NICIA CARVALHO
Ao que parece fazer o bem em Cabo Frio tem preço, mas o arrependimento passa longe. Esse é o sentimento da jornalista Cristiane Zotich, que foi exonerada esta semana do cargo de diretora de departamento que ocupava na Secretaria da Melhor Idade na prefeitura do município. O motivo, segundo ela, foi o engajamento na campanha para arrecadar alimentos e outros produtos para o tratorista Wilson dos Santos, que depois de conceder entrevista para a InterTV denunciando atraso no pagamento de salário foi ameaçado de demissão pela empresa terceirizada que presta serviço para o governo municipal.
– Não me arrependo e faria tudo de novo. Mas fui acusada de ter causado o infarto do senhor Wilson por ter envergonhado ele com a campanha e de estar torcendo pela morte dele para culpar a prefeitura. Fiquei sabendo que fui exonerada por meio de um grupo no WhatsApp. Quanto ao meu irmão ouvi que ele deve ser exonerado do galpão de marcação de consultas do Braga. Não sei se é verdade, mas para evitar prejudicar meu irmão resolvi sair da campanha e estou arrasada com isso. Estou me sentindo covarde, impotente, doida para ir embora desse inferno de cidade. Mensagens como esta (ao lado) da filha dele me confortam, mas quando parte para perseguição na família é complicado – desabafou.
Sem salário há seis meses, Wilson Santos recebe doação de 400 quilos de alimentos
Na contramão de ameaças e perseguições, há quem prefira o tom brando da solidariedade, que também podem definir os últimos dez dias em Cabo Frio. A exemplo das manifestações de apoio às meninas Fernanda Rufino, de 4 anos, e Lara Vitória, de 1 ano e três meses, foi a vez de o tratorista Wilson dos Santos receber o apoio de moradores da região, que doaram cerca de 400 quilos de alimentos.
É o caso do piscineiro Edgar Bento, de São Pedro da Aldeia, que mobilizou parentes, amigos e conhecidos numa campanha em prol do tratorista, que também arrecadou diversos produtos de limpeza. Foram necessários quatro carros para levar as doações, sendo um apenas de alimentos perecíveis.
– Ver um pai de família chorando porque está passando fome e com amigos na mesma situação me revoltou. Na mesma hora fui nas redes sociais procurar quem quisesse ajudar e no dia seguinte entrei em contato. Mas o tempo todo a preocupação dele era com os amigos – contou.
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