FERNANDA CARRIÇO
O que começou com cenas de um roteiro dramático se transformou em páginas de uma história com final feliz. Exatamente 60 minutos depois que a matéria “Procura-se Gabriel” foi ao ar no site e no Facebook da Folha dos Lagos, uma colcha de retalhos começou a ser traçada para que nossa equipe de reportagem pudesse chegar às primeiras pistas que levassem ao jovem Gabriel. O adolescente vinha sendo procurado há 13 anos pelo irmão Aldair Júlio de Carvalho, 27 anos, morador de São Gonçalo, e que só viu Gabriel uma vez na vida. Depois de mais de uma década de buscas sem sucesso, na manhã de ontem, Aldair recebeu a notícia que, segundo ele, era a que mais esperava a vida toda.
– Eu não acredito que vocês encontraram meu irmão. Ele tem quantos anos? Ele estuda? Ele mora no mesmo lugar? Ele está bem? Eu preciso ver o meu irmão – desabou Aldair, numa mistura de lágrimas e euforia.
E a emoção de Gabriel Amorim, 15, ao saber que o irmão procurava por ele há tantos anos foi a mesma. Por telefone, contou que também já havia tentado encontrar Aldair.
– Eu lembro dele, eu era muito pequeno quando ele veio, mas lembro sim. Eu até tentei achá -lo, mas não consegui. Que legal que vou conhecer meu irmão – se emocionou Gabriel, que, até então, era tido como filho único.
Esse turbilhão de emoções que cercou os protagonistas da história também tomou conta da redação e em poucas horas conseguimos chegar ao adolescente com a ajuda dos jornalistas Phillipe Bello, assessor de imprensa da Auto Viação Salineira, e Alexandra Oliveira, assessora da Secretaria de Saúde, que auxiliaram na busca. Um quebracabeças foi montado e, depois de alguns telefonemas, o mistério foi resolvido.
– Fico muito feliz por ter ajudado. Estou muito feliz pelo final, emocionante – declarou Phillipe.
A jornalista Alexandra Oliveira também se emocionou com a busca do jovem Gabriel.
– Que história bacana. Que legal que eles vão poder se encontrar – opinou Alexandra.
FINAL FELIZ
No início da tarde os irmãos, enfim, se falaram por telefone pela primeira vez na vida. Emoção, euforia e ansiedade foram a tônica do diálogo que durou alguns minutos. Segundo Aldair, impossível segurar a emoção.
– Eu atendi o telefone e uma voz perguntou se eu era o Julio. Disse que sim e ele falou o que eu esperava ouvir: “oi, irmão”. Fiquei doido, desnorteado. Que emoção em ouvir meu irmão. Vou pedir dispensa no trabalho para tentar ir a Cabo Frio esta semana ainda – concluiu Aldair, com a voz embargada de quem ganha o presente que espera da vida há muitos anos.
Gabriel, um pouco mais comedido na emoção – atitude típica da idade –, contou que eles falaram de tudo um pouco por telefone. Ele, que prefere não ter sua foto divulgada agora, admitiu que estava muito feliz.
– Muito bom conseguir falar com o meu irmão depois de tanto tempo. É uma sensação ótima, mas que não tenho palavras para escrever.
UMA PROCURA QUE DUROU 13 ANOS
Privado da maioria dos laços familiares desde a infância, por anos Aldair Júlio de Carvalho tentou, ao menos, reparar parte da perda. Ele, que é porteiro e morador de Gradim, em São Gonçalo, conheceu brevemente o pai – foram dois encontros até a notícia de que o mecânico Aldair Amorim, 55, havia sido assassinado na saída de um comício na Praça Porto Rocha. Desde então, Aldair Júlio busca encontrar o irmão que só havia visto uma vez na vida.
– Eu preciso encontrar o meu irmão. Não sei se ele tem o sobrenome do nosso pai, Amorim, mas acho que o Gabriel deve ter uns 16 anos. Lembro que ele morava numa rua sem saída no centro. Era a última casa da rua e lembro bem porque o dia que conheci meu irmão foi o melhor da minha vida – declarou Aldair em matéria publicada no site da Folha na manhã de ontem.
A rua a que ele se refere é uma travessa sem saída e sem nome, que fica entre as ruas Miguel Couto e Antônio Feliciano de Almeida, no centro de Cabo Frio. Segundo a memória do Aldair, o pai morava lá com a esposa – a mãe do irmão Gabriel, mas ele não sabe o nome dela.
– Eu tenho poucas informações, só sei que a irmã da viúva do meu pai trabalhava no Charitas, o nome dela era Janete, e era filha de uma senhora chamada Dona Assunção. Eu passei anos sem saber o que fazer para achar meu irmão, agora conto com a Folha para realizar meu sonho.