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Cultura

“Minha sala está aberta a todos”, diz Milton Alencar

Secretário de Cultura esquiva-se de polêmica com artistas contrários a ele e garante continuidade de projetos de Meri Damaceno

20 julho 2019 - 09h22
“Minha sala está aberta a todos”, diz Milton Alencar

RODRIGO BRANCO

O som de um pianista que ensaiava no Charitas transmitia uma tranquilidade que contrastava com a agitação dos dias anteriores, quando dezenas de representantes da classe artística do município ocupavam pacificamente o local para protestar contra a saída da antiga secretária de Cultura Meri Damaceno e a nova gestão da pasta. Pivô da polêmica, o cineasta Milton Alencar Junior recebeu a reportagem da Folha e, de cara, negou que tenha pedido a desocupação do espaço.

Dizendo ter “virado a página”, o novo secretário tentou evitar novos desgastes e não quis comentar a acusação de que tramou para ficar no lugar de Meri, mas garantiu que não haverá perseguições contra o movimento de artistas contrários a ele e que vai atender a todos. 

– O resultado foi positivo. Nos reconhecemos mais, nos entendemos melhor no processo, quais as nossas diferenças. Saio dessa situação mais rico do que quando entrei. 

Na entrevista, Milton Alencar fala ainda dos planos para gestão, elege a reabertura do Teatro Municipal e a volta do Proedi como prioridades e diz que dará transparência aos recursos do orçamento. Confira a seguir.

Folha dos Lagos – A iniciativa de pedir a desocupação do Charitas partiu de você?

Milton Alencar – Não foi iniciativa minha. Eu já tinha decidido não falar mais sobre esse assunto porque eu virei a página disso da minha vida profissional. Mas só para reforçar, não tive nenhuma participação nessa reintegração de posse. Cheguei a ver nas redes sociais que falaram que tinha assinatura minha no documento, mas não tinha. 

Folha – Com relação às pautas do movimento de artistas, como a nomeação dos conselheiros de Cultura e a publicação do Regimento Interno, você se compromete a fazer?

Milton – Essas coisas são naturais, já deviam ter sido feitas. Já era para ter acontecido, se não aconteceu a gente vai corrigir. Fui presidente do Conselho durante muito tempo, então sei da importância do conselho. Conseguimos muitas coisas importantes para Cabo Frio via Conselho Municipal de Cultura, como a obra do teatro, por exemplo. Isso foi em 1997. Assim que ele estiver nomeado, uma das minhas prioridades é fazer ele funcionar.  A questão do Regimento Interno, estamos fazendo isso. Faz parte do processo. 

Folha – Será realizada audiência pública com a presença do prefeito, como está sendo reivindicado pelos artistas?

Milton – Não sei. Isso tem que perguntar para o prefeito. Estou no governo do prefeito Adriano, muito feliz, por sinal. Batalhei bastante para que isso acontecesse com visibilidade, com representatividade. Passei minha vida toda lutando por liberdade de expressão. Pretendo ouvir as demandas dos vereadores da mesma forma que que eu ouço as demandas do prefeito. Tenho feito boas agendas com o prefeito. A superintendência LGBT foi nomeada ontem (quinta). O movimento de Pesquisa e Cultura Negra está sendo montado. Isso me anima muito. Isso é luta, é uma conquista que tivemos ao longo desse tempo todo. É o meu papel como representante da comunidade cultural.

Folha – O que tem a dizer da acusação de que assumiu o cargo por meio de um golpe contra a gestão anterior?

Milton – Eu não acho. Não quero comentar, porque acho que não me cabe esse tipo de coisa, não me cabe esse tipo de comentário.

Folha – Mas você pretende estabelecer diálogo como esse grupo que se opõe à sua gestão?

Milton – Sempre. Sou secretário de Cultura de todo mundo. A Secretaria de Cultura está aberta para qualquer segmento conversar. Sempre esteve. Desde que eu cheguei há 10 dias, esta porta está aberta para quem quiser conversar comigo. Eu não vou fazer jogo. Digo se é possível ou se não é possível, até porque estou começando a entender o tamanho certo da minha secretaria, o que eu posso almejar.

Folha – Então você está dizendo que não haverá distinção ou perseguição a artistas.

Milton – Com certeza. Quaisquer artistas que eu reconheço, como os que estavam aqui, são pessoas da cidade. Então não tem discriminação. Está aberto para quem quiser.

Folha – O prefeito comentou em entrevista que não reconhece os artistas que estavam na ocupação como representantes significativos da cultura da cidade. Você concorda com ele?

Milton – Não vou comentar a fala do prefeito. A fala dele é soberana, eu respeito a fala dele. 

Folha – Mas qual a sua opinião sobre eles?

Milton – A minha opinião é que a porta está aberta para qualquer segmento conversar comigo. Eu sou representante da municipalidade em relação à atividade cultural. Conheço as pessoas, são pessoa com quem eu esbarro por aí no dia a dia. Já tenho mais facilidade para lidar com essas coisas. Não vou tripudiar em cima das coisas. E, é; não é, não é. Isso vai ser bem claro pra mim. Eu sei exatamente o que a gente pode fazer.

