Em tempos de diminuição das redações e de cerceamento da liberdade de imprensa, como constatado no caso dos jornalistas que respondem a dezenas de processos por divulgar os salários de juízes no Paraná, a 11ª edição do Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo termina hoje, em São Paulo, com o claro recado de que sociedades democráticas são possíveis apenas com apenas uma imprensa livre e forte. Para engrossar o caldo, a cobertura dos Jogos do Rio e a preocupação com o chamado legado olímpico também mereceu destaque especial em alguns dos 70 painéis que fizeram parte do evento.
Ao todo, segundo a organização do evento, participam aproximadamente 600 congressistas, entre estudantes, recém-formados e jornalistas de veículos de todo o país (entre eles Rodrigo Branco, da Folha dos Lagos), e do exterior, de países como Angola e Moçambique. Além disso, o congresso organizado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) conta com 30 pessoas trabalhando na organização e 130 palestrantes de várias mídias.
Entre os nomes renomados que deram palestra está o experiente jornalista Juca Kfouri, colunista dos canais ESPN, da Folha de São Paulo, da rádio CBN e do portal UOL. Bem ao seu estilo, sem papas na língua, Juca contestou a realização das Olimpíadas no país, por causa da falta de cultura esportiva.
– O Brasil não merecia a Olimpíada porque ela coroa o sucesso de uma política esportiva e não para fazer dela o ponto de partida para se tornar uma potência, como o (presidente do COB Carlos Arthur) Nuzman diz – avalia.
Dividindo as atenções com Juca, o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Andrew Parsons, comemora o sucesso da política de inclusão dos atletas paralímpicos e celebra a presença no evento.
– Acho que é um evento que tem grandes nomes em várias áreas e que é riquíssimo. Venho sendo convidado há alguns anos, mas sempre estava no exterior, então esse ano, fiz questão de vir. Eu tenho um carinho grande pelo jornalismo investigativo. Eu sou jornalista de formação e acho que uma democracia precisa de uma imprensa forte e com liberdade de atuação. Acho que dentro disso se enquadra o jornalismo investigativo. Não é à toa o que a gente está vivendo no país hoje – comenta.
Também da área esportiva, mas originária da cobertura policial, a repórter da ESPN Gabriela Moreira elogiou a troca de informações com o público.
– Falo que esse é um evento inspirador para quem está começando na carreira e para quem já está há algum tempo na profissão, é um momento de reciclagem, de você se deparar com novas técnicas. Então eu fui no
primeiro congresso da Abraji, no Rio de Janeiro, e desde então vou a todos eles – relata.
Lançamento e homenagens – O congresso marca também a virada na carreira de um dos principais repórteres políticos de TV do país, Vladimir Netto, da TV Globo, que aproveitou o evento para lançar-se na carreira literária. Ele deu uma palestra sobre o seu livro-reportagem ‘Lava Jato, o juiz Sérgio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil’.
O congresso também teve momentos de emoção como a homenagens a dois dos mais prestigiados nomes da imprensa brasileira: Alberto Dines, criador do Observatório da Imprensa e ex-editor chefe de uma série de veículos, como o Jornal do Brasil, e Elvira Lobato, repórter que trabalhou na sucursal do Rio da Folha de São Paulo e que ganhou destaque por uma série de reportagens investigativas até 2011.