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ESPECIAL

Depois do horror, Canil Municipal de Cabo Frio começa a ser recuperado

Melhorias no local estão sendo feitas em regime de mutirão por funcionários e voluntários

30 janeiro 2021 - 10h30Por Rodrigo Branco

Serelepe e bem disposta, a cadelinha preta que recebe a reportagem com simpatia nem lembra o animal abatido e cheio de feridas de pouco mais de vinte dias atrás. Não à toa, foi batizada de Esperança, misto de nome e sentimento, que encontra terreno fértil no coração dos integrantes da equipe do Canil Municipal de Cabo Frio. O local, que fica na área da Fazenda Campos Novos, no Segundo Distrito, passa por um processo de reestruturação, agora sob a direção da protetora Maria do Carmo Dutra, conhecida como Carminha.

Na primeira semana do ano, o Canil estampou manchetes na imprensa depois que vieram à tona denúncias de maus tratos aos quais os animais vinham sendo submetidos. Chocada, a população tomou conhecimento das condições de insalubridade que havia dentro das baias de cães e gatos e das demais instalações, que mais se assemelhavam a um cenário de um filme de terror, onde ratos transitavam entre os potes de ração e as carcaças de animais mortos. 

– No dia 1º de janeiro, viemos fazer uma faxina, e eu nunca tinha visto tanta tristeza na minha vida. Isso aqui cheirava a morte e a tudo de ruim. Eu não sabia que os animais eram olhados daquela forma. Agora, a minha equipe e a da Secretaria de Agricultura estamos tentando fazer um trabalho diferente, dando amor para esses animais. Quando a gente chega, eles já gritam de felicidade – descreve Carminha, que há 30 anos atua como protetora.

A administradora Carminha posa com a cadelinha Esperança, mascote e símbolo da transformação no Canil (Rodrigo Branco)

Tamanho desafio somente pode ser vencido com a ajuda de muitos braços, oficiais e voluntários, alguns conhecidos ativistas da causa animal na cidade, como a protetora Margarida Aureliano. O mato que, ultrapassava a altura de um metro, foi aparado. Dada a falta de condições mínimas de higiene, o local passou por uma ampla faxina e foi dedetizado. 

Em regime de mutirão, pequenos reparos em portas, janelas e maçanetas foram feitos. A parte externa do Canil também passa por uma pintura. O trabalho está a cargo do senhor Natanael, um apaixonado por bichos, que contou para a Folha que cuida de 16 cachorros em casa.

Ainda sem recursos específicos destinados para a manutenção do espaço, as melhorias dependem dos esforços da equipe e da comunidade, como explica Luciene Lima, titular da Secretaria de Agricultura e Pesca, pasta à qual o Canil é vinculado. 

– Nós compramos a tinta, ele é pintor, e está pintando a parte externa do Canil para a gente. Então, isso você é ser cidadão, é ter parceria. Tem algumas pessoas que estão doando ração, o que é muito importante no início de governo, e medicamentos. Muitas das coisas que a gente fez aqui, eu mesma fiz com o dinheiro do próprio bolso porque vejo a melhoria para os animais. Faço como cidadã para o município – diz Luciene.

Na parte de recursos humanos, a secretária destaca a chegada de um veterinário e de uma assistente para avaliar a condição clínica dos animais e tratá-los, uma vez que muitos apresentavam sinais de desnutrição, bem como doenças cutâneas e cinomose [doença infectocontagiosa que afeta os cães]. No momento, o profissional trabalha na classificação dos cães e gatos para que, em breve, as feiras de adoção sejam retomadas.

Secretária de Agricultura, Luciene Lima, diz que local passou por limpeza completa (Rodrigo Branco)

Enquanto isso não ocorre, a preocupação de Luciene é com o abandono de animais no local, que hoje tem 90 cães e 20 felinos no gatil, que fica ao lado da casa principal. Somente na semana passada, ela relata, um homem deixou oito filhotes de cachorro.
Não há superlotação, principalmente por causa da abertura das baias externas, mas a administração fez a separação dos bichos por temperamento.

Mesmo assim, a secretária pede a compreensão da população neste momento.

– Tenho recebido muitas ligações de pessoas que querem deixar os animais. Tive a experiência de uma senhora, dez dias atrás, que simplesmente veio aqui e deixou o animal. Não tem consciência. Se a pessoa mora de aluguel, não sabe se vai ficar permanentemente, não pegue o animal para depois deixá-lo descartável. Eu, por exemplo, não sou protetora, mas sou criadora. Tenho três cachorros em casa. E, para mim, eles são como filhos. Se não tem amor, não pegue. Para que eles não venham parar nessa situação – apela. 

(*) Veja como está a ação do Ministério Público que apura a denúncia de maus tratos no Canil, na edição impressa semanal, que está nas bancas.