As críticas feitas pela população de Cabo Frio às deficiências da rede pública municipal de saúde encontraram eco no Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj). A entidade anunciou ontem que vai denunciar a situação ao Ministério Público, depois de ter percorrido, em fevereiro, várias unidades como o Hospital Municipal da Mulher, no Braga; o Hospital Central de Emergência (HCE), em São Cristóvão e no Hospital São José Operário (HSJO), no mesmo bairro.
Segundo o Cremerj, entre os principais problemas foi constatado déficit de profissionais, vínculos empregatícios precários, falta de equipamentos e materiais, problemas estruturais, erros na identificação de pacientes e dificuldade na transferência de doentes. O fechamento da Unidade de Pronto Atendimento do Parque Burle, em dezembro, também é visto com preocupação pela diretoria do conselho.
– É preocupante porque, além das fiscalizações, temos recebido denúncias de condições de trabalho inadequadas e de sucateamento das unidades. Tudo isso afeta o atendimento à população. A situação piorou ainda mais depois que uma das UPAs no município foi desativada – afirma o vice-presidente Nelson Nahon.
As dificuldades no setor vem de longa data, o que motivou pelo menos quatro trocas no comando da secretaria e tem sido assunto de várias reportagens da Folha nos últimos meses. No fim de fevereiro, por exemplo, a reportagem constatou a demora no atendimento no HCE, em função da insuficiência de profissionais. Na ocasião, a direção admitiu que a equipe tem que dividir entre o atendimento e outras atividades. Em outra matéria, em novembro, pacientes e gestantes denunciaram problemas no Hospital da Mulher. Entre as críticas, atendimento inadequados e falta de medicamentos.
De acordo com a prefeitura, os problemas financeiros tem prejudicado o atendimento à população. O próprio secretário Carlos Ernesto Dornellas, que
esteve na sede do Cremerj, se queixou do atraso de repasses por parte do governo do estado, o que impediu que a UPA permanecesse aberto. As demais deficiências também foram justificadas por conta da escassez de recursos nos cofres.
Por sua vez, o coordenador da Comissão de Fiscalização do Cremerj, Gil Simões, questionou a falta de recursos humanos e os atrasos salariais.
– Decidimos levar a denúncia ao Ministério Público para reforçar a urgência em encontrar uma solução para este caso. Os gestores precisam resolver essa situação. Esses hospitais recebem pacientes não só de Cabo Frio, mas de cidades vizinhas. Sem contar que a Região dos Lagos costuma ficar lotada em período de férias escolares e feriados. É fundamental que as unidades tenham estrutura para atendimentos de emergência – destaca Gil Simões.
Em nota enviada após o fechamento da edição impressa, a secretaria municipal de Saúde "lamenta que o Cremerj nesse momento não esteja ao lado da prefeitura em busca de mais recursos para uma cidade que sempre se dedicou a ter a melhor saúde do nosso estado", mas que "estamos abertos a ajuda e esperamos contar com Cremerj nesse momento de caos financeiro."
(*) Matéria atualizada no dia 30 de março, às 10:06.