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ANCESTRALIDADE

Roda de conversa debate trajetória da líder quilombola Tereza de Benguela

Bate-papo virtual promovido pelo projeto Nosso Samba será transmitido pelo Facebook da Folha, nesta sexta (23)

23 julho 2021 - 10h53Por Redação

A saga de Tereza de Benguela, uma mulher negra que liderou um quilombo no Pantanal, no século 18, e foi tratada como rainha é o tema de uma roda de conversa virtual promovida pelo projeto Nosso Samba, nesta sexta-feira (23), às 19h, com transmissão pelo Facebook da Folha dos Lagos. A live celebra o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha, que está marcado no calendário para este domingo (25), data que também é dedicada à líder quilombola. 

Participam da roda de conversa a professora e coordenadora do Coletivo Griot, Márcia Fulô; a designer de joias afro, estrategista digital e idealizadora do projeto Afronta Lagos, Joice Emiliano; a atriz, comunicadora, pesquisadora e ativista LGBTQIA+ Ágatha Íris; e a roteirista, poetisa e produtora Taytha Selezia. A mediação será da produtora cultural, pesquisadora e sócia do projeto Nosso Samba Carol Gonçalves.

Figura pouco lembrada pela historiografia oficial brasileira, Tereza estruturou o Quilombo Quariterê, que ficava localizado no território do atual estado do Mato Grosso. Sob o seu ‘reinado’, a comunidade se estruturou por meio de estratégias econômicas, políticas, administrativas e militar para sobreviver e manter de pé negras, negros e indígenas fugitivos da mira do poder colonial. A história da rainha quilombola foi abordada na ópera popular do Carnaval, em 1994, ao ser enredo da escola de samba Unidos do Viradouro. 

– Um dos valores civilizatórios afro-brasileiros é a ancestralidade. Entendemos que o presente é possível graças a quem abriu caminhos pra nossa continuidade e permanência.  Unir mulheres negras para reverenciar Tereza de Benguela na semana que marca sua celebração nacional é fazer o movimento de sankofa, se espelhar no passado para criar estratégias pro futuro.  E não só, acredito que esse encontro é uma pequena contribuição contra o esquecimento e contra o epistemicídio. Precisamos recontar nossas histórias enquanto povos negros e indígenas, desestruturar os lugares subalternos que a colonialidade nos impôs e fabular o por vir onde a vida digna é possível em toda a sua totalidade – avalia a produtora Carol Gonçalves.

A ‘Rainha Tereza’ assumiu o quilombo depois da morte de José Piolho, com quem era casada, por soldados do Estado. Sob o seu comando, o quilombo resistiu por cerca de duas décadas. Como o território do quilombo era considerado de difícil acesso, a líder quilombola teve as condições adequadas para coordenar um forte aparato de defesa. Na parte administrativa, um parlamento foi criado para decidir em grupo as ações da comunidade, que tinha cerca de cem pessoas.

“A roda de conversa convocada pelo projeto Nosso Samba surge com o propósito de reverenciar nossa ancestral e toda sua trajetória na luta antiescravocrata durante o século XVIII no Brasil. Convidamos quatro mulheres negras de Cabo Frio para celebrar o seu legado e compartilhar suas vivências e fabulações para o que se espera para o hoje e o futuro. Mesmo com os atravessamentos racistas que, assim como no Brasil colonial, tentam destruir nossa humanidade (física, psicológica e espiritual), seguimos abrindo caminhos para nós e para nossas descendentes”, diz o texto de divulgação do evento. 

Nosso Samba – O projeto surgiu do desejo de dar visibilidade a rodas de samba e projetos empreendedores protagonizados por mulheres em Cabo Frio e região. Por meio da música e da economia, houve a união de força, criatividade e talento feminino. O projeto acontece desde o final de 2018 em Cabo Frio, cidade da Baixada Litorânea do estado do Rio de Janeiro, se firmando na Região dos Lagos como um evento colaborativo que evidencia o foco do protagonismo de mulheres na música, na produção cultural e no empreendedorismo criativo, culminando em um dia de programação aberto de forma gratuita ao público, a cada dois meses em média. 

O protagonismo das mulheres é o principal motivador do Nosso Samba, visto que, ainda se faz necessário a promoção de iniciativas que levem em conta a democratização do acesso econômico e cultural pelo recorte de gênero. Sendo assim, são compreendidos no projeto os empreendimentos e projetos artístico-culturais realizados por mulheres de Cabo Frio e Região, utilizando o samba como enredo principal para formatar um terreno propício para expandir a presença de mulheres em segmentos até então, predominantemente masculino, quebrando barreiras e paradigmas impostos historicamente.