sexta, 26 de abril de 2024
sexta, 26 de abril de 2024
Cabo Frio
24°C
Park Lagos Super banner
Park Lagos beer fest
Cultura

Protesto marca transição na Secretaria de Cultura de Cabo Frio

Meri Damaceno deixa secretaria com o apoio de manifestantes; Milton Alencar manda representante

02 julho 2019 - 08h32
Protesto marca transição na Secretaria de Cultura de Cabo Frio

TOMÁS BAGGIO

Música e protesto marcaram a transmissão do cargo da ex-secretária de Cultura de Cabo Frio, Meri Damaceno, para o atual secretário, Milton Alencar, ontem no Charitas. Milton acabou não participando da transmissão do cargo e foi representado por Ítalo Luiz Moreira, que faz parte da nova equipe. Ítalo recebeu das mãos de Meri a documentação referente aos processos que estão em andamento e o inventário da pasta. Após a entrega, membros da classe artística fizeram um protesto com músicas satirizando a troca no comando da secretaria. A manifestação saiu do Charitas e foi até a sede da Prefeitura, onde uma carta de repúdio à saída de Meri foi entregue.

Desde que Milton foi anunciado como secretário de Cultura na semana passada, a Folha vem tentando entrevista com ele. Ontem, membros da equipe que está assumindo disseram que ele vai falar após tomar conhecimento da situação da secretaria. A reportagem também pediu uma nota para a assessoria da Prefeitura, mas não teve retorno.

Meri Damaceno contou que Milton Alencar esteve com ela no início da manhã, dizendo que outra pessoa iria representá-lo na transição do cargo.
– Foi uma conversa rápida. Ele disse que não iria ficar por causa da manifestação, que não se sentiria à vontade e que mandaria um representante para a passagem do cargo – disse ela.

Em entrevista, Meri disse que o prefeito Adriano Moreno perdeu o controle do governo, que se sentiu traída e que “ já sabia que queriam a Secretaria de Cultura para fazer política”. Veja a entrevista completa:

Folha dos Lagos – Como foi a transição?

Meri Damaceno – O Milton já tinha vindo falar comigo na quarta-feira. Passei o que está em andamento, como o processo do Proedi (edital de fomento a projetos culturais), a lei dos artistas de rua, a lei do grafite, a situação do Teatro Municipal, entre outros. A secretaria não tem nenhum grande problema. Eu disse a ele que, qualquer dúvida que tiver, pode me ligar a qualquer momento. Estou entregando um inventário grande explicando tudo. Em princípio está tudo muito bem organizado. Hoje (ontem) foi uma conversa rápida. Ele disse que não iria ficar por causa da manifestação, que não se sentiria à vontade e que mandaria um representante para a passagem do cargo.

Folha – Na semana passada, após saber pelo noticiário do convite ao novo secretário, você disse que tinha ficado frustrada e entristecida com a situação. Após esses dias, qual é o seu sentimento?

Meri – Frustração mesmo, porque a gente tinha muitos projetos legais. Queria tanto fazer a restauração da Fazenda Campos Novos, comprar o acervo do (fotógrafo) Wolney (Teixeira), a reforma Charitas, a entrega do Palácio das Águias, que a Prefeitura vai receber do Itaú após um acordo... o Palácio das Águias foi uma luta que eu participei em 1988 e quase tive a felicidade de recebê-lo na minha gestão. Mas fico feliz do mesmo jeito porque sei que vai vir para o patrimônio do município, para a Secretaria de Cultura, não importa quem estiver como secretário. É uma vitória da cidade. Agora vou dar um descanso, cuidar da saúde, mas, claro, eu volto para a luta, para as coisas que eu acredito. Só tenho a agradecer a uma equipe tão maravilhosa que esteve comigo. Comparo à minha equipe à que esteve em 1977 com Márcio Werneck e Amena Mayall. Foram 11 meses que pareceram 11 anos porque deixamos uma marca. Quando foi que se viu uma mobilização tão grande para defender uma equipe e uma secretária? Sinceramente, não lembro. 

Folha – Você disse que, ao ser comunicada do seu afastamento, ouviu de seus interlocutores que “bondade não cabe na política”. Como foi isso?

Meri – Sim, mas eu acho que o nosso trabalho mostra, justamente, que vale a pena botar gente boa na politica. Mesmo que eles digam que não cabe gente boa na politica, que a bondade não cabe na politica, estão enganados. Essa bondade que eles estão dizendo que não cabe, na verdade, se chama honestidade e caráter. E a minha equipe provou que cabe, sim. Todo esse apoio que estamos tendo mostra que vale a pena ser honesto, não se curvar para a Câmara Municipal. Por mais que tenham feito de tudo para me tirar, e conseguiram.... os vereadores com Ricardo Varella, com Miguel Alencar, com Ribamar e o próprio Adriano. A resposta está nas ruas, nos segmentos culturais e nas casas das pessoas que estão acompanhando tudo o que foi feito.

Folha – Já esteve com o prefeito após o anúncio da sua saída?
Meri –
Não. E nem pretendo.

Folha – Mas vocês tinham uma relação de amizade pessoal... 

Meri – Muito, muito. E quero dizer para Adriano (se emociona).... que todos os abraços que eu dei nele, todas as palavras carinhosas, de força, eu não me arrependo.  Às vezes eu o via tão angustiado, eu saía de lá angustiada também, mas não deixava ele saber. Eu falava ‘eu te amo’ e ele falava ‘eu te amo’. Mas o meu ‘eu te amo’ era de verdade. Já da parte dele eu não sei, depois do que ele fez, da forma que me tratou, não sei mais se era verdade. Queria dizer que todos os abraços foram de verdade, em momento nenhum foi por cargo, se não eu continuaria no governo. Eu sentia que ele queria mudar Cabo Frio, acreditei que ele era contra tudo o que foi feito nos últimos 20 anos, que a gente não concordava.

Folha – E agora?

Meri – Não acredito mais. Diante do que fez com uma pessoa como eu, honesta, leal. Eu não merecia esse tratamento por parte dele. Não digo nem dos outros, porque eu não votei nem acreditei nos outros. Depois de quarta-feira eu desconheci completamente. Ele nem me recebeu. Ele perde politicamente com isso. Não que eu seja um excelente cabo eleitoral, mas porque ele foi desrespeitoso e mal educado. E todo mundo viu. Então ele perde. Mas Adriano vai passar, assim como eu estou passando, o que fica é Cabo Frio. Acho que Adriano perdeu essa oportunidade de transformar a cidade. Ele era a esperança.

Folha – Acredita que o prefeito tem o controle do governo?

Meri – Não, não acho. E daqui pra frente ele só vai perder e se enrolar cada vez mais. Envolvido cada vez mais com as coisa que ele dizia em todas as reuniões, quando ele falava “vamos quebrar esse paradigma”. Ele não quebrou o paradigma, ele reforçou o paradigma, está endossando e engrossando o paradigma. Eu sempre o admirava por achar que seria diferente. Mas, ao que parece, é muito fácil de ser manobrado.