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Coluna

O país de quimera

30 julho 2021 - 19h13

 Quimera era uma figura mitológica, citada por Homero na sua obra Ilíada, surgida na Grécia no século VII A.C., resultado da união entre Equidna (Metade mulher, metade serpente) e o gigante Tifão. Tinha a cabeça em forma de leão, o corpo de uma cabra, e a cauda de uma serpente. Foi morta por Belerofonte, montado no seu cavalo alado Pégaso. Existem outras versões de Quimera, entre as quais uma que lhe atribui três cabeças, além da de leão, a de uma cabra e outra de um dragão que lançava fogo pelas ventas.

Utilizando a metáfora da figura de Quimera podemos traçar o perfil político e econômico do nosso país. O que temos hoje? Um presidente que representa a cabeça de um leão, enfrentando tudo e a todos, não tem papas na língua. Aliás, acho que poderia ficar um pouco mais calado, se poupando dos desgastes que tem sofrido por falar demais. Mas, temos que reconhecer, é corajoso. Contrariou e travou embate com a poderosa Rede Globo, confronta Ministros do STJ, encara os opositores sem temor, além de outras situações que enfrenta inclusive no cenário internacional. Adorado por uns, detestado por outros, mas assim tem sido com todos os que já estiveram no cargo de mandatário mor do Brasil.    

 O corpo de cabra: é a população, sofrida e espremida até a medula, clamando por alento e mais atenção dos governantes. Aquela que vive de esperança, na expectativa de que os juros bancários sejam reduzidos, e que os preços dos combustíveis diminuam, principalmente o gás de cozinha. Que o salário mínimo seja aquele preconizado pela Constituição Federal, que ajam mais empregos e a distribuição de renda seja mais justa e equitativa. Que haja uma saúde pública digna, sem espera interminável por um exame ou tratamento, valorizando a vida. É a população que se contenta com bolsa família e auxilio emergencial, que ajuda momentaneamente, mas não resolve a situação das famílias.  É o próprio povo que têm todo poder nas mãos, de eleger representantes, de não comprar para forçar baixa de preços, de protestar por mudanças, mas abdicam em troca de benefícios e ilusões plantadas em suas expectativas de vida, ou, o que é pior, a maioria fica omissa, conforme a letra de uma antiga canção que diz: “eu no meu cantinho e você no teu”.

 Cauda de serpente, esta é terrível! Açoita o corpo sem piedade. Representada pelos detentores do poder e privilegiados da nação. Decidem pelo povo, mas sempre salvaguardando interesses próprios ou corporativistas, estipