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Missionário da fé nigeriano conquista fiéis em São Cristóvão

Elias Udeh condena intolerância religiosa e diz: 'Deus é amor'

21 maio 2014 - 11h56Por Rodrigo Branco
Um missionário africano em Cabo Frio. Enquanto o mundo acompanha apreensivo o drama das 273 adolescentes raptadas de uma escola no norte da Nigéria pelo grupo extremista islâmico Boko Haram, do lado americano do Oceano Atlântico, um religioso de voz mansa e fala pausada, ainda dificultada pela pouca intimidade com o idioma português, leva aos seus fiéis uma mensagem de amor e tolerância.
O sacerdote nigeriano Elias Udeh, ou simplesmente padre Elias, 37, desde agosto de 2013, celebra missas e atende a comunidade da Paróquia de São Cristóvão, a 6.298 Km de distância de Enugu, sua cidade natal, que fica no sudeste do país. 
Incomodado, ele prefere não falar sobre política, sobretudo  a respeito da situação que envolve as jovens sequestradas, mas condena a intolerância religiosa, que ganha corpo no mundo e no Brasil. Na última semana, por exemplo, um juiz federal do Rio de Janeiro proferiu sentença na qual define que cultos de matriz africana, como a umbanda e o candomblé não seriam religiões.
– Independentemente do que cada um de nós entende como religião, tudo tem raiz em Deus.  Deus quer só amor, isso é simples. Acho que todas as religiões precisam mostrar amor. Elas podem ter nomes diferentes, mas se não chegar ao mesmo lugar, se não chegar a Deus, que é amor, está errado – ensina. 
Ordenado padre ainda na África, em 2012, ele comenta, com certa timidez, que já está ambientado na cidade e se sentiu bem acolhido pelos fiéis desde que chegou à paróquia, há nove meses. Na sua opinião, brasileiros e africanos têm mais semelhanças do que se imagina.
– O povo brasileiro é muito religioso. Nas diferentes paróquias que eu já visitei, o povo sabe o que a Igreja quer e o que Deus quer que façamos. Também gosto da hospitalidade e da sociabilidade. Fico tranquilo aqui, não tem problema. Brasileiros e nigerianos são muito parecidos – compara.
Em tempos de Copa de Mundo, que vai contar com a  presença da seleção nigeriana, o pároco admite que gosta de futebol, acompanha jogos pela tevê, mas que ainda não torce por qualquer clube brasileiro. Sobre as possibilidades das ‘Super-Águias’ no Mundial que se aproxima, a resposta se ampara, é claro, na fé.
–Futebol é para criar felicidade entre o povo. Continuo a rezar por diferentes times (risos). Acho que eles (jogadores nigerianos) vão se esforçar e se Deus quiser vão ganhar – torce.
Sequestro – No último dia 15 de abril, o grupo extremista islâmico Boko Haram sequestrou 273 meninas, de uma escola na vila de Chibok, no norte da Nigéria, para trocar por prisioneiros rebeldes, fato que tem causado  consternação na comunidade internacional. 
O caso ganhou grande repercussão nas últimas semanas e estimulou o repúdio de diversos países europeus e africanos, que declararam guerra aos terroristas. O paradeiro das adolescentes ainda é ignorado.