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Celebração

Dia dos Pais: famílias LGBTIs compartilham experiências sobre a paternidade

Histórias relatam dificuldades e conquistas

09 agosto 2020 - 16h55Por Carolina Perez / Portal RJ
Dia dos Pais: famílias LGBTIs compartilham experiências sobre a paternidade

No segundo domingo de agosto é celebrado, tradicionalmente, o Dia dos Pais. Para marcar a data, neste dia 9, o Portal RJ conversou com algumas famílias LGBTI que vivenciam diariamente a experiência da paternidade. Uma destas histórias é a do morador de São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos, Ygor Hypolito de Castro, pai de João Vincenzo Castro Balman, de 3 anos. Ygor é um homem trans – nasceu mulher, mas fez a transição para homem. Ainda assim, manteve o corpo com os órgãos femininos, o que permitiu que ele gerasse uma criança.

- Aos 18 anos, me descobri lésbica. Na verdade, queria ter barba, mas não sabia que existia o termo trans. Em 2014, embora ainda não me aceitasse, comecei minha transição para homem. Foi um processo longo e complexo porque queria ter um filho. Em 2015, fiz uma inseminação artificial e engravidei. Não vou dizer que foi um período fácil porque vi meu corpo ficar totalmente feminino, o que me deixava triste – contou Ygor, que tem 29 anos, é formado em técnico em enfermagem, musicoterapia e, atualmente, cursa faculdade de biomedicina.

Em setembro de 2016, nasceu João Vincenzo e, mesmo sendo a pessoa que gerou a criança, Ygor se considera pai.

- Mesmo durante a gravidez, minha aparência era masculina e eu usava, por exemplo, cabelos curtos. Não deixei de fazer nada que uma genitora faz: amamentei e cuidei do meu filho. Mas, digo que sou pai do João. Ele me chama assim e é uma coisa natural entre nós dois. Sou pai solteiro – disse ele.

Atendimento psicológico no Centro de Cidadania LGBTI

Durante o período de lactação, Ygor precisou deixar de tomar os hormônios que ajudam na questão da masculinidade (produção de pelos, barba, entre outros) para não afetar o bebê. O jovem buscou ajuda no Centro de Cidadania LGBTI de Arraial do Cabo (Baixada Litorânea), equipamento administrado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos (SEDSODH), por meio do programa Rio Sem Homofobia.

- Busquei atendimento psicológico no Centro LGBTI. Me ajudou bastante, principalmente a diminuir minha ansiedade. Estava bem mal e o apoio foi ótimo – disse Ygor, completando:

- Meu filho tem o diagnóstico do transtorno do espectro autista e eu sou a referência dele de vida. Ele me vê estudando, dando aula de música e diz que quer fazer igual. Quando ele crescer, vou contar a nossa história porque é minha obrigação como pai. Muitas pessoas não sabem que sou trans, mas minha identidade é Ygor. Sempre me senti homem – finalizou Ygor.

Pai e avô

Outra experiência é a do Marcos da Costa Lopes, de 53 anos. Em 1998, ele se assumiu homossexual após terminar um casamento onde teve três filhos – Átila, Aline e Amanda. Em 2001, Marcos conheceu o atual companheiro e, dois anos depois, o filho mais velho dele foi morar com eles. Uma nova família ali se formava.

- Me casei aos 22 anos e fui pai pela primeira vez aos 23. Decidi assumir minha orientação sexual perante minha família. O relacionamento com os meus filhos não mudou em nada. Dois anos após eu e meu companheiro morarmos juntos, o Átila se mudou e veio ficar conosco. Ele só saiu de casa quando foi construir a família dele. Embora as meninas tenham ficado morando com a mãe delas, nossa relação também sempre foi muito positiva – contou Marcos.

Átila tinha 13 anos quando saiu da casa da mãe e foi morar com o pai e o companheiro dele. Durante boa parte da adolescência, pai e filho tiveram que conviver com alguns questionamentos, até mesmo da própria família.

- Eu me recordo de alguns episódios quando, por exemplo, ele estava jogando bola na rua e os amigos o perguntaram se o pai dele era “viadinho”. Esse, infelizmente, foi o termo usado. Ele disse para perguntarem diretamente a mim. Sempre disse que minha orientação sexual é minha e que meus filhos têm as deles. Já ouvi também perguntas de membros da família indagando como seria criar um filho com a minha condição. Sempre respondi que era da mesma forma, nada mudou. Sou um pai presente e o que importa que é meus filhos são pessoas de caráter e honestas – disse.

União estável através do Rio Sem Homofobia

Foi através de uma ação promovida pelo Rio Sem Homofobia que Marcos e o marido Josué realizaram a união estável. A ação do Governo do Estado foi a primeira a acontecer no âmbito público, em 2011, no Rio de Janeiro. Em 2013, veio a conversão para o casamento civil após a histórica decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

- Fomos o primeiro casal de Duque de Caxias a se casar oficialmente. Isso significou a liberdade de poder ter os mesmos direitos que um casal heterossexual tem. Minha família sempre esteve presente neste e em outros momentos, como dia dos pais, natal e aniversários – comentou Marcos, lembrando:

- Agora, vieram os netos: tenho três. O mais velho já até contou a minha história na escola dele porque, uma vez, houve um teatro sobre família. Normalmente, falam que é constituída de mãe, pai e filho. No nosso caso, é pai e pai, né? E, meu neto ainda questionou, afirmando que o avô dele e o padrinho dele eram casados e que isso também é família – afirmou Marcos ao explicar que marido se aproximou tanto do filho mais velho dele que batizou o filho de Átila.