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Santo Samba, essa sala de recepção em Cabo Frio

Evento celebra três anos com tributos a poetas da Mangueira na tarde deste domingo (11)

11 outubro 2015 - 13h11
Santo Samba, essa sala de recepção em Cabo Frio

Habitada por gente simples, e tão pobre, que só tem um sol que a todos cobre, como podes Mangueira cantar”. Belos versos, Mestre Cartola. A letra de ‘Sala de Recepção’ mostra bem o que é a Estação Primeira. Uma esco­la que atravessa a pirâmide social como um carro alegórico na ave­nida, colorindo de verde e rosa os corações dos ricos e pobres, trico­lores e rubro-negros, religiosos e ateus. Assim também é o Santo Samba, que comemora três anos neste domingo com homenagem a dois gigantes da ‘Mais Queri­da’: Cartola e Nelson Cavaqui­nho. A sala de recepção do Cos­ta Azul estará aberta a partir das 15h. As entradas custam R$ 15.

“Pois então saiba que não de­sejamos mais nada, a noite, a lua prateada, silenciosa, ouve as nossas canções”. Sábio Cartola. Não é preciso realmente desejar muito para apresentar uma roda de samba de primeira. Assim prova a idealizadora do Santo Samba nesses três anos. Luciana organiza o evento no primeiro domingo de cada mês gratuita­mente na Praça São Benedito, na Passagem.

A escolha não poderia ser me­lhor: um ambiente bucólico de um dos bairros mais charmosos de Cabo Frio, que transformou a praça numa capital do sam­ba. Também pudera, após tan­tas edições que se iniciavam na tarde e se estendiam até à noite, com a lua, silenciosa, ouvindo o som das batucadas.

“Tem lá no alto um cruzeiro, onde fazemos nossas orações, e temos o orgulho de ser os pri­meiros campeões”. A benção, Cartola. As preces foram aten­didas. Afinal de contas, sobram motivos para a primeira campeã do Carnaval carioca (1932) se orgulhar. Desde que foi fundada pelos sambistas Cartola, Carlos Cachaça e Zé Espinguela, em 1928, são 17 títulos – atrás ape­nas da Portela, com 23. A escola ainda ostenta uma lista de nomes consagrados na música brasilei­ra com os homenageados do dia e outros como Beth Carvalho, João Nogueira, Nelson Sargento e Chico Buarque. Muitos deles, inclusive, cantados em verso e prosa, em verde e rosa, nas noi­tes do Largo São Benedito.

“Eu digo e afirmo que a felici­dade aqui mora e as outras esco­las até choram, invejando a sua posição”. Ao som de Cartola e Nelson Cavaquinho, é realmen­te difícil ficar triste. No aniver­sário do Santo Samba, o cantor Makley Matos, um capixaba de alma carioca, é o responsável por um repertório de dar inveja. Morador da Lapa, a capital da boemia carioca, carrega uma ba­gagem de contato com grandes nomes da escola como Nelson Sargento e Beth Carvalho. Ele aparece num vídeo da página do evento convidando os cabofrien­ses para o show e batucando um pandeiro, numa pequena prévia.

“Minha Mangueira, essa sala de recepção. Aqui se abraça o inimigo como se fosse irmão”. As portas dessa sala de recepção estiveram abertas para os aman­tes do gênero. Mas nem tudo acabou em samba. A luta da ide­alizadora contra a falta de par­ceria do poder público rendeu o afastamento do evento da praça durante quatro meses. Havia di­ficuldades para arrecadar recur­sos numa festa gratuita. Mas o samba não morreu, tampouco acabou. E pior: abraçou até o inimigo, como se fosse irmão.

– As principais dificuldades são de apoio estrutural. É difícil realizar um evento na rua sem bilheteria. O custo é significa­tivo. É um evento público que a cidade não reconhece. Mas celebrar três anos de um evento que nasceu para ser em um dia é incrível – comemora, apesar dos pesares.