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Risadas inesquecíveis

Porchat e Paulo Gustavo no Fesq Cabo Frio 2004: 'Paulo era de longe a pessoa mais engraçada'

Produtor Luca Morais compartilha as memórias da apresentação da dupla no Teatro Municipal

05 maio 2021 - 16h12Por Luca Morais

Paulo Gustavo desceu do carro com um travesseiro na mão e uma bolsa de figurino... Era o ano de 2004, início Fesq Cabo Frio — festival de cenas curtas que tava começando no Teatro Municipal, na beira da praia no interior do Rio. Chegava junto com seu amigo Fábio Porchat , ainda estudantes de teatro, e eu era responsável por receber os grupos para passagem de luz e som. 

"Tao vindo de onde?" perguntei...

"De Nikiti, meu amor", respondeu Paulo, com seus 20 aninhos, fazendo piada sobre a viagem de Niterói, tirando areia do sapato. O ensaio foi rápido. 

"Não usamos nada, só duas cadeiras", disse ele arrumando a cena.

À noite, com o teatro lotado, fez todos darem risada com a esquete "Ovo", escrita pelo jovem Porchat. Uma reflexão bem humorada sobre a palavra "cu". Sim, apesar do nome "Ovo", era uma cena sobre a denominação do orifício anal.  O público gargalhou, mas os jurados detestaram! Num festival cheio de alunos de teatro da CAL, Tablado, UniRio, Martins Pena... jamais iriam dar o prêmio para uma dupla que não tinha nem cenário...

O público se apaixonou por eles. Paulo já era uma explosão de carisma 24 horas, dançando no camarim, acordando o alojamento, fazendo performance na calçada, reclamando do sol, dando cantada nos surfistas... Era de longe a pessoa mais engraçada por perto e sempre! Impossivel não notá-lo.

Na noite da final, eles assistiam da plateia as cenas escolhidas, aguardando ao menos uma indicação pra "melhor ator", que não aconteceu... O público se revoltou! E começou a exigir que eles apresentassem a cena no palco: o que era contra o regulamento, apenas os finalistas podiam reapresentar . A produção negou.
No intervalo, a pedido das pessoas, eles começaram a fazer cena na porta do teatro, na rua mesmo... A plateia ficou vazia!  Todos correram para fora para ver a dupla. Eu, a produção Pablo Alvarez , Yuri Vasconcellos , a equipe , ninguém sabia o que fazer...

Não teve saída. Abrimos as cortinas e pedimos pra eles subirem no palco. O públicou enlouqueceu! Enquanto arrumávamos a cena, todos gritavam em uníssono: 

— "O-vo! O-vo! O-vo"!

Os meninos de Nikiti não ganhavam o júri, mas conquistavam até os colegas concorrentes. O bilheteiro, a moça da cantina, os contrarregras na coxia, todos correram pra ver de novo a cena injustiçada. No fim, a plateia veio abaixo e aplaudiu de pé!

Eu tava na cabine de som, e empolgado, coloquei uma música pra tocar e pisquei as luzes. Paulo começou a dançar e todos subiram no palco para performar com ele.

Foi uma aclamação! Nunca mais houve nada parecido no FESQ... Ele quebrou a regra, desarmando com humor qualquer tentativa de baixo astral.  Foi assim todas as vezes que eu o reencontrei pelos palcos nessa caminhada meteórica que ele construiu... Que apesar do gigantismo, ainda era o mesmo garoto de travesseiro na mão batendo pó do sapato, gargalhando, limpando as areias da vida.  

Que brilhe também em outro plano...

*Luca Morais começou no teatro Tablado, é formado em jornalismo pela UFF e hoje atua como escritor, compositor de trilhas e  produtor cultural. Participou da produção e curadoria  do Fesq desde o seu início em 2003 até os dias atuais. No Fesq deste ano ministrou a oficina "A História do Fesq em Esquetes" sobre  as memórias do festival cabofriense.