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A água como meio de inclusão social

Tarifa Social da Prolagos alivia orçamento de famílias de baixa renda e empresa vislumbra expansão do programa

10 outubro 2019 - 16h56
A água como meio de inclusão social

POR RODRIGO BRANCO | FOTOS: MARIANA RICCI

Há alguns meses, o cardápio na casa de Valdiléa e da sua filhinha de sete anos ganhou mais cor, a partir da inclusão de legumes e verduras nas compras. Já no apartamento de Sabrine, os filhos passaram a ficar mais tempo debaixo do chuveiro, o que obriga a dona de casa a ser enérgica e a bater na porta do banheiro, mandando-os fechar o registro, para evitar o desperdício. Mudança de hábitos que só foi possível acontecer graças a uma folga no orçamento doméstico, proporcionada por uma conta de água mais barata.

A inclusão social e a melhoria da qualidade de vida são as premissas da Tarifa Social, benefício concedido pela empresa Prolagos à população de baixa renda dos municípios da sua área de concessão. O programa prevê a redução do valor da conta de água pela metade para os moradores que comprovarem o cumprimento de determinados requisitos regulamentados pela Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro (Agenersa).

Para ter direito a ingressar no programa é preciso ter renda familiar de até três salários mínimos e morar em imóvel de até 50 metros quadrados. Também são levados em conta o fato de ser beneficiário de algum programa social do governo e ter média de consumo anual de 10 metros cúbicos de água. Exatamente o perfil dos habitantes do Condomínio Monte Carlo, que fica no Conjunto ‘Minha Casa Minha Vida’, no Jardim Esperança, em Cabo Frio, área considerada carente de atenção do poder público.

Nessas condições, qualquer centavo economizado é uma pequena fortuna para quem precisa fazer o dinheiro render até o fim do mês, caso de Valdiléa Dias Teixeira, de 38 anos, citada no começo desta reportagem e moradora do Monte Carlo.

Ainda se recuperando de uma queda de bicicleta que a deixou com dificuldade para movimentar os braços, Valdiléa vive de uma pensão do pai falecido, que divide com os irmãos e sobrinhos, e do que arrecada com alguns trabalhos manuais. Os R$ 30 a menos na conta de água, desde que deixou a casa em que morava na Reserva do Peró, deram um alívio e tanto no bolso da artesã.

– Não tenho o que reclamar. O valor que eles cobram é único para o condomínio inteiro. Cabe no bolso de qualquer morador. Eu, que tenho criança pequena, sei que suja muita roupa, mas glorifico a Deus porque nada tem faltado – comentou.

 

Valdiléa, Sabrine e Márcia: moradoras do condomínio Monte Carlo, no Jardim Esperança. 

 

Márcia de Souza Spala, de 40 anos, que é vizinha de Valdiléa, também tem destino certo para o dinheiro que seria usado para pagar a tarifa comum. Ex-moradora do Tangará, casada e mãe de dois filhos, ela desembolsava cerca de R$ 100 na antiga residência, contra os atuais R$ 53. Um alívio para quem está em casa, afastada do serviço pelo INSS.

– Era um peso muito grande no orçamento. Invisto em medicamento porque sou encostada pelo INSS por motivo de doença. Essa Tarifa Social ajuda muito – diz a dona de casa, que relata falta da água em apenas três oportunidades desde março de 2018.

Contudo, nem todo mundo que se enquadra nos requisitos do programa sabe que ele existe. O benefício é concedido desde 2012, mas apenas nos últimos anos começou a ser mais difundido. Atualmente, de acordo com a concessionária, existem 8.594 clientes beneficiados pela Tarifa Social, sendo que cerca de 900 deles (10,4% do total) foram cadastrados nos últimos doze meses.

Em um cenário de crise econômica, como o atual, que incide diretamente nos índices de emprego e renda da população, a Prolagos anuncia que quer expandir o benefício. A supervisora comercial da empresa, Isabele Lira, explica que o crescimento no número de beneficiados pelo desconto está relacionado a uma ação mais enfática nas escolas e demais bases comunitárias das áreas consideradas mais carentes entre as atendidas pela concessionária.

Segundo a supervisora, é feito um trabalho de acompanhamento para verificar se os clientes cadastrados no programa ainda se mantêm dentro das condições exigidas para ter acesso à tarifa reduzida pela metade, sem que seja esquecido o projeto interno de expansão para novas famílias em condições de vulnerabilidade social. A possibilidade de mudanças nos critérios para adesão de novos beneficiários está em estudo, mas uma eventual modificação deverá ter a autorização da agência reguladora.

– A meta [de clientes beneficiados] estabelecida pela Agenersa já foi atingida. Só que existe uma norma interna; uma cobrança da diretoria de conseguir levar esse benefício para o maior número de população possível. Hoje, a gente está fazendo um trabalho de transformação social, de divulgação junto com a área de Serviço Social e de Responsabilidade Social, para levar dignidade à população. Hoje, tem um comprometimento da empresa de levar o benefício de água de qualidade, regularizada, se ela conseguir se comprometer a ficar em dia com a conta. Não adianta oferecer esse benefício se a pessoa não consegue arcar com esse custo – ponderou Isabele Lira.

Com relação ao Conjunto 'Minha Casa Minha Vida', todos os moradores do condomínio têm automaticamente direito ao benefício. Motivos para sorrir? Não para todos. A mãe preocupada com o banho demorado dos filhos mencionada no começo desta matéria, Sabrine Pessanha Rodrigues da Silva, de 35 anos, afirma que o valor da sua conta sofre oscilação há meses. Ela alega que, diferentemente do que acontece com suas vizinhas, que pagam um valor fixo, sua tarifa vem subindo desde 2018.

– Essa subida vem causando impacto no meu orçamento. Vem subindo mês a mês, desde o ano passado. Eu não acho caro, no mês, a gente gasta muita água, porém, para quem tem baixa renda e está desempregado, é muito caro – disse, mostrando o valor a ser pago este mês, de aproximadamente R$ 63.

O consumo consciente não é apenas uma preocupação de Sabrine, mas também da própria empresa e dos serviços de atendimento social do município, que faz a interlocução entre os moradores e a Prolagos. Cientes de que tarifa menor não é sinal verde para desperdício, Valdiléa, Sabrine e Márcia concordam com a necessidade de aproveitar o benefício concedido com responsabilidade.

A assistente social Rosinei Nunes, do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) Volante Rosa Brandão, que fica anexo ao Condomínio Monte Carlo, comenta sobre de que forma é feito o esclarecimento junto aos beneficiários.

– A gente faz um trabalho de conscientização a respeito de economizar e, com relação às tarifas, a gente sempre intervém junto à concessionária da necessidade de atrair mais gente, porque as pessoas são muito carentes. Então, realmente é uma coisa muito necessária – diz a profissional, que alega receber poucas reclamações sobre o serviço prestado.

 

Rosinei Nunes, assistente social do Centro de Referência de Assistência Social (Cras)

 

Além dos mutirões que são feitos nas cidades que fazem parte da área de concessão da Prolagos, os interessados em pedir a Tarifa Social podem se dirigir às lojas da concessionária ou entrar em contato pelos canais de comunicação pelo telefone (0800-7020195) e WhatsApp (22 99722-8242) para pedir informações. A partir do contato, serão feitos os trâmites para avaliar se o candidato tem direito ao benefício.

Sobre a reclamação da moradora que alega oscilação na conta de água, a Prolagos informa que não comenta casos específicos de clientes, mas a orienta a procurar o Cras Volante Rosa Brandão, do Condomínio Monte Carlo, para apresentar o problema, que será encaminhado para a concessionária.