Nos últimos três meses, o porteiro Valtencir Dias tem cumprido o ritual de pegar mangueira e vassoura para lavar pelo menos uma vez por dia a calçada do prédio em que trabalha, na Rua Rui Barbosa, em Cabo Frio. Tudo porque a água suja teima em minar da caixa de esgoto em frente ao edifício. O trabalho tem efeito temporário, pois logo a imundície novamente toma conta do passeio público, para desgosto de moradores, pedestres e comerciantes do local, que fica em uma das regiões mais valorizadas da cidade.
O síndico do prédio, Jerônimo Valim Fernandes, afirma que já recorreu à Prefeitura para tentar desobstruir a caixa, mas foi informado que as secretarias responsáveis pelo trabalho estão em greve. Como paliativo, o condomínio já desembolsou mais de R$ 100 para que caminhões fizessem a sucção dos dejetos, mas dois dias do serviço, o problema retornou. Um caminhão da Prolagos também já realizou o trabalho, mas o resultado foi o mesmo. Por causa das lavagens mais frequentes na calçada, o valor da conta de água do condomínio aumentou em 20%.
–Isso traz mau cheiro, atrai mosquito, fora o risco de alguma criança pisar nesse esgoto. Mesmo se tratando de um serviço que o município teria que fazer, é nossa obrigação cuidar da via pública. Eu me sinto como se tivesse retroagido ao século passado, com esgoto correndo a céu aberto – desabafa ele, que tem que conviver com as cobranças dos condôminos por uma solução.
Dona de um salão de beleza que funciona no edifício, a empresária Janaína Martins confirma os transtornos e constrangimentos para funcionários e clientes. Por causa do odor, que fica ainda pior em dias de sol forte, o estabelecimento precisa ficar fechado e com o ar condicionado ligado.
– Tenho que avisar às minhas clientes para tomarem cuidado para não pisar no esgoto, pois muitas delas saem descalças depois de fazerem as unhas. Como comerciante, isso está me atrapalhando muito – reclama.
Ironicamente, moradores apontam que outro problema crônico no local – um enorme buraco que ficou mais de um mês aberto na esquina com a Avenida Nilo Peçanha – contribuiu para o entupimento das tubulações subterrâneas, uma vez que, durante o período, a cratera foi sinalizada com pedaços de madeira e pedras.
Apesar disso, o problema está longe de ser isolado. Conhecida por encher após cada chuva forte, a Avenida Nilo Peçanha tem diversos pontos onde bueiros e caixas de passagem estão entupidas, impedindo o escoamento da água. A situação preocupa com a proximidade do verão e as suas características tempestades. Um bueiro do tipo boca de lobo, na esquina com a Rua Florismundo Batista Machado, chama a atenção pela quantidade de areia acumulada.
– Sempre que começa a chover forte, a gente fecha a loja. Ficamos ilhados e fica até difícil sair – comenta Rômulo Torres, gerente de uma loja multimarcas que, mesmo construída mais de um metro acima do nível da calçada, sofre as consequências dos alagamentos.
Em nota, a concessionária Prolagos informou que uma equipe técnica esteve na tarde de ontem nas ruas Rui Barbosa, Florismundo Batista Machado e Tamoios e constatou que os vazamentos nos locais são provenientes das redes de drenagem pluvial (água de chuva) do município, cuja manutenção é de responsabilidade da Prefeitura.
Por sua vez, a administração municipal informou que promove ação de limpeza por todas as vias públicas da cidade. A ação começou no início deste mês e irá passar por todos os bairros entre primeiro e segundo distritos. Segundo a Prefeitura, os esforços foram intensificados para amparar a população por conta do aumento de fluxo de pessoas no período das férias e verão.