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Europa cabofriense no Caiçara

 Ruas batizadas com nomes de países no bairro revelam muitas curiosidades 

15 junho 2014 - 16h50Por Rodrigo Branco
Europa cabofriense no Caiçara

A Copa do Mundo, enfim, começou – e, com a chegada de aproximadamente 600 mil turistas em nossas terras, não é exagero dizer que o mundo está no Brasil. Mas, na Região dos Lagos, particularmente, já existe há muito tempo uma verdadeira Europa cabofriense. Em um pedacinho de poucas quadras no Jardim Caiçara e Parque Burle, em Cabo Frio, dá para transitar da Rua França à Rua Inglaterra em poucos minutos, isso sem nenhum Canal do Mancha pelo caminho. Ou bater um papo despreocupado na improvável fronteira, ou melhor, esquina das ruas Espanha e Alemanha.

Brincadeiras à parte, na curiosa geografia da Europa cabofriense, é possível ‘viajar’ milhares de quilômetros quase sem sair do lugar, ainda que o calorento outono tropical em nada se assemelhe à primavera temperada do Hemisfério Norte, que nesta época registra em torno de 15ºC. Ainda assim, os modestos, porém simpáticos, bairros têm mais semelhanças com o Velho Continente do que se pode imaginar inicialmente.

No final da Rua França, por exemplo, um pequeno ateliê pa-ra reparo de roupas, o ‘Ponto por Ponto’, não tem a sofisticação dos grandes polos da alta costura, nem das famosas‘maisons’ de ícones como Yves Saint Laurent ou Coco Chanel, mas, entre um serviço de conserto de zíper ou de aperto de cintura de calça, surgem belas peças originais, como bolsas e vestidos sob medida.

A proprietária e ‘costureira de mão cheia’(dizem as amigas), Gislene Amélia dos Santos, 50, abriu o negócio há seis anos, com o dinheiro acumulado no período em que morou e trabalhou em uma importadora na Holanda, de 1992 a 1999. Por conta da frieza, do povo e do clima, ela garante que não volta.

– Dinheiro nenhum me tira do Brasil – garante.

Postura sisuda comumente associada aos ingleses, mas que na ‘Terra da Rainha’da Região dos Lagos passa longe. Formalidade e chá das cinco, então, nem pensar. No Lulas Bar, na Rua Inglaterra, vale mais a cervejinha estupidamente gelada e o tira-gosto na hora do almoço. Segundo o dono, o sergipano José Agostinho Moreira, o ‘seu Lula’, 71, na cidade desde 1968, volta e meia acontece a farra genuinamente à brasileira:

– Cada um traz uma coisa e a gente faz as nossas ‘paneladas’.

Apetite aberto, uma das principais opções é pedir uma ‘quentinha’ na ‘Novo Sabor’, no começo da Rua Espanha. Frustra-se quem espera pratos e iguarias da gastronomia mediterrânea, como a ‘paella valenciana’. O prato do dia, garante Sandra Valéria, 50, é a típica comida caseira.

– Hoje no cardápio vai ter costela com agrião – anuncia.

Em função da grande concorrência, a ex-cabeleireira comemora o fato de ter aberto o próprio negócio, agora em outro ramo. Enquanto isso, na ‘Suíça’, Rafaela Moura segue firme e forte com o salão ‘La Femme’. Os Alpes e a neve  fazem parte dos seus sonhos, mas um intérprete deverá ser providenciado, apesar do nome do estabelecimento. “Não falo nada a em francês”, ela admite.