Durante o processo de montagem de Ressurgência, Rapha Ferreira enfrentou um desafio que não era apenas logístico, mas também simbólico: como transformar a diversidade criativa da Região dos Lagos em uma narrativa única? Junto a Beatriz Pedrosa, museóloga e curadora da exposição, ele encontrou a resposta na pluralidade — um reflexo de uma efervescência artística local que vem ganhando força.
A exposição, que pode ser visitada até 2 de junho no Palácio das Águias, no Centro de Cabo Frio, reúne 21 artistas com obras que vão de esculturas, bordados e pinturas a fotografias, colagens e performances. A entrada é gratuita, e além da visitação durante a semana, o público poderá participar do vernissage nesta sexta-feira (9), às 18h, com coquetel e performance.
A escolha do elenco não foi simples, diz Beatriz, mas certeira: a curadoria buscou nomes que dialogam entre si e que ajudam a construir uma narrativa sobre identidade local, ainda que alguns já tenham trajetória reconhecida fora de seus locais de origem. Revela-se um território criativo e potente, marcado tanto pela memória quanto pela experimentação.
O conceito que dá nome à mostra — ressurgência, fenômeno sazonal das águas na região — tem também um papel metafórico. As cidades da Região dos Lagos já foram referência nas artes visuais, projetadas para o mundo por figuras como Torres do Cabo, Oliveira Celso e Reinaldo Caó.
Segundo Rapha, hoje, a cena se reinventa com novas linguagens e interlocuções, mas ainda carece de investimento e vontade política para prevalecer. Ele defende a criação de uma escola ou universidade de artes visuais como caminho para a profissionalização e o fortalecimento desse ecossistema.
Beatriz, por sua vez, destaca o papel fundamental da museologia no projeto: do circuito expositivo ao cuidado com a preservação, passando pela acessibilidade — com recursos como audiodescrição e QR codes —, cada detalhe foi pensado para que o público tenha uma experiência de imersão e descoberta.
— A arte não tem um papel único: provoca deleite, estranhamento, questionamento. É preciso se permitir desacelerar e olhar — reflete ela.
Mais do que reunir artistas, Ressurgência sinaliza um movimento de renovação das artes visuais na Região dos Lagos e abre espaço para discutir os desafios e caminhos desse cenário.