O Governo do Estado do Rio de Janeiro enviou, nesta terça-feira (7), um ofício circular urgente a todos os secretários municipais de Saúde. O documento, que a Folha teve acesso, estabelece novas orientações para o manejo de casos suspeitos de intoxicação por metanol em todo o estado. Assinado pelo Subsecretário de Vigilância e Atenção Primária à Saúde, Mário Sérgio Ribeiro, o ofício reforça o alerta de saúde pública após a notificação de novos casos suspeitos, entre eles um em Cabo Frio e outro em São Pedro da Aldeia. Até a tarde desta quinta-feira (9), o painel “Monitora RJ” informava ainda a existência de outros dois casos suspeitos (um em Cantagalo e outro em Volta Redonda), um descartado (Niterói) e nenhum confirmado no Estado do Rio de Janeiro
Anexo ao ofício, os secretários municipais receberam a Nota Informativa nº 02/2025, que detalha o novo protocolo a ser seguido por hospitais e unidades de saúde. O material define o que caracteriza um caso suspeito de intoxicação por metanol, e cita como exemplo um paciente que apresente persistência ou piora dos sintomas entre 6h e 72 horas após a ingestão de bebida alcoólica. O documento reforça que os profissionais de saúde devem estar atentos a sintomas gastrointestinais (náuseas, vômitos, dor abdominal) e do sistema nervoso central (cefaleia de forte intensidade, confusão, vertigem), e enfatiza a atenção a sinais visuais, como amaurose (perda total ou parcial da visão), borramento visual e midríase (pupilas dilatadas).
Diante de um quadro suspeito, o novo protocolo proíbe expressamente algumas práticas, como a realização de descontaminação gástrica e o uso de carvão ativado na abordagem inicial. Em vez disso, a Subsecretaria de Vigilância e Atenção Primária à Saúde determina que o foco deve ser o suporte avançado de vida, a monitorização contínua de sinais vitais, avaliação neurológica e oftalmológica. Para pacientes que necessitem de suporte assistencial especializado, o governo do Estado informa que a referência de atendimento emergencial é o Hospital Estadual Anchieta (HEAN), no bairro do Caju, no Rio de Janeiro. A solicitação de transferência de pacientes graves deve ser feita por meio da Central Estadual de Regulação.
Também foram anunciadas novas normas de fluxo laboratorial para confirmar a contaminação por metanol, e para a liberação do antídoto de combate à intoxicação. Na segunda-feira (6) a Secretaria de Saúde do Estado anunciou a chegada da primeira remessa de etanol farmacêutico, enviada pelo Ministério da Saúde diante do registro de casos suspeitos.
PACIENTES DA REGIÃO SEGUEM SENDO MONITORADOS
Na tarde desta quarta-feira (8), a Secretaria de Saúde de Cabo Frio informou que o paciente internado com suspeita de intoxicação por metanol segue sendo monitorado e já apresenta melhora significativa. Jonas Miranda Melo Júnior, de 23 anos, é morador do distrito de Unamar, e teria passado mal na última segunda-feira (6), depois de ter consumido bebida alcoólica em um show em Barra de São João, no domingo (5). O primeiro socorro foi feito na UPA de Tamoios. Agora ele segue internado no Hospital São José Operário, no bairro de São Cristóvão, em Cabo Frio. Segundo informações, o rapaz está consciente, e já consegue se comunicar e se alimentar. A Secretaria de Saúde também informou que já enviou para análise os materiais colhidos de acordo com a nova Norma Informativa.
Em São Pedro o paciente internado com suspeita de intoxicação por metanol é um homem de 37 anos que estava na cidade a trabalho. Ele deu entrada no Pronto Socorro aldeense na última sexta-feira (3), e apresentava dor abdominal e desorientação após ingestão de bebida alcoólica. Os sintomas aparecerem cerca de 12 horas após consumir a bebida. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde aldeense, os sintomas iniciais eram compatíveis tanto com intoxicação por álcool comum quanto por metanol. Na ocasião, o município informou que o paciente recebeu atendimento imediato, incluindo hemodiálise (para remover substâncias tóxicas do organismo). O exame laboratorial, que vai confirmar ou descartar a presença de metanol, já foi realizado, e o resultado está previsto para o dia 18 de outubro.
Embora nenhum dos casos suspeitos tenham sido motivados por consumo de bebida alcoólica em Cabo Frio, a Prefeitura informou que está intensificando a fiscalização em toda a cidade. Somente no último fim de semana, durante a Parada LGBTI+ na Praia do Forte, 14 garrafas de bebidas alcoólicas falsificadas foram apreendidas. Os produtos estavam sendo comercializados em barracas montadas na orla. Os barraqueiros responsáveis foram notificados. O material recolhido foi encaminhado para análise.