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VIDA ANCESTRAL

Curta-metragem resgata memória dos sambaquis na Região dos Lagos

"Um Jantar no Sambaqui" tem a duração de 40 minutos e já está disponível no You Tube

22 setembro 2020 - 18h55Por Julian Viana

Você já ouviu falar nos sambaquis? A palavra de origem tupi-guarani significa ‘amontoado de conchas’. Muito além de uma definição, o termo apresenta indícios de um povo que habitou essas terras há milênios. Com o intuito de resgatar a memória identitária deste povo na Região dos Lagos, o curta-metragem “Um Jantar no Sambaqui” foi feito por artistas locais. A obra tem a duração de 40 minutos e já está disponível no You Tube. 

Idealizado pela artista Liana Turrini, o projeto tem como objetivo principal apresentar como vivia o povo sambaqui . Segundo Liana, o curta é uma viagem no tempo, que nos mostra como o povo pescava e temperava o pescado com aroeira e sal grosso. 

– O sambaqui envolve toda uma construção do amontoado. Era um povo que tinha certo tipo de vida e que, ao longo do tempo, foi se aprimorando. Existem 160 sambaquis aqui na região. O próprio Shopping Park Lagos foi construído em cima de vários deles – ressalta.

Liana mora da Região dos Lagos há 40 anos e possui o título de cidadã cabo-friense. Ela também foi presidente da Associação de Meio Ambiente de Cabo Frio, que defende o patrimônio dos sambaquis. Ela conta que sempre se encantou com o modo de vida e as curiosidades da pré-história.

A artista também afirma que “a história do homem sambaqui está soterrada” e que precisa ser valorizada. Por se tratar de uma viagem no tempo de seis mil anos, o fio utilizado para apresentar o elo entre o passado e o presente foi a restinga. 

– O povo sambaquiano viveu há dois mil anos. Não dominava a olaria (barco e cerâmica), a agricultura e a domesticação de animais. Viviam da caça e coleta. Quando os tupinambás saíram da Amazônia, em 1300, resolveram ocupar todo o litoral brasileiro e encontraram o povo sambaqui aqui no litoral – relembra. 

Com a direção do Guto Madeira, o processo de gravação e edição do filme durou um mês. O projeto foi contemplado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro, através do edital Cultura Presente nas Redes. O curta está entre os 70 projetos que foram aprovados de toda a Região dos Lagos. 

– Confesso que foi um baita desafio para toda a nossa equipe. O projeto é uma produção totalmente independente de artistas locais. Todo o filme é de nossa produção, desde o som ambiente, figurino, coloração, sonoplastia e imagens capturadas – ressalta Guto, enfatizando que foi um trabalho bem detalhado em um prazo de tempo curto. 

“Se a restinga era mãe, o mar era o pai do sambaqui”

Liana conta que o texto é de sua autoria. A literatura intelectual-poética da artista contou com dialetos locais, que foram utilizados com o intuito de resgatar a memória de todo o povo. A artista ressalta que os movimentos de agachar e remar estão ligados ao comportamento sambaqui. 

No curta, uma receita é realizada para representar como o povo se alimentava na época. A caça e a pesca fazem parte de toda a história do povo. Além da culinária, o artesanato também foi abordado no curta, onde os pratos foram feitos com conchas e fibras da folha do guriri, e os talheres e outros utensílios da cozinha com galhos de aroeira. 

– Esta memória identitária resgatada pode gerar um novo olhar para o turismo de base alimentar. A anchova com batata frita e salada pode ser substituída por uma posta de cavala – ressalta Liana. 

A obra contemporânea relembra o passado e o transforma para o presente, visando o futuro com base na memória identitária.