Sambista da mais alta patente, Nélson Sargento escreveu em 1979 sobre a resistência do ritmo em seu clássico ‘Agoniza, mas não Morre’. A julgar pelo crescimento da quantidade de talentos e espaços surgidos nos últimos tempos, o samba dá mostras de vitalidade e de que está muito longe do ‘suspiro derradeiro’.
É nessa ‘maravilha de cenário’ que o cantor e compositor Max Prates observa a projeção de seu trabalho para muito além dos limites da Região dos Lagos, que escolheu para viver há nove anos. Nome conhecido pela participação em eventos como o ‘Santo Samba’, em Cabo Frio e projetos como o ‘Verão Musical’, em Arraial do Cabo, Max começa a alçar voos ainda mais altos, rumo a um dos redutos mais tradicionais do gênero musical fundado por Ismael Silva, Marçal, Bide e Heitor dos Prazeres: a Lapa.
Aos 45 anos, o carioca nascido na Madureira das históricas Portela e Império Serrano experimenta novo impulso na carreira, ao participar da 8ª edição do Concurso ‘Novos Bambas do Velho Samba’, promovido pelo Bar Carioca da Gema, do boêmio bairro da capital.
Após passar pela primeira etapa, Max figura em uma lista com outros 11 artistas e grupos para submeter-se à votação do público pela internet, na página concursonovosbambas2014.blogspot.com.br. Os finalistas se apresentarão no palco da casa noturna, mas para o sambista, que já tinha tentado participar da disputa outras duas vezes, ainda mais importante do que estar entre os três vencedores, que ganharão a chance de se apresentar no local durante o verão, além de um prêmio de R$1.500, é a exposição que seu trabalho terá, a exemplo do que já aconteceu com outros músicos.
– O ‘Novos Bambas’ já revelou muita gente boa que hoje está tocando e gravando direto Rio, Brasil ou mundo afora, como o Makley Mattos, que tocou aqui no ‘Santo Samba’, projeto que tem dado grande visibilidade aos artistas da região. Além disso, é inequívoco que a Lapa ainda é a grande vitrine para qualquer artista que tenta seu lugar ao sol no mundo do samba – comentou.
Com formação artística baseada na música erudita e nas escolas de samba, instâncias aparentemente antagônicas, o cantor de senvolveu seu estilo ao passar por inúmeros coros e conjuntos vocais, além de ter composto e interpretado o samba-enredo da escola Foliões de Botafogo, do Grupo de Acesso B, na Passarela do Samba, em 2001. Além de sambistas, naturalmente, ele se diz influenciado pela obra de artistas de outros gêneros como jazz, bossa nova e até rock.
– A primeira lembrança que eu tenho é de Paulinho da Viola. Outra lembrança forte é do LP ‘Vem quem Tem’, do João Nogueira. Nélson Cavaquinho influencia meu trabalho de compositor pela questão da espiritualidade. Sou influenciado também por Candeia e Cartola. Adoro Elis (Regina), Clara (Nunes), Ella Fitzgerald e, sobretudo, Elizeth Cardoso. Das vozes masculinas, gosto do Roberto Ribeiro, do Emílio Santiago, do jeito de cantar do Johnny Alf e do timbre do Erasmo (Carlos) – enumerou.
Nos últimos anos, Max tem dividido seu tempo entre a música e a profissão de jornalista, fato que não o impediu de manter uma constante atividade sobre os palcos, em shows próprios ou na abertura de apresentações de nomes renomados como Cláudio Nucci, Dorina, Monarco e Moraes Moreira.
Por conta disso, ele ressalta que o número de espaços destinados ao samba na Região dos Lagos ainda é insuficiente, embora tidos como celeiros de novos talentos. Ele aposta que há muito espaço para crescer, inclusive com a utilização da internet e das redes sociais.
– Aos poucos, o mercado vai se rendendo ao samba, pois o que é genuíno tem sempre vez e espaço – pondera.
De bem com a vida, ele celebra a boa fase, de muitos projetos e trabalhos. Sua filha Lygia, de 11 anos, começa a seguir seus passos e pode assegurar a continuidade do clã Prates na música, tão fundamental na sua história.
– A música, se não resolve os problemas da Humanidade, torna o fardo de qualquer um mais leve – teoriza.