Nada de confetes, serpentinas e muito menos fantasia. A receita para salvar o Carnaval, segundo as entidades que o organizam, é pragmática: organização e parcerias. Representantes de blocos, escolas de samba, da Secretaria de Cultura e da iniciativa privada estiveram, na manhã de ontem, na sede da Folha debatendo os rumos do Carnaval em Cabo Frio. O encontro pode ser resumido – apesar de sua riqueza de ideias – na fala do secretário Ricardo Choppinho:
– Todos sabem que a Prefeitura não vai mais bancar a festa sozinha. Os blocos têm a recomendação de buscar dinheiro junto à iniciativa privada. Vamos dar todo o suporte para eles conseguirem fazer o Carnaval – disse.
Praticamente todas as questões levantadas durante as duas horas de conversa – que fazem parte da programação do Folha Debate – tinham um denominador comum: de onde virá o dinheiro para o Carnaval?
Há dois anos, por exemplo, o desfile das escolas de samba não acontece porque a subvenção da Prefeitura é a grande fonte de receita das agremiações; já os blocos foram proibidos de desfilar por questões de logística e, consequentemente, minguados.
Para Radamés Muniz, que é vice-presidente do Convention & Visitors Bureau de Cabo Frio, a resposta reside em parcerias mais sólidas entre os promotores da folia e o empresariado.
– O que há muitos anos vejo em Cabo Frio é que precisa de vontade para querer mudar. É sempre mais do mesmo. Precisamos entrar com o empresariado. O Carnaval de Friburgo tem penetração do empresariado. Aqui todos contribuem com as escolas. Hoje, estamos indo ao privado, o que deveríamos ter feito há 15 anos – afirma.
Radamés pontuou que, por outro lado, deve haver contrapartida do poder público, para o empresariado “não ficar sobrecarregado”. O representante das escolas, Felício Batista, no entanto, diz compreender o momento financeiro do município.
– Fazemos reuniões semanalmente e entendemos perfeitamente o momento financeiro que vive o município. Atendemos prontamente o pedido do prefeito e do secretário. O samba é parceiro do poder público e da classe de empresários. Nós (escolas de samba de Cabo Frio) chegamos num patamar muito bacana sem onerar o governo. E é para lá que pretendemos voltar da mesma maneira – comenta.
Saindo das escolas de samba e indo para os blocos, a proibição de trios elétricos e da montagem da Arena na Praia do Forte transfigurou o Carnaval de rua da cidade. Antes realizado na área central, nas avenidas, agora a folia mudou-se para o Costa Azul Iate Clube, na Arena dos Blocos, que reunirá nomes pirotécnicos como Thiaguinho, Ludmilla e Tuca Fernandes. Parao presidente do Sindicato dos Hotéis e Restaurantes, Carlos Cunha, uma boa iniciativa.
– O que nós queremos é o ordenamento da cidade. Parabenizo o secretário por não ter mais trio na orla e por não ter mais dinheiro público envolvido. Não faz sentido alguém criar um bloco, em que você vende ingressos e abadá, e pedir subvenção à Prefeitura. O dono recebe duas vezes. Tem que buscar patrocínio. Só que não podemos associar nossa marca a um produto de má qualidade. Não digo isso dos blocos, mas da maneira como o Carnaval é feito – explica.
Um dos organizadores da Arena dos Blocos, Marcelo Agualusa aposta que os problemas desse ano podem servir de trampolim para um novo moderlo de Carnaval – mais moderno, mais ordenado e sem dinheiro público.
– Esse é o segundo ano sem desfile e o primeiro sem trio na praia. Estamos num momento novo. Havia uma ação cível de moradores, a Prefeitura proibiu montar a Arena dos Blocos na Praia do Forte e então nós procuramos outro lugar. Alugamos o Costa Azul. Nossa expectativa é ajudar, nunca atrapalhar. Não queremos que a cidade sofra. Mas temos que ter o mínimo de apoio logístico para que a coisa funcione. Não adianta chegar na Gamboa e ver duzentos ambulantes na porta – analisa.