No Jardim Esperança, foram entregues 100 kits - Crédito: Arquivo Pessoal

A lógica da prevenção em meio a uma epidemia como a do novo coronavírus é cruel, pois impõe afastamento, inclusive de familiares e amigos. Mas é justamente num momento como esse que determinadas ações de solidariedade unem muito mais as pessoas do que se pode supor pela classe social e pela localização geográfica. Penalizada com a situação de insalubridade de um bairro carente de São Gonçalo, exposta em uma reportagem de TV, a dentista Andressa Otranto resolveu mobilizar um grupo de amigos pelo WhatsApp para colaborar com a melhoria das condições de higiene de moradores de comunidades cabofrienses, condição indispensável para se preservar da contaminação pelo Covid-19.

A articulação resultou na criação da ‘Campanha do Sabão’, que já fez a entrega de 650 kits com itens de higiene pessoal e limpeza em vários locais da cidade. A meta inicial da campanha era doar 500 kits, sendo 100 entregues no Manoel Corrêa, na Boca do Mato; no Jacaré; na Estradinha e no Jardim Esperança. A iniciativa se alastrou e chegou também ao Buraco do Boi; Morubá e Alecrim, onde foram entregues 50 kits cada.

Cada sacola contém quatro sabonetes, quatro detergentes e uma caixa de 1 kg de sabão de pó. Os kits são montados por um supermercado que vende os vende para o grupo a R$ 15,90 por unidade. Para distribuição, o grupo se articulou com as lideranças comunitárias para garantir que os produtos chegassem às casas das pessoas que mais precisam.

Andressa diz que o grupo quer ampliar o trabalho a atender a um maior número de pessoas e, para isso, disponibiliza uma conta para receber as doações. Posteriormente, os gastos são divulgados em uma prestação de contas. A situação de isolamento social e de restrição de circulação por causa da prevenção ao Covid-19 dificultou a repetição do formato de outras campanhas, em que os itens dos kits são doados diretamente. Isso não desestimula o trabalho e a nova meta de entrega de kits é audaciosa, mediante a grande procura de outros bairros.

– Tem outras comunidades pedindo, como São Jacinto, Itajuru, e aquele pessoal que mora no Lido, vive basicamente de praia e está sem renda. Cada hora chegam mais pedidos. A gente está batalhando para ver se consegue mais kits para mandar para essas comunidades. Vamos ver se a gente alcança mil kits e consegue fazer mais entregas – vislumbra.

Andressa afirma que a ação não está ligada diretamente a qualquer igreja, embora conte com o apoio de algumas delas para a distribuição dos produtos.

– Não tem articulação com nenhuma religião. Hoje entregamos na Igreja Católica do Jardim para distribuir, mas o padre garantiu que a distribuição não terá nada a ver com a religião, inclusive me disse que 60% dos assistidos pela igreja não são católicos. Os kits do Buraco do Boi foram entregues no Centro Espírita Amor e Caridade, mas também sem dar uma destinação religiosa. Na Boca do Mato, a pessoa que ajudou é evangélica. Nossa intenção é ajudar a quem precisa. E isso não tem nada a ver com qual religião a pessoa segue – explica.