Sônia Portugal, diretora do Museu Charitas José de Dome, em Cabo Frio, desculpou-se na terça-feira (16) publicamente com os homossexuais por ter autorizado que virassem ao contrário as fotografias sobre os dez anos da Parada Gay em exposição no espaço cultural. Sônia tomou a iniciativa depois que os integrantes do movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) resolveram protestar contra o que eles consideraram como sendo uma atitude homofóbica por parte da direção do museu.
O secretário municipal de Cultura, José Facury Heluy, também acompanhou o ato em frente ao museu e também se desculpou pelo ocorrido. Mais cedo, Facury havia divulgado uma nota oficial pela rede social facebook informando que Sônia Portugal havia se responsabilizado por ter virado três fotos, mas que a diretora não se sentia responsável por haver escondido as demais fotografias. O caso veio a público na última sexta-feira quando integrantes do movimento LGBT, indignados, começaram a divulgar nas redes sociais que as fotografias das últimas edições da Parada Gay de Cabo Frio estavam expostas no museu pelo lado oposto. Em entrevista à Folha dos Lagos, Sônia afirmou que não sabia quem teria escondido as fotos. Ontem, porém, ela reconheceu que autorizou que um funcionário virasse apenas duas fotos.
– Eu estava em casa. Um funcionário (não quis dizer o nome) me ligou e me pediu autorização para virar duas fotos, pois o museu estava recebendo uma turma de crianças e ele achava que elas não deveriam ver algumas fotos mais ousadas. Autorizei, mas disse que depois que as crianças fossem embora que as fotografias deveriam voltar ao seu estado anterior – relatou.
A diretora não soube dizer, no entanto, quem teria virado todas as fotografias. Sônia atribui o ocorrido a alguém que não faz parte do quadro de funcionários do museu e que teria mexido nas fotos sem que ninguém percebesse. Antes de desculpar-se publicamente, Sônia fez questão de frisar que não é homofóbica.
– Não sou homofóbica e respeito à opção sexual de qualquer pessoa. Inclusive, tenho pessoas em minha família que são homossexuais – defendeu-se.
O secretário Facury lamentou o que ocorreu no museu. Segundo ele, o fato pode ter sido uma consequência da falta de regulamentação dos espaços culturais na cidade. Facury salientou que está há mais de seis meses trabalhando nessa regulamentação e que as normas serão publicadas nos próximos dias. Ele adiantou, no entanto, que o museu requer um tempo maior para que essas mudanças sejam implantadas.
– O Museu José de Dome é um caso a parte, pois, além de regularmos como ele deverá seu utilizado publicamente, requer a contratação de profissionais específicos como um museólogo e um antropólogo – explicou Facury, que foi aplaudido logo após se explicar e desculpar-se com os homossexuais.
Cerca de 30 pessoas participaram do protesto em frente ao museu. Eles chegaram cedo ao local e de imediato estenderam sobre a velha escadaria a bandeira que representa o arco-íris, símbolo do movimento gay no mundo. Eles seguravam cartazes com frases de repúdio á discriminação contra os homossexuais. Algumas das mensagens diziam: “Deus é meu pastor e Ele sabe que sou gay”; “Sou gay, sou cristão”; “Basta de homofobia”; “Sua religião não é nossa lei”.
– Fiquei triste com tudo o que aconteceu. Foi uma medida homofóbica. Mas agora está tudo bem. Aceitamos as desculpas do secretário Facury e da diretora do museu – disse a fotógrafa Tatiana Grynberg, logo após o fim do protesto.
Rodolpho Campbell, presidente do Grupo Iguais e um dos organizadores do protesto, também aceitou a retratação, mas reivindicou ao secretário que os funcionários do museu passassem por um curso de capacitação e assim estar mais preparados para lidar com as atividades do espaço cultural.
– O secretário disse que atenderá ao nosso pedido – disse.
Outros integrantes do movimento LGBT também se diziam satisfeitos com as explicações dadas pelos diretores do museu e o secretário de Cultura, mas fizeram questão de exigir respeito aos seus direitos.
– Achei isso uma palhaçada. Foi um ato de desrespeito à arte – disse a travesti e cabeleireira Amanda Gues, que, ao fim do protesto, posou para fotografia com a diretora do museu. Mariana Silva santos, de 21, foi a primeira chegar ao encontro em frente ao museu. Ela também expôs sua indignação, segurando um dos cartazes de protesto.
– Somos um estado laico. Temos a liberdade de nos expressarmos como desejamos – defendeu.