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Escritor

Uma fábrica de livros, seu Célio Guimarães fala sobre seu amor pela literatura

Escritor revive história da cidade em 134 obras

03 novembro 2015 - 09h27

Por trás de um sorriso reca­tado, Célio Mendes Guimarães, 85, senta no seu cantinho em casa e viaja pelo mundo dos romances, dos contos, das crô­nicas e até mesmo para aquele passado distante em que viveu e vive novamente através das incessantes pesquisas sobre a história de Cabo Frio. Volta no tempo e reencontra personagens célebres da cidade onde nasceu, como José Paes de Abreu, com quem esteve pela primeira vez aos 14 anos de idade. Nesta singela homenagem, a Folha conta um pouco da vida do seu Célio, autor de nada mais nada menos do que 134 livros e membro da Academia Cabofriense de Letras.

Mais de cem livros publicados é uma marca comemorada por poucos escritores na literatura mundial. Pois bem. Tudo come­çou quando Célio ajudou a filha num trabalho escolar. Desde en­tão, não parou mais. O lançamen­to de ‘A Importância de Um Ser’ (1979) foi como um mergulho no mar da literatura cabo-friense.

– Inspirei-me num dever da minha filha para lançar o meu pri­meiro livro. Tomei gosto pela coi­sa. Escrevi Fragmentos da Vida no ano seguinte. E fui escrevendo, escrevendo... Até desabrochar de vez nesse mundo. Não me fixo a uma ideia só. Tanto que publiquei contos, romances, crônicas, pro­sas. É algo espontâneo, íntimo. Todo escritor deve saber o objeti­vo, as causas, os procedimentos... Isso é o essencial. O resto se de­senvolve sozinho – conta.

Não há como negar: Cabo Frio é o pano de fundo não só das histó­rias contadas por seu Célio, como também pelas vividas – que, no fim das contas, é tudo uma coisa só. Intenso leitor de textos sobre a cidade natal, Célio Mendes Gui­marães relembra a paz que reina­va por aqui antigamente.

– No sentido da tranquilidade, preferia Cabo Frio antigamente. Mas não tenho dúvidas que a ci­dade avançou na direção do pro­gresso. Antes, era preciso atraves­sar o canal de barca para ir para Iguaba – de burro. Além disso, o viajante descansava com o burro para ir para Araruama apenas no dia seguinte. De lá, pegava a Es­trada de Ferro, uma ferroviária, para Niterói. Eram tempos difí­ceis – retira do baú da memória.

Quando questionado se ressu­citaria algum célebre cabo-frien­se, um dos nomes citados foi o de José Paes de Abreu. Curiosa­mente, o português foi um divisor de águas no desenvolvimento de Cabo Frio. E o transporte não es­tava de fora.

– Há uma Cabo Frio antes e depois de José Paes de Abreu. Ele trouxe uma barca para levar os moradores até Iguaba Grande. Logo se vê que resumiu em al­guns dias a cansativa jornada dos cabo-frienses. Além disso, ainda trouxe uma loja da Ford para a ci­dade numa época em que as estra­das eram predominantemente de terra – relembra, saudosista.

Porém, nem tudo foram rosas na vida do escritor. A morte pre­matura do pai surgiu como uma pedra no caminho dos planos do jovem cabofriense, que não teve outra opção senão assumir a barbearia como herança.

– Meu pai morreu cedo e pre­cisei assumir a barbearia dele. Ti­nha sete irmãos e uma casa para sustentar com a minha mãe. Foi uma batalha. Não fazia o que re­almente queria. Foi meio que uma obrigação. Mas tinha consciência de que era um bom profissional. Desenvolvi o negócio mais tar­de. Abri outros salões. Ainda tive tempo de fazer uma faculdade depois dos 40 anos. Haja força de vontade não é? Formei-me na Ferlagos em Português. Isso me ajudou a escrever os livros tam­bém né? – comenta.

Pai de tantas obras, é difícil para Célio escolher “um filho favorito”. Não importa o que considerem ruim. Célio está sem pressa para escrever. Es­creve para si... E só.

– Livro é como um filho, não tem um que você goste mais. Não tenho mais essa ansiedade para publicar um livro. Tenho vontade, simplesmente. Isso não me preocupa mais. Se der certo, ótimo. Se não der, é para mim mesmo.