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Coluna

Por trás da porta

07 abril 2023 - 06h13

Havia um rei que, nas batalhas, quando fazia prisioneiros, não os matava; levava-os até um pátio dentro do castelo onde ficavam um grupo de arqueiros em um canto, e, no outro, uma imensa porta de ferro, ornada com figuras macabras cobertas de sangue. Por trás da porta podiam ser ouvidos ruídos estranhos e aterrorizantes. O rei então dizia aos prisioneiros: “podem escolher entre morrer flechados por meus arqueiros ou passar por aquela porta que se fechará após vocês”. Todos escolhiam ser mortos pelos arqueiros. E assim foi por muitos anos. Até que certo dia um soldado do rei tomou coragem e lhe perguntou: “Majestade, o que há por trás dessa assustadora porta”? O rei então lhe disse: “Vá e veja você mesmo”! Atemorizado, o soldado abriu vagarosamente a porta e percebeu, quando o fazia, que raios de sol iam adentrando e clareando o ambiente, até que, estando totalmente aberta, notou que conduzia à liberdade aquele que por ela passasse. O soldado ficou espantado, e o rei lhe disse: “Eu dou a todos a possibilidade de escolha, mas todos preferem morrer a arriscar a abrir esta porta”.

Uma porta pode esconder muitas coisas, boas ou ruins. Interessante que ela permite tanto a entrada quanto a saída, porém é mais difícil a entrada, pois para isso é necessário que se tenha a chave ou que alguém abra. Figurativamente entendemos por “porta” qualquer meio ou estratégia de acesso a um ambiente novo e desafiador.

Havia um programa na televisão denominado “Olimpíada do Faustão”, que tinha um quadro com o título “Porta da Sacanagem”. Os competidores precisavam vencer vários obstáculos, inclusive escolher uma porta camuflada para passar. Existiam várias figuras de porta, mas só uma permitia a passagem. Muitos deles batiam na porta errada e eram eliminados. Assim acontece na vida social, empresarial e política. Quando escolhemos a porta errada, deixamos de alcançar nossos objetivos.

Na antiguidade, os templos possuíam imensas e altas portas, que, segundo a tradição, permitiam aos deuses entrar com facilidade em seus interiores. Por isso, dependendo do foco, a importância de uma porta está relacionada ao interesse de quem está dentro ou de quem está fora. O de um presidiário é que a porta seja aberta para ele sair; o de um candidato a qualquer cargo é uma porta de entrada.

Numa citação, Alexander Graham Bell (1947 – 1922), cientista e inventor naturalizado americano, diz: “Às vezes nós olhamos tanto tempo para uma porta que se fecha que vemos muito tarde outra que está aberta”.

A Bíblia, livro da sabedoria, traz centenas de citações sobre porta, entre elas uma que coloca Jesus como sendo “a porta”, conforme registrado no evangelho de João, capítulo 10, quando Ele diz: “Eu sou a porta”. E no mesmo texto: “Aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador”.

Como alegoria, a palavra porta nos leva a inúmeras situações, como abrir a porta do coração; porta do sucesso; porta de emprego etc. Representa o início de um espaço ou acolhimento de quem está do lado de fora. Isso implica em aceitar o desafio do novo ambiente, ir ao encontro do desconhecido e assumindo os resultados. Por outro lado, quem está dentro, atrás de uma porta, está encoberto, a salvo dos olhares e observações de quem está de fora. Nos bastidores dos meios políticos, isto é, atrás da porta, são tramados os mais sórdidos projetos. Em contrapartida, atrás de uma porta encontramos soluções para os mais intricados problemas, inclusive a liberdade.