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ciclista atropelado

Ciclista é resgatado à beira da morte

Caso é mais um de atropelamento em que o motorista foge sem socorrer

31 julho 2015 - 08h59

Fernanda Carriço

 

Cabo Frio, 14 de julho de 2015: Luís Carlos Dorneles Emiliano, 57 anos, Estrada Ve­lha de Arraial do Cabo (Aero­porto). Não fosse a atenção de um Guarda Parque do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) com cada detalhe da mata que nos cerca, esta seria mais uma história de atropelamento de um ciclista onde o motorista não prestou socorro e que teria vira­do estatística, conforme a Folha publicou na edição do dia 29. Mas o destino quis que o pedrei­ro Luís Carlos, não fizesse parte da triste contagem de ciclistas mortos na região. No último dia 14, quando voltava de bicicleta de uma pescaria frustrada em Monte Alto, seu Luís foi brutal­mente atropelado, arremessado a uma distância de mais de dez metros e o motorista do carro, não identificado, fugiu. O atro­pelamento aconteceu por volta das 17h.

– Eu não vi nada, desmaiei e fiquei desacordado por mais de duas horas. Quando acordei, pensei: meu Deus, onde estou? Tentei levantar, não sabia o que tinha acontecido. Aí vi que mi­nha perna estava quebrada. Me arrastei um pouco para tentar chegar na estrada e gritar por socorro. Mas Deus colocou dois anjos no caminho – conta, ainda muito abatido, o pedreiro.

Os anjos a que se refere são os guarda parques Leonardo Sandre Oliveira e Marcos Viní­cius Ribeiro. Eles voltavam de uma ocorrência de apreensão de pássaros em Monte Alto, cerca de duas horas depois do atrope­lamento, quando Leonardo viu algo estranho.

– Eu achei que era lixo no meio do mato, mas também achei que podia ser um atrope­lamento. Resolvi então parar o carro e ir procurar. Já era escuro e a sorte é que o Marcos acre­ditou que poderia ser algo e foi comigo. Quando cheguei me de­parei com ele jogado numa vala, muito machucado, com fratura exposta. Como pode uma pessoa atropelar a outra e fugir? Se não fosse um maluco que gosta de olhar o mato, que se preocupa com detalhes, ele iria morrer, o próprio bombeiro quando che­gou falou isso – relembra Leo­nardo, que se diz agradecido por ter podido resgatá-lo.

Agradecido mesmo está seu Luís Carlos, que relata com mui­ta mágoa o que consegue recor­dar do episódio.

– É uma pessoa muito má a que me atropelou... Não ter co­ragem de fazer uma ligação para pedir socorro? Se não quisesse usar o celular, que usasse al­gum orelhão, tem tanto por aí. A verdade é que ninguém respeita mais ciclista nessa cidade. Por pouco não caí na lagoa e, como estava desacordado, ia morrer.

São dois heróis – se emociona o pedreiro, que ficará sem traba­lhar por tempo indeterminado. “Quem paga o prejuízo?”, diz.

Três cirurgias, dez dias de internação

Como ele mesmo faz questão de afirmar, seu Luís morreu e nasceu de novo. Quando socor­rido, foi levado imediatamente para o Hospital Geral de Ar­raial do Cabo e, no dia seguinte, transferido para o Regional de Araruama, onde passou por três cirurgias para a colocação de pi­nos na perna.

– Ele foi muito bem atendido, graças a Deus. Ficou dez dias in­ternado e agora está impossibi­litado de trabalhar. Alguém que não teve coração que o atropelou e fugiu. Isso fica na consciência da pessoa: como pode dormir tranquilo? – declara a esposa dele, dona Esmeralda da Silva Emiliano.

De cama, ainda com os pon­tos nos locais da cirurgia e muito abatido, Luís Carlos afirma que vai voltar a andar de bicicleta, mas nunca mais vai trafegar pela área onde aconteceu o atropela­mento.

– Eu estou agoniado porque não posso andar, a mão também dói ainda, estou com muitos fe­rimentos, mas estou vivo. Estou muito grato aos dois heróis que me salvaram – finaliza o pedrei­ro, aliviado e feliz por estar em casa, já que teve alta médica na última sexta-feira.

Dia mundial dos Guarda Parques

Hoje é comemorado o Dia Mundial dos Guarda Parques e o Inea vai promover uma cerimô­nia no Rio de Janeiro. Os guar­das Leonardo Sandre e Marcos Vinícius foram convocados para o evento. Há rumores de que ambos serão homenageados na ocasião.

– Fui intimado pelo chefe a comparecer. Não é obrigatório ir, mas exigiram nossa presença nas comemorações. Meu chefe aqui também falou que enviaram o pedido ao Inea há alguns dias, mas só amanhã que eu vou sa­ber. Mas, só de ver o senhor Luís bem, este foi o melhor prêmio que eu podia ganhar – se emo­ciona Leonardo.

Mas se depender da vontade do casal, os dois guarda parques merecem homenagens já foram coroados.

– Eles mereciam uma meda­lha – sentencia dona Esmeralda, aliviada pelo fato do marido não fazer parte da triste estatística de seis mortes registradas no últi­mo ano na Região dos Lagos.