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CPI da Alerj apura 16 mortes no Hospital da Mulher

Deputados fizeram vistoria na unidade e pediram acesso aos prontuários de pacientes que morreram

02 abril 2019 - 08h46
CPI da Alerj apura 16 mortes no Hospital da Mulher

TOMÁS BAGGIO

 

Dezesseis. Esse é o número oficial de mortes no Hospital da Mulher de Cabo Frio desde o início deste ano. Foram dez em janeiro, uma em fevereiro e cinco em março. Os números foram detalhados ontem durante a vistoria de deputados estaduais que compõem a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Hospital da Mulher na Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj).

A visita foi comandada pela deputada Renata Souza (PSOL), que preside a CPI na Alerj, e contou com a presença de mais dois deputados que também integram a CPI e que possuem domicílio eleitoral em Cabo Frio: Mauro Bernardo (PROS) e Serginho Azevedo (PSL). Os vereadores Ricardo Martins (SDD) e Letícia Jotta (PSC), que integram uma outra CPI formada na Câmara Municipal para apurar as mesmas mortes no Hospital da Mulher, também estiveram presentes.

Hoje, o diretor médico do Hospital da Mulher, Paul Dreyer, e a diretora administrativa, Lívia Natividade, são aguardados na Alerj, onde irão prestar depoimento para a CPI.

– Estamos requerendo os prontuários desses bebês que vieram a óbito. Queremos saber em que circunstâncias isso ocorreu. Agora teremos esse passo muito importante, que será a oitiva dos diretores. Esperamos que eles estejam com todos os documentos que solicitamos. Posteriormente vamos chamar também o secretário de Saúde e o prefeito – disse a deputada Renata Souza, presidente da CPI na Alerj.

Ao saírem da vistoria, os deputados Serginho e Mauro Bernardo fizeram críticas. De acordo com Serginho, a diretora administrativa do hospital teria dito que a investigação estaria atrapalhando o trabalho na unidade de saúde.

– A diretoria se coloca como se vivesse um mar de rosas na saúde de Cabo Frio. Inclusive questionei o que poderia mudar, o que ela (Livia) acha que poderia melhorar, e ela disse que ‘o que poderia melhorar é vocês pararem de me atrapalhar a trabalhar’. Inclusive colocam a culpa (das mortes) nos próprios cidadãos, que não teriam tomado as devidas prevenções, enquanto a gente sabe que isso é responsabilidade da Prefeitura. É uma coisa estarrecedora. Vamos fazer uma analise técnica, confrontar os depoimentos com os documentos e apresentar sugestões de melhorias – declarou Serginho.

– Agora eu vou falar o português claro. Não tem nada nesse hospital, acabamos de ver agora. A diretora falou uma porção de palavras bonitas, eu fiquei até satisfeito. Aí chega ali tem dez pessoas esperando neném, passando mal e não vem um médico. É como se estivesse na rua, sentadas ali no banco sem ninguém fazer nada. Não gostei. Se nem no dia que vem um monte de deputados, imprensa, todo mundo, as pessoas estão jogadas assim, imagina nos outros dias que não têm uma fiscalização – completou Bernardo.

A diretora administrativa do hospital, Lívia Natividade, conversou com a reportagem da Folha após a vistoria e apresentou seu ponto de vista.
– Foi ótima (a vistoria). A deputada está fazendo o papel dela, não acho que está prejudicando em nada. O que eu falo é que nós estamos na lei da transparência. O hospital pode ser visitado a qualquer momento. Não precisa ter uma CPI para que venham visitar o hospital. Foi nesse intuito. Se tivessem visitado na primeira denúncia, acho que não haveria necessidade da CPI. Mas se eles veem essa necessidade, não vejo problema nenhum – afirmou ela.

Questionada sobre como avalia a qualidade do serviço prestado pelo hospital, Livia disse que “não tem como medir isso”.

– Sempre pode melhorar. Hoje o que eu digo é que esta melhor do que quando nos assumimos a gestão. Não tem como medir isso. É melhor perguntar para os pacientes. A CPI vai apurar isso. Então deixa eles apurarem. Essa pergunta vai ser respondida pelo resultado da CPI. Eles estão avaliando o nosso trabalho – declarou ainda a diretora.

Crise começou em janeiro – A crise no Hospital da Mulher quando uma série de mortes veio à tona no dia 19 de janeiro. Após uma família conceder entrevista alegando que houve demora e negligência no atendimento, o Hospital da Mulher divulgou uma nota dizendo que “os recentes óbitos de nascituros entre o dia 1º de janeiro de 2019 até a presente data ocorreram por diversos fatores: ausência de pré-natal, doenças sexualmente transmissíveis contraídas pelas genitoras e o consumo de substâncias entorpecentes”.

Pegou mal. No dia seguinte, a mesma família que havia concedido a entrevista voltou a falar.

– Não concordo com isso. A gente não usa droga, não tem doença transmissível, nada disso. Fizemos o pré-natal todo certinho, foram sete consultas e estava tudo bem com o bebê. A gente se sente mal por passar por tudo isso e ainda estarem acusando a gente – disse Anderson Rodrigues, que perdeu o filho Thiago após a mulher dele, Gilmara Rocha, ter ficado internada por três dias no Hospital da Mulher.

Dois dias depois, o secretário de Saúde se reuniu com vereadores e anunciou uma auditoria no Hospital da Mulher. O resultado não foi divulgado até hoje. Na sequência, a Câmara Municipal e a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) abriram Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) para apurar as mortes. Os relatórios das duas CPIs estão em andamento.

Outro caso que ganhou repercussão negativa foi a morte da menina Gabrielle Biral, de 12 anos, no dia 4 de março. A doença foi detectada em exame realizado em Cabo Frio, mas, segundo a família de Gabrielle, a equipe médica do Hospital da Mulher teria dito que o exame havia dado negativo, chegando a informar que Gabrielle tinha apenas enxaqueca forte.

– Tudo que aconteceu foi um grande absurdo. Se tivessem tratado a meningite desde o começo ela estaria aqui com a gente. Foi uma negligência muito grande – afirmou Giselle Biral, irmã de Gabrielle, em entrevista à Folha.

A Prefeitura respondeu que ela foi tratada adequadamente para meningite.