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Coluna

Teorema

28 setembro 2023 - 11h53

 Um filme de 1968, dirigido por Paolo Pasolini, com o título “Teorema”, causou um frisson nos espectadores da época, repercutindo inclusive na sociedade. O enredo fala de um visitante que seduz uma rica família burguesa, convencendo seus componentes da futilidade da existência, expondo seus desejos mais profundos, que afloraram, levando-os à tomada de decisões transformadoras para suas miseráveis vidas. Faz crítica contundente ao comodismo e a alienação da burguesia, incentivando desapego ao materialismo e liberação dos sentimentos reprimidos.

Como elemento da matemática, um “teorema” representa uma dedução lógica que pode ser provada a partir de entendimentos baseados em axiomas ou postulados. Ou seja, é o desdobramento de outros conceitos matemáticos, considerados incontestáveis. Todo teorema precisa ser demonstrado, normalmente por outros teoremas. Nos meus tempos de estudante, este assunto me fascinava, por poder comprovar premissas a partir de informações dadas, era fantástico.

Apesar de sua utilização ter sido voltada primordialmente para a matemática, análise das questões sociais, utilizando teoremas, tem sido uma tendência entre economistas, filósofos, entre outros profissionais. Kenneth Arrow (1921 – 2017), economista e matemático norte-americano, causou grande impacto ao apresentar uma teoria da escolha social, mais conhecida como “Teorema de Arrow”. A partir dele passou-se a criar uma teoria do bem-estar social, onde ficou demonstrada a impossibilidade de agregar preferências individuais em uma única preferência coletiva, que se mantivesse logicamente ordenada. Como sequência, ficou evidenciada a dificuldade de afirmar que as escolhas coletivas refletem diretamente a preferência da sociedade ou a vontade do povo.  Isto pode ser comprovado pelos processos de eleições acontecidas nos últimos tempos, não só em nosso país, como em todo o mundo, onde os eleitos não representam efetivamente o anseio da coletividade. 

Hoje, vivemos uma crise estrutural do capital com desdobramentos na sociedade. Fomentar guerras para incrementar o lucro de fabricantes de armas; disseminar vírus com objetivo de aumentar consumo de medicamentos; boicotar pesquisas que impactariam em melhor qualidade de vida, estas são algumas das ações perpetradas pelos controladores do capital, dominados pela ganância. Todas essas questões nos colocam diante de uma citação de Jean Paul Sartre (1905 – 1980), filósofo francês, que disse: “Quando os ricos fazem a guerra, são sempre os pobres que morrem”. 

O que acontece de fato é que o ser humano, como embrião da sociedade, não se revela, não expõe o seu verdadeiro “eu”, vivendo muito da aparência artificialmente construída. É o que se constata na maioria dos políticos de carreira. O Teorema de Pixel preconiza que “quanto menor a foto, mais bonita é a pessoa”. Considerando que “pixel” é a menor unidade de uma imagem, independentemente de sua fonte, correspondendo a um ponto, as pessoas se apresentam no meio social como em uma pequena foto, onde os defeitos não são evidenciados. Essa tem sido a máscara divulgada pela maioria da burguesia em todo o mundo, incluindo, aí, políticos de diversas vertentes.

Seria excelente se todas as questões sociais pudessem ser solucionadas através de formalismos matemáticos. Por ser uma ciência exata, a matemática nos conduziria a resultados previsíveis, justos e humanitários. William McFee (1881 – 1966), escritor inglês, é autor de uma frase bem elucidativa: “O mundo não está interessado nos temporais que você encontrou. Ele quer saber se você trouxe o navio”.