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exposição

De Reinaldinho para Caó

Pintor faz exposição "Carne seca com abóbora" no Resta

15 junho 2015 - 14h49
De Reinaldinho para Caó

GABRIEL TINOCO

Reinaldinho morava na rua e juntava papelão para escapar do frio. Ainda menino, os pais arrancaram o seu bem mais pre­cioso: a guarda da avó. A casa caiu para o jovem artista desde então: desiludido, ele sobrevi­via entre bicos nos restaurantes da Orla da Praia do Forte. Res­tava-lhe a arte para trazer a vi­tória que a vida até então tinha lhe negado. Até que certo dia, através de um amigo, Reinaldi­nho conheceu nada mais nada menos do que Carlos Scliar, que profetizou: “mude a sua assina­tura, ela deve ser mais discre­ta.” O conselho caiu como uma luva para o pintor. Reinaldinho hoje assina como Reinaldo Caó – uma abreviação de Carlos Oli­veira. Eles são a mesma pessoa. A única diferença, no entanto, é que Reinaldo Caó faz expo­sições nos prédios que outrora Reinaldinho dormia em frente.

– Lavava copos e descascava cebolas e batatas nos restauran­tes da Praia do Forte. Quando meus pais me tiraram da guar­da da minha vó, meu mundo desabou. Fiquei sem chão. Não quer dizer que meus pais sejam ruins, mas era criança e estava acostumado com ela – conta ele, emocionado.

O conselho, paterno, fazia analogia com uma partida de fu­tebol. Na ocasião, foi anunciada a substituição: Reinaldinho saiu para Reinaldo Caó entrar em campo. A previsão de Scliar mu­dou completamente o jogo.

– Ainda me aconselhou a mu­dar a assinatura. O Carlos Scliar dizia: a assinatura é como um juiz num jogo de futebol, não deve aparecer tanto. Quem deve aparecer em campo é o jogador. Segui o conselho e consegui me destacar – relembra Caó.

Sempre muito tímido, Reinal­dinho enxergou na pintura uma maneira de expressar o que a sua gagueira não deixava dizer. Aos 11 anos já desenhava como um hobby, uma fuga de escapar – ou trazer – a dura realidade.

– Meus amigos me sacane­avam porque era gago. Então, com vergonha de falar, sempre pintava quadros e desenhava como maneira de me libertar. Era uma forma que tinha de sol­tar a voz. A arte, sem sombra de dúvidas, fez de mim uma pessoa melhor.

Mas o encontro com Carlos Scliar, que tem uma estátua e uma casa de cultura em sua ho­menagem no Bulevar Canal, não foi dos mais animadores.

– Não sabia nem quem era Carlos Scliar. Um amigo me apresentou a ele no ano de 1987. Ele avaliou minha arte e disse que não havia técnica nenhuma, mas que isso viria com o tempo.

E com essa história de supera­ção e talento que Reinaldo Caó apresenta a exposição ‘Carne Seca Com Abóbora’. O evento acontecerá no Restaurante Pica­nha na Tábua, no Centro, no pró­ximo dia 25, às 19h30. A ideia de pintar os alimentos surgiu com uma festa intimista na casa onde atualmente vive, no Tanga­rá. Reinaldo convidou casais de amigos não só para apreciar os quadros, mas também os sabo­rosos pratos feitos, é claro, com carne seca e abóbora.

– Tudo começou de uma ma­neira natural. Convidei 30 casais para ir lá em casa degustar dos pratos e apreciar as obras de arte. Foi unir o útil ao agradá­vel. Nesse segundo evento, vou trazer 12 telas sobre carne seca com abóbora e alguns trabalhos sobre a cidade. As telas dos pra­tos têm muito o olhar do pintor, a textura da abóbora. Tenho tam­bém muitos quadros com pontos turísticos de maneira geral como o Anjo Caído, o Forte de São Mateus, a Passagem... Enfim, vai ser um trabalho com ótimos pratos – completa.