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Paulo Cotias lança livro na próxima quinta-feira (16)

Professor publica 'Salinas', que traz o lado mais obscuro da república

12 fevereiro 2017 - 13h04
Paulo Cotias lança livro na próxima quinta-feira (16)

Paulo Cotias refuta de bate-pronto a ideia assertiva de que “todo político é mau por natureza”.

– Não existe nada mau por natureza. Esse estado de natureza descrito [pelo filósofo] Thomas Hobbes é controverso, mas também não acredito na contrapartida de Rousseau, segundo a qual o homem nasce bom e a sociedade o corrompe. O homem não nasce nem bom, nem mau. O homem nasce – opina o historiador.

Que o diga Antonio Salinas, que nasceu em berço de família abastarda, filho de coronel, e morreu deixando um legado de subdesenvolvimento após décadas de desmandos cometidos durante sua vida pública em Campo Belo. É justamente na esteira das histórias protagonizadas por Salinas – que desnudam a face mais obscura da vida pública – o desenrolar do enredo de ‘Salinas’ (Sophia Editora, R$ 35), livro que Cotias lança na próxima quinta, às 18h30, durante o sarau Flores Literárias, no Charitas, no centro de Cabo Frio.

– O livro é um arquétipo da política brasileira. Mostra como o Salinas foi se estruturando na vida política, como montou seus grupos e relações de poder. A obra condensa em seus personagens e histórias todo um lado oculto que o eleitor não percebe; apenas tem uma intuição. Isso envolve as práticas mais sujas, mais baixas, como assassinatos e perseguições, ao passo em que é construída uma aparência de normalidade, protagonismo e até mesmo de honestidade – explica.

As histórias de Antonio Salinas já são conhecidas daqueles que leram o primeiro romance de Paulo Cotias –‘Boulevard’, lançado no ano passado. Nele, o político narrava suas memórias. Em ‘Salinas’, entretanto, adianta o autor, há o acréscimo de doses generosas de ação. – O livro é cinematográfico – promete.

Tudo começa com um misterioso envelope, que contém todo o testemunho deixado por Antonio Salinas sobre sua vida pública. Sem censura alguma. Essa foi a última manobra ardilosa da raposa política: a notícia da existência de tais documentos fez toda a classe política de Campo Belo logo entrar em pânico generalizado.

– O envelope é a coluna vertebral do livro. É uma armadilha pós-morte do Antonio Salinas. Nele, há pistas que atingem todos os personagens políticos que colaboraram para sua destruição como pessoa pública. É uma vingança – conta o escritor, que brinca a tal ponto com a realidade que também se torna personagem, como professor recém-chegado a Campo Belo.

– Por uma questão de amizade com atendente da cafeteria onde Antonio Salinas morre, recebo esse envelope. Eu e a atendente acabamos em grande risco.

Entretanto, Cotias desconversa com a pergunta que não quer calar: afinal, da onde saiu a inspiração para criar os personagens e as situações vividas por eles?

– Não foi inspirado em nenhuma situação específica, apesar de eu escutar muitas coisas, ouvir e ler história da cidade através de jornais, contos e cafezinhos. Na verdade, é uma situação arquetípica. E, quando se fala de arquétipo, o local, o regional e o universal acabam se identificando. Claro, é muito mais fácil, em cima disso, o leitor reconhecer personagens, condutas, práticas. Mas são fatos que podem acontecer em Cabo Frio, em Arraial ou na Rússia – explica.

Para ele, o importante é que a história transcenda o entretenimento, levando também uma reflexão do leitor sobre os mecanismos do sistema político.

– Espero que o público possa, a partir deste romance, concluir que não podemos nos tornar participantes deste universo de maneira ingênua. Precisamos enxergar o que acontece nos bastidores. E precisamos formar uma nova geração de políticos. É possível ser honesto. É possível ser político e ser remunerado por isso, desde que seja de forma honesta.

E se o político resolver não receber sua remuneração, como fez o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB)? Para Paulo Cotias, essa é outra história. Trata-se, segundo ele, de pirotecnia política.

– Nesse caso, é algo perigoso. Weber fez uma crítica à tendência, no século 19, de acharem que só ricos podem ocupar altos cargos, porque eles não precisam de dinheiro. Sabemos que, no Brasil de hoje, não é bem assim. É difícil encontrar um rico que não tenha recebido uma benesse, uma isenção fiscal, uma ajudinha. Os ricos mandam muito. Elegem quem querem, fazem o que querem. O problema é que as classes populares olham para o rico com o desejo de ser o rico de amanhã.

Se ninguém é mau por natureza, Cotias avalia que a população, grosso modo, aprendeu a fazer o jogo dos maus políticos ao longo do tempo.

– O povo é pragmático. Aprendeu no coronelismo brasileiro a ser pragmático. A utilizar a política para necessidades imediatas: a vaga para o filho trabalhar, vaga na escola, exame, cirurgia... Se existe salvação, não se sabe. Mas enquanto na vida real a situação parece longe de melhorar, a ficção pode andar em caminho oposto: pode haver luz no fim do túnel em Campo Belo. Depende, é claro, da inspiração – e do humor – do autor, que por enquanto só faz mistério.

– Isso vocês vão ter que descobrir no terceiro livro (risos) – finaliza.

SARAU FLORES LITERÁRIAS. Quinta-feira (17), às 18h30, no Charitas. Evento contará com apresentação do maestro Angelo Budega e participação de outros escritores.