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Coluna

Por que ainda luta, feminista?

12 julho 2021 - 14h06

“As mulheres já alcançaram igualdade de gênero na sociedade, não vejo motivo para que feministas ainda precisem fazer tanto alarde”. Ouvi isso esses dias. A minha vontade foi de rir freneticamente, mas de engraçado esse tipo de pensamento não tem nada. Acredito que pessoas que falem coisas do tipo estejam vivendo dentro de suas bolhas imaginárias. 

A internet nos possibilitou isso de forma assustadora. Só vemos o que queremos, o que faz parte do nosso dia a dia. Podemos silenciar, remover, desseguir, bloquear pessoas em menos de meio segundo. Bem, como quem ganha dinheiro com a sua permanência online vai fazer de tudo pra te manter plugado – e isso significa estar sempre ‘jogando’ na sua cara o que você quer ver –, aos poucos fomos nos isolando dentro de nossas pequenas ideias de realidade. 

E assim surgiram negros que não acreditam no racismo, mulheres que não acreditam no machismo, gays que minimizam a homofobia justamente por não terem a vivência de tais violências, acabam por ignorar a existência da própria. Enquanto tantos milhares sofrem com elas todos os dias.

Pode não acontecer no seu dia a dia, mas mulheres ainda apanham em casa, são estupradas, assassinadas apenas por serem mulheres e entendidas como propriedade e inferiores. Pretos todo santo dia julgados na mira do “atire antes de perguntar” apenas por sua cor. Gays que ainda não podem andar na rua de forma segura com seus amores, que ainda têm medo de ‘sair do armário’, por não serem aceitos como são, pela família, pela sociedade. É tão mais fácil aderir a essa falsa realidade na qual o mundo na verdade é perfeito. Às vezes eu penso que saber dói. Por várias vezes reluto muito antes de ler notícias, abrir a internet, pois a ignorância é de certa forma acolhedora. Talvez por isso as ‘Fake News’ estejam tão em alta. 

As pessoas querem acreditar no que querem acreditar, e ponto final. Receber informação de forma fácil e repassar de forma mais fácil ainda. Sem se dar o trabalho de realmente ir a fundo, abrir o link, rever as fontes, pesquisar em outros sites, isso tudo requer tempo, trabalho e vontade de saber. Eu escrevo esta coluna como um hobby, mas ela nunca deixa de ser trabalhosa. Antes de abrir o Word e começar a digitar, pesquiso, abro as vezes mais de quinze sites de notícias, colunas, estudos, para depois de ler e me aprofundar no assunto que decidi falar, repassar a sabe-se lá quem for ler. 

Um cuidado com o saber e o repassar que hoje em dia passou a ser relíquia. Por exemplo, ao amigo que disse a frase que usei para começar esse texto, respondi: “Você está de sacanagem, né? Em que mundo?”. Mulheres ainda recebem salário inferior ao dos homens numa mesma função, às vezes precisando trabalhar o dobro pra se provar eficiente. Numa entrevista de trabalho ainda somos descartadas ao sermos perguntadas se temos filhos. Pergunta essa que a maioria dos homens não recebe – e no caso deles, se há resposta positiva, é entendida como sinal de responsabilidade e maturidade. Ainda somos mandadas embora após a licença maternidade. Por quê? Porque provavelmente faltaremos mais para cuidar dos nossos filhos do que os homens ou coisa do tipo. 

Homens ainda não têm, por exemplo, a mesma licença, o que ajudaria muito as mulheres na criação dos seus filhos, e geraria um ambiente menos desigual. Mulheres ainda são assediadas e violentadas não só em seus trabalhos ou na rua, como dentro de suas próprias casas, em escolas, em igrejas, sexualmente falando ou não, porque são mulheres, apenas. 
Talvez no seu bairro não aconteça, no seu estado seja menos pior, mas em muitas casas a mulher não só trabalha fora como o homem, mas cuida sozinha de toda a função da casa enquanto o homem ainda senta no sofá para assistir seu jornal ou futebol e provavelmente grita de vez enquanto: “O jantar ‘tá’ pronto, mulher?”.“Mas homens são assassinados em grande maioria!”. Sim, na maioria esmagadora por outros homens, e não por mulheres. “Mas então por que vocês não lutam para servir obrigatoriamente ao exército, como os homens servem?”.

Por que vocês homens não começam a lutar para que deixe de ser obrigatório? Eu preciso lutar para me encaixar numa situação ruim. Sinceramente, não entendi. É cansativo bater nas mesmas teclas o tempo inteiro. Ter que dizer o óbvio diversas vezes pra mesma pessoa às vezes. Mas é igual aqui em casa com meu filho. Ele tem certas limitações, e eu preciso repetir a mesma coisa até ele entender. É assim que funciona.