários.
Com o crescimento da cidade, a água do Itajuru passou a ser insuficiente para atender a todo o consumo. Vários poços foram perfurados nas residências, e a água passou a ser retirada com bombeamento manual para as caixas d’água. Com isso, a fonte do Itajurú foi caindo no abandono.
Em 1945 o Estado inicia para a captação do lençol freático do Braga, constrói a estação de tratamento e em 1951 inaugura o serviço de abastecimento de água. No início da década de 80, a Prefeitura Municipal de Cabo Frio compra de particulares a área da fonte do Itajurú, contrata o professor Adail Bento Costa para o serviço de restauração e cria em seu entorno o primeiro Parque Municipal de Cabo Frio.
Atualmente, a Fonte do Itajuru é um espaço aberto a visitações e nos seus jardins encontram-se árvores nativas como o pau-brasil e a guabiroba. A fonte está localizada na Avenida Júlia Kubitscheck, Centro, e fica aberta diariamente das 8h às 17h.