Folha – O que pretende fazer de diferente em relação ao que estava sendo feito na gestão da Meri?

Milton – Primeiro, a gestão da Meri foi a gestão da Meri. O dossiê que eu recebi da gestão está aqui na minha mesa. Sempre vou a ele para verificar, mas também outras gestões passadas. Na verdade, boa parte do que foi proposto na gestão anterior vai continuar. Agora eu preciso entender como fazer para viabilizar ou não cada um desses projetos. A primeira grande movimentação que a gente pretende fazer é a Semana Sebastão Lan, que é nos dias 26 e 27. É o primeiro grande acontecimento da nossa gestão. 

Folha – Quantos servidores herdou na secretaria? Haverá redução?

Milton – Um dos objetivos que recebi é fazer esse enxugamento. Mas ainda não temos os números de funcionários. Não teve nomeação na secretaria. 

Folha – Mas você não foi informado quantos funcionários você recebeu da gestão anterior?

Milton – Isso não gostaria de comentar, porque eu posso errar e criar outro tipo de imbróglio que eu não quero. Vou saber daqui a algum tempo quantos estão entrando, apesar de já ter um tamanho que eu recebi como incumbência para poder cumprir. Semana que vem, a gente já vai ter essas nomeações.

Folha – Como vê o Plano de Cultura?

Milton – Foi um avanço, uma coisa que a gente batalhou por muito tempo. Assim como o orçamento de 1% para a Cultura.

Folha – Como você pretende dar transparência ao orçamento?

Milton – Não sei de que maneira que eu vou receber esse 1%. Vou lutar por eles. Já fiz antes, lutar por orçamento. Essa determinação do 1% é recente, é uma lei do Legislativo. Não tínhamos isso antes. A gente sempre batalhou pela possibilidade de aumentar. Agora transparência sempre vai ter, porque eu faço questão de fazer isso e porque sempre foi assim. Não tem porque não ser assim. Além do portal da transparência, tem a nossa própria necessidade dentro da comunidade, que precisa de transparência absoluta. Não tem o que esconder.

Folha – Voltando ao Plano, para você é a construção ideal?

Milton – Eu li o plano. Se está aprovado, está aprovado, não cabe discussão. Tem alguns itens que ali que eu discordo, mas agora não vale a pena. Com o passar do tempo, vamos passar por experiências boas ou ruins e, quem sabe, lá na frente passa pelo processo de novo e tentar fazer algumas emendas, mas é para o futuro. 

Folha – Haverá Proedi este ano?

Milton – Quando assumi pedi ao prefeito para cumprir dois papeis, são o Teatro Municipal e o Proedi. O Teatro Municipal, eu não entendo como é que fica fechado. Não sei por que está fechado. Fui fazer uma verificação, já era para estar aberto, não entendo nem por que fechou. O teatro foi inaugurado na minha gestão, foi a primeira grande conquista do Conselho Municipal de Cultura. Não entendo como está fechado há um ano, só se ele estivesse caído e não é o caso. 

Folha – Foi um erro fechá-lo, na sua opinião?

Milton – Agora até eu entendo porque está fechado, pela falta de iluminação. Mas acho que poderia ter aguentado um pouco mais para fechar. Acho que a comunidade não merece o teatro fechado durante ano. Sobre a luz, estou tentando solucionar de maneira técnica e profissional, mas ainda não tive resultados práticos. A obra não está parada, a parte de dentro está levantada. Há uma exigência do Corpo de Bombeiros, sobre o espaço entre as cadeiras, que diminui pela metade a lotação do teatro. 

Folha – Você pode precisar uma data para a reabertura?

Milton – Prefiro não dizer uma data porque posso ser cobrado depois, mas eu estou na cola. Assim como do Proedi. Não tem sentido o teatro está fechado, é um monumento. Outra coisa é o Proedi porque eu preciso oxigenar a classe artística, que precisa produzir. E o Proedi é um mecanismo para isso. Não tem verba destinada para isso, mas já estou em conversação para que isso aconteça. A verba do último Proedi, se eu não me engano, foi de R$ 550 mil. Estamos vivendo um momento conturbado no país, mas acho que oxigenaria a classe artística com a verba significativa. Mas qual é a verba significativa é o poder público que vai definir.

Folha – Quais os seus planos para desenvolver a Cultura na periferia?

Milton – Começamos com a Semana Sebastião Lan, que é toda pra lá. Objetivamente, Tamoios e toda a região do Grande Jardim Esperança é o nosso objetivo. Aqui, você abre o Charitas para uma exposição, a porta está aberta, a luz está acesa. Você tem uma receptividade, lá é difícil, é outro tipo de coisa que acontece. Numa época, tivemos departamento de cultura na subprefeitura do Jardim Esperança e em Tamoios. Tinha uma movimentação. Fizemos belas exposições,  espetáculos de teatro. São coisas que a gente tem que retomar. Temos usar todas as igrejas que tiverem disponibilidade para receber projetos culturais.

Folha – Qual a tônica da sua gestão?

Milton – A tônica da minha gestão vai ser ‘todo mundo’. A gente vai precisar de todo mundo.