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Comunicadores da região lamentam morte do apresentador da Band em queda de helicóptero em São Paulo

Imprensa brasileira está de luto pela trágica perda

12 fevereiro 2019 - 09h08
Comunicadores da região lamentam morte do apresentador da Band em queda de helicóptero em São Paulo

A imprensa brasileira está de luto. Redações e estúdios de rádio e TV ficaram mais pobres no começo da tarde de ontem, quando o helicóptero que transportava o jornalista Ricardo Boechat, de 66 anos, bateu de frente com um caminhão que trafegava pelo Km 7 da Rodovia Anhanguera, em São Paulo, ao tentar um pouso de emergência na pista. No acidente, também morreu o piloto da aeronave, Ronaldo Quattrucci, de 56 anos. O motorista do caminhão ficou ferido e foi levado para o hospital.
Dono de um estilo marcante, de comentários contundentes; notadamente contra as autoridades brasileiras, Boechat trabalhava atualmente no Grupo Bandeirantes, onde apresentava um programa matinal na Rádio Band News FM e, à noite, ancorava o Jornal da Band. Assim como em todo país, o jornalista tinha uma legião de admiradores entre os profissionais da Região dos Lagos. A Folha ouviu alguns deles, que mostraram consternação com a trágica morte.
Radialista que atua na mesma faixa de horário em que Boechat apresentava o seu programa, Bernardo Ariston disse que a morte do colega é uma perda muito grande para a comunicação brasileira. 
– É lamentável a perda de um jornalista tão importante como Ricardo Boechat, sobretudo, em função de uma acidente tão trágico como foi. Era um jornalista premiado, atuante, sempre com ponto de vista diferenciado dos acontecimentos, e em cima dos fatos. O Brasil está de luto. Os jornalistas estão de luto e a comunicação, como um todo, está de luto e até que venha outro Ricardo Boechat acho que vai demorar um pouco. Muito triste o que aconteceu e eu desejo paz para a família, conforto a todos e lamento profundamente. Além de ser colega de profissão, era fã do Boechat e admirava sua forma de exercer o jornalismo – comentou Ariston, que também é o dono da Rádio Litoral FM e colunista da Folha.
Ricardo Boechat era oriundo do jornalismo impresso, onde começou em 1969, no antigo Diário de Notícias. Entre 1983 e 2001, em duas fases distintas, trabalhou no jornal O Globo, onde foi colunista de inúmeros furos de reportagem. 
Nos últimos cinco anos em que esteve no veículo, dividiu a Redação com o jornalista Paulo Roberto Araújo, hoje radicado no Peró. Procurado pela reportagem, Paulo Roberto recorda um episódio que envolvia ambos, quando deu uma nota para a coluna de Boechat, que desagradou ao Ministério Público e resultou em um processo para dupla, que acabou não indo adiante. 
As maiores lembranças, contudo, são mais amenas, como as do carinho do agora saudoso jornalista por Niterói, onde os dois foram vizinhos de bairro. 
– Ele era um cara exemplar para todo jornalista, um modelo. Ele provou que o jornalista pode se reinventar nessa crise porque ele foi defenestrado em O Globo, não foi legal. Ele passou por um momento difícil, foi trabalhar em rádio e, no entanto, e reinventou, e até hoje (ontem) era um dos mais consagrados jornalistas do país – comentou.
O fundador da Folha dos Lagos, o jornalista Moacir Cabral, é contemporâneo de Ricardo Boechat e se pronunciou sobre a morte do colega de profissão.
– Morre uma referência ética no jornalismo brasileiro. Em tempo de comportamentos tão frágeis, a perda de um profissional como este é verdadeiramente uma perda irreparável – disse.
O estilo direto e ácido do consagrado jornalista, ganhador de três prêmios Esso e recordista de premiações no Portal Comunique-se também é cultuado por jornalistas mais jovens como Renata Cristiane de Oliveira, do portal de notícias RC24h. Segundo Renata, a forma de atuação de Boechat serve de inspiração para o seu próprio trabalho. 
– Acima de tudo, Ricardo Boechat era um grande mestre. Talvez o maior mestre do jornalismo que o país já teve. Ele me inspira pela coragem de fazer perguntas que poucos têm coragem de fazer. A coragem de fazer críticas de maneira absolutamente fundamentadas e bem colocadas. A atitude de buscar sempre fazer o jornalismo crítico, isento, corajoso, com disposição para enfrentar temas espinhosos. Ouvir o Boechat pela manhã inspirava a gente a começar o dia e fazer jornalismo sem medo. É assustador o que está acontecendo, a gente só torce para que isso tenha sido apenas de fato um acidente, de fato obra do acaso, mas é uma perda irreparável e não tenho dúvida de que ninguém nunca será capaz de substituir o talento do Ricardo Boechat – comentou.
A verve crítica de Boechat não poupava ninguém e, em alguns casos, as cidades da região ficavam na mira das suas contestações. Em julho do ano passado, Boechat cobrou solução para as invasões em áreas de preservação ambiental em Arraial do Cabo. O fato levou a prefeitura a se posicionar para afirmar que estava trabalhando para conter o problema em conjunto com o Governo do Estado. Recentemente, o jornalista citou em seu programa a questão das marcações de exames de imagem pela Prefeitura de Cabo Frio. Boechat cobrou uma explicação para as denúncias de que apenas uma clínica estava recebendo os pacientes do SUS. 

Entidades jornalísticas manifestam-se sobre a morte de Boechat 

Ao longo do dia, as associações da classe jornalística manifestaram pesar pela morte de Ricardo Boechat. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro emitiu uma nota, assinada pelo presidente Mário Sousa, que classificou Boechat como ‘exemplo de jornalista’.
Após traçar uma breve trajetória do jornalista, o texto diz que “o Brasil perde o maior jornalista de opinião da atualidade” e que “Ricardo Boechat era um profissional que exercia o jornalismo com uma postura e linguagem única de crítica e independência”. Para ele, prossegue a nota, “não haviam subterfúgios nem meias palavras, mas o exercício pleno e litúrgico do papel do jornalista”.
Já para a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), “Ricardo Boechat foi um jornalista brilhante, apaixonado pelo seu ofício, que jamais deixou de participar das discussões de seu tempo. Um dos seus traços marcantes era o rigor que cultivava em relação à apuração do noticiário que devia reproduzir os fatos com extrema precisão”.
Já a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) diz que recebeu com ‘tristeza e consternação a notícia da morte do jornalista Ricardo Boechat’.  A entidade observou que “nas manifestações públicas de colegas que trabalham ou trabalharam com Boechat ao longo de seus mais de 40 anos de carreira, o adjetivo “generoso” é frequente, assim como o lamento pela perda de uma voz crítica e contundente. O humor com o qual tratava o noticiário e a si próprio é outra das características que os amigos e colegas ressaltam”, diz a nota. 
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e a Associação de Imprensa do Estado do Rio de Janeiro (Aierj) também manifestaram consternação pela perda de Boechat e do piloto Ronaldo Quattrucci e solidarizaram-se com familiares e amigos.