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Carlão

"Alair e Marquinho acham que Cabo Frio é deles"

Carlão, do PHS, é o penúltimo entrevistado da série com os candidatos a prefeito de Cabo Frio

17 setembro 2016 - 11h16Por Redação
"Alair e Marquinho acham que Cabo Frio é deles"

Ilustre desconhecido da maioria dos cabofrienses – e até dos outros candidatos –, Carlos Augusto Felipe não aliviou no discurso, fez duras críticas aos seus concorrentes e cravou que concorre para ganhar. Alto e de voz firme, Carlão, como é conhecido, quer repetir na política o sucesso que teve nos negócios, onde acumulou patrimônio de quase R$ 3 milhões. “Declarei tudo”, garantiu ele, antes da conversa com a Folha. O candidato do PHS é o penúltimo entrevistado da série com os candidatos à Prefeitura de Cabo Frio neste ano.

Folha dos Lagos – Por que quer ser prefeito de Cabo Frio?
Carlão –
Nunca fui vereador, deputado estadual, federal e muito menos prefeito, mas eu conheço política, conheço gestão, conheço administração. Sou formado em Direito, tenho o curso incompleto de Economia e Administração. Administro empresas e trabalho na área de consultoria. Desde criança eu frequento Cabo Frio com a minha família. Comprei a minha casa há 25 anos na cidade, fiz uma boa obra e comecei a me preparar para me aposentar em Cabo Frio. Eu venho há 20 anos acompanhando a política daqui, os mesmos candidatos, as mesmas pessoas, o mesmo grupo político que se instalou na nossa cidade. Acho que eles tiveram a oportunidade deles e nada fizeram, nada cobraram. Se você olhar, temos Alair três vezes prefeito, deputado estadual; Marquinho Mendes, duas vezes prefeito, duas vezes deputado estadual, uma vez deputado federal; Janio Mendes foi vereador, presidente da Câmara, deputado estadual; Paulo Cesar, deputado duas vezes, sempre amigo do governo. Alair pode ter errado, pode, mas não errou sozinho.

Folha – Quem é o Carlão?
Carlão –
Eu nasci no Rio de Janeiro, em Bonsucesso, minha mãe trabalhava na linha de produção e meu pai era mecânico. A situação não era fácil. Minha mãe colocou eu e meu irmão mais velho no colégio interno. Só íamos em casa uma vez por mês. Mas o colégio tinha tudo: teatro, curso, artesanato, isso com sete anos de idade, a gente aprendia a fazer vassoura, tapete, anel... Com 16 anos fui trabalhar de carteira assinada numa empresa que fabricava móveis em Ramos. Trabalhava de seis da manhã ao meio-dia e estudava de três as sete. Quando saía da escola, eu e meu irmão ficávamos tomando conta de carro e ganhávamos um dinheirinho. Depois fui para o Exército, na brigada paraquedista. Depois fui trabalhar na política, em Brasília. Voltei para o Rio e montei uma empresa de logística, que era a área que eu atuava no Exército. Fui comprando alguns imóveis no Rio de Janeiro e hoje tenho alguns alugados. Estudei, me formei, fiz as minhas faculdades, sempre gostei muito de estudar, e tenho uma história boa. Nunca entrei numa delegacia para prestar depoimento. Acho isso importante. Nunca me envolvi em nenhum tipo de fraude. Esse sou eu.

Folha – Há quanto tempo você frequenta Cabo Frio?
Carlão –
Há dez anos. É da seguinte forma: venho para Cabo Frio quinta-feira, desço segunda à noite para o Rio, porque terça eu ia para Brasília.

Folha – Você acha que já conhece a realidade da cidade?
Carlão –
Claro que sim. Como posso eu não conhecer a cidade que eu escolhi para viver o resto da minha vida?

Folha – Você teme que a impressão da população de que você desconhece a cidade possa te atrapalhar na campanha?
Carlão –
Não. Primeiro que isso não é verdade. Eu conheço Cabo Frio. O que quero conhecer agora é a gestão de Cabo Frio. É isso que preciso entender. Preciso entender como é que funciona essa gestão de Cabo Frio. Que isso ninguém entende. Nem eles entendem. Então, as pessoas querem confundir você conhecer a cidade com a gestão pública, são duas coisas diferentes. Sei o que que é bom para a nossa cidade. Administrar uma cidade com dinheiro não é difícil. Qualquer um faz. Não precisa ser administrador, basta só gastar. Foi o que eles fizeram com a nossa cidade. Só gastaram. Não administraram coisa nenhuma. É isto que a população tem que entender. O que adianta um cara que diz que conhece a cidade? Eu não posso dizer que conheço mais a cidade que o Alair não. Afinal de contas, ele foi três vezes prefeito. Mas eu tenho certeza que ele não sabe o que é bom para a cidade.

Folha – Por que você resolveu ser candidato à majoritária e não à Câmara?
Carlão –
O meu plano era eu vir candidato a vereador. Eu imaginava o seguinte: vou me aposentar, trabalhar na cidade, ajudar a cidade e participar. Mas, diante de toda a situação política de nosso município, de toda instabilidade política, o pessoal me chamou e falou o seguinte: nós queremos lançar o candidato majoritário, o partido acha melhor. Queríamos que fosse você. Foi por unanimidade. Eu aceitei e estou aqui para levar o partido às urnas.

Folha – O PSOL, por exemplo, adotou uma estratégia de lançar sempre candidatos à majoritária. Três eleições depois, o partido tem mais chances de fazer vereadores, por ser mais conhecido. Existe uma estratégia semelhante do PHS?
Carlão –
Há 12 anos, quando o PSOL começou a fazer sua estratégia política, havia um cenário político no nosso país e no nosso município. O cenário hoje é diferente. Eu tenho andado na rua, nós estamos aí com uma nominata muito boa. Botei o partido na rua para ganhar a eleição. Vou lutar para ganhar a eleição. Não tenham dúvidas disso. Vamos disputar a eleição com eles.

Folha – Você acha que o fato de não ter nenhum outro partido vai te atrapalhar na governabilidade, se eleito?
Carlão –
A população vai entender que Cabo Frio não vai ser dividida. Vai ser governada. É diferente. Cabo Frio não é dividida. Ninguém vai chegar para mim, no meu gabinete e dizer: “Prefeito, não esquece, isso aqui é meu, isso aqui é dele”. Ninguém vai fazer isso comigo. Nós vamos ter um governo de técnicos, de pessoas profissionais, capazes. Se o partido tal, seja ele qual for, tiver um técnico bom, por que ele não vai estar conosco? Cabo Frio não me pertence. E nem pertence ao PHS. Como também não pertence ao PMDB. Como também não pertence a seu Alair Corrêa e nem a Marquinho Mendes. Eles acham que é deles. Mas não é.

Folha – Você vai assumir a dívida com o funcionalismo e os fornecedores?
Carlão –
Olha, eu não vou assumir dívida nenhuma, não. Esse é que é o problema. Essa dívida existe e ela é do município. Não sou eu que vou dizer se vou ou não pagar. Essa dívida foi contraída em prol do município. Errada ou não, você audita isso, bota um grupo de auditores para verificar a autenticidade desta fatura. Agora, no final, começam a criar coisas, sabe. “Olha toma aqui um milhão pra você, outro pra você”. Você, quando recebe a boleta do seu cartão de crédito, confere para verificar se está tudo certo. É isso que o município tem de fazer. Eu não tenho de sair pagando conta para ninguém, não.

Folha – Quais são seus planos de governo?
Carlão –
Eu tenho dito no meu discurso que vou fazer em quatro anos o que esses caras não fizeram em 20. Agora, estou até pensando em mudar o discurso. Recuperar em quatro anos o que eles destruíram em 20. Porque foi um absurdo o que essa classe política fez. Não estou dizendo isso só aqui não, falei isso para eles também. Eu conversei com todos.

Folha – E como foi essa conversa com os outros?
Carlão –
Para eles foi muito ruim... (risos).

Folha – Em que circunstância aconteceu isso?
Carlão –
Um deles, por exemplo, pediu que eu desistisse da minha candidatura e fosse me agregar ao grupo dele, dizendo o seguinte: “Vamos reconstruir Cabo Frio”. Engraçado, você tá me chamando para reconstruir Cabo Frio? É igual aos Estados Unidos. Foi lá e destruiu o Iraque todo e até hoje não reconstruiu. Nunca vi quem destrói reconstruir. Se você tá dizendo para mim que Cabo Frio está destruído, você fez parte disso.

Folha – Você está falando de Marquinho Mendes?
Carlão –
Também. Junto com Alair, estava no governo, deputado federal, o que fez? Nada. Agora quer reconstruir? Reconstruir o quê? O que ele destruiu? Não. 

Folha – Quais os seus planos para a Educação? E quanto à questão da estadualização do ensino médio?
Carlão –
A questão como um todo é muito simples. Existe um orçamento estimado pela Câmara dedicado à Educação. É só você gastar isso com responsabilidade. Aquilo não foi feito aleatoriamente, o dinheiro tem de ser bem gerido e gasto, e a Educação vai funcionar. Eu acho que o que falta
hoje é isso. Ter o orçamento e ter a destinação desse orçamento para cada secretaria. Mas as pessoas desviam daqui para ali e fazem um jogo. Aí depois tem de compensar. Eu cumpro a lei.

Folha – Então você vai estadualizar o ensino médio? Porque é o que a lei diz...
Carlão –
Eu, não. Eu não vou estadualizar, não. Você disse para mim que a lei é que estipula isso.

Folha – Sempre que algum prefeito diz que vai seguir a lei, aqui na cidade, mexe com as pessoas que têm carinho por essas escolas. Há manifestações, paralisações...
Carlão –
As pessoas temem a mudança. Eles estão acostumados com aquilo ali, acham que aquilo é melhor. Para isso nós temos técnicos. Temos aqui o nosso corpo docente, são profissionais, e eles sabem o que é melhor para o município. Então é preciso fazer reuniões com eles, ouvi-los, e defender o que eles querem. O funcionário público é de carreira. Eu, não. Eu sou transitório. Não posso implementar no governo o que eu quero. Não é o que eu quero, o melhor para mim. Essas pessoas têm de opinar.

Folha – Você julga que Cabo Frio é uma cidade acomodada e dependente de políticos? E quanto aos políticos?
Carlão – A cidade, não. A população durante 20 anos não teve opção. E agora também não tem, não. Eu sou a opção. O amigo Leitão que fale por ele. Eu falo por mim. Eu falo uma coisa para você: se ela votar no Janio, quem é o vice do Janio? Valdemir Mendes. Parente de Marquinho Mendes. Como explica isso? Aí, quem é que está com Janio, partido coligado, com o filho ali? O vice de Alair, Silas Bento. O filho dele coligado com o PDT. Eu olho para isso e vejo o seguinte: o Janio ganhou, é um pedaço para Marquinho, um pedaço para Alair e um pedaço para ele. Não tem outra história. Ele que
me perdoe. Ele vai ser prefeito coisa nenhuma. E aí a população votou no Janio, votou no Alair, votou no Silas Bento. E aí Paulo Cesar, que vem a público dizer que não é candidato de Alair, e Alair diz que ele é o candidato dele. Aí vem doutor Adriano, dá vice para a mulher de Emanoel, que era vereador, fazia ali todas as articulações para Alair. E aí você quer me dizer que, se ganhar a eleição, Alair não tem nada a ver com isso? A população
é enganada.

Folha – E a Saúde?
Carlão – É um problema. A população está doente em vários aspectos. Vamos ficar falando aqui da saúde dois meses, se for preciso. O prefeito nunca quis sair de Cabo Frio para ir buscar recursos. A UPA não conseguimos identificar porque é que ela está fechada. Não sei porque a Prefeitura não conseguiu manter o local funcionando. Hospitais nossos estão todos um caos. Temos que ter uma preocupação voltada para isso porque todos
esses nossos políticos têm plano de saúde. Além de plano de saúde, aí qual é a preocupação dele com a saúde? Nenhuma. Eu tenho certeza absoluta que se você pegasse a verba destinada à saúde e fosse buscar os projetos, por exemplo, nossos deputados federais poderiam ter mandado suas emendas. Por que é que a gente elege deputado federal? Ele tem 10 milhões por ano só de emenda parlamentar. Eles deveriam boa parte disso aqui para Cabo Frio e outra parte para a região. Porque eu não posso olhar a saúde de Cabo Frio isoladamente. A hora que eu botar a saúde de Cabo Frio para funcionar, o cara de São Pedro vem pra cá, o de Araruama vem pra cá, o de Campos vem para cá. E aí a saúde para de funcionar, porque eu não
tenho dinheiro que chegue. Nossos políticos, nossa classe política, que sempre nos representou, não enxergam isso assim.

Folha – Com relação à máquina pública, você já pensou em números? São cerca de 14 mil funcionários hoje, já pensou em porcentagem da redução e número de secretarias?
Carlão –
Primeiramente, vou dizer as que acho que não pode mexer: Saúde, Educação, Fazenda... Quanto às demais, você tem que fazer um estudo e ir reduzindo, juntando duas, juntando três, criar uma grande secretaria de infraestrutura municipal e ir colocando dentro dela, acabando com esse status de secretário de Meio Ambiente, por exemplo. Para que secretário de Meio Ambiente se eu posso ter uma diretoria ambiental dentro de uma Secretaria de Planejamento? De infraestrutura? Eu tenho o Inea lá. Tem diretoria ambiental. Você acaba com secretário, subsecretário, secretário do secretário. É carro, é prédio. Tem que olhar para a cidade. Não é o interesse individual dos caras, não. Meio ambiente é importante? É muito importante. Mas ele não pode frear o desenvolvimento do município.

Folha – Quais são os seus planos para o turismo? E para a baixa temporada?
Carlão –
É disso que Cabo Frio precisa. Cabo Frio não é bonita só no Carnaval, no fim de ano. E depois? Fica feio depois? Mentira. Temos que trazer atrações para o nosso município. Um exemplo que estava conversando com um amigo meu é Barretos. Eles têm uma festa country que é conhecida no mundo inteiro. Gera bilhões e bilhões para a cidade. Aquilo não começou gigante. Nasceu pequeno e cresceu. Todo mundo gosta. Cabo Frio é um município que tem cavalo, fazenda de bois, nós temos aqui. Esse é o tipo de turismo rico, se você traz o country para cá, e você faz disso uma agenda anual. Por exemplo, junho: show country aqui. Arenas, leilão, você atrai um turismo rico para a região. Outra, você tem o nosso artesão na região, que tem de ser fomentado. Você tem que ter parques ecológicos, para ter turismo ecológico. Tem o pessoal técnico que analisa e diz o seguinte: isso aqui cabe neste período do ano, por isso, isso e isso. Tem que fazer um estudo macro do turismo fora de época. A primeira coisa que
vou buscar é um estudo para criar em Cabo Frio um porto de verdade. Um porto. Não estou falando de um deck, não. Um porto de verdade. Porque hoje Cabo Frio produz toneladas de pescado, mas a gente não tira um tostão disso. Isso tem que mudar.