Durante décadas, a crença de que os Estados Unidos são a ‘terra das oportunidades’ levou milhares de brasileiros a tentarem viver o chamado ‘sonho americano’. Essa convicção ficou abalada, ou no mínimo estremecida, desde a madrugada da última quarta, quando foi confirmada a vitória do candidato do Partido Republicano, o empresário Donald Trump, na eleição para presidente do país mais poderoso do mundo.
Com um discurso bastante conservador, que durante a campanha eleitoral resvalou em declarações homofóbicas, racistas, machistas e, sobretudo, xenófobas, Trump acena com um política de maior protecionismo na economia e de mais restrições para os estrangeiros. Diante disso, os cabofrienses que moram na ‘Terra do Tio Sam’ aguardam o futuro nos próximos quatro anos com bastante cautela.
O bacharel em Direito Marcelo Soares, de 25 anos, mora há um ano no estado de Connecticut, que fica na Costa Leste. Com situação regularizada no país por meio do ‘green card’ – visto permanente de imigração – Marcelo trabalha em uma agência de empregos, na qual a maioria da mão-de-obra recrutada para trabalhos braçais é composta por estrangeiros. Ele teme por quem ainda não tem uma posição estável em solo americano.
– Sou legalizado nos Estados Unidos, mas temo pelos que não são e se esforçam por uma vida melhor. Isso é muito mais complexo do que “são ilegais, então devem ser deportados” – pondera.
Já Rafael Ferreira, que trabalha como professor de Inglês em Nova Jérsei, acredita que a situação não vai mudar. Prestes a obter a cidadania norte-americana por ser filho de brasileira casada com um ianque, Rafael relata que os brasileiros não são vistos como concorrentes, uma vez que os locais dispensam os serviços mais pesados.
– Imigrante aqui faz serviço que americano não quer fazer. Não tem americano trabalhando em faxina, nem peão de obra. Não porque não tem vaga – atesta.
Se não chega a despertar o desejo de volta para casa dos brasileiros que vivem nos States, o triunfo do bilionário falastrão adiou os planos de quem pretendia se mudar para a América do Norte, caso do empresário Ramon Bock. Ele e o marido, que vivem no Rio, planejavam a viagem há sete meses e já tinham vendido toda a mobília.
– Estamos analisando. Foi um balde de água fria e praticamente adiou a ida, pois teremos mais problemas de legalização com ele no poder. Aí teremos que juntar mais dinheiro – alega o empresário, que viveu anos em Cabo Frio.
Até mesmo os aspectos econômicos da eleição de Trump têm causado suspense. Imediatamente à sua vitória, o mercado reagiu e o dólar turismo disparou chegando a R$ 3,44. O dono da Koala Turismo, Piero Rocha, tenta manter a tranquilidade.
– Com relação a emissão dos vistos, acho que nada vai mudar. Já com relação ao dólar, claro quer inicialmente dá um impacto, mas quem quer mesmo viajar tem que se planejar com o dólar a R$ 3 ou R$ 4 – diz o empresário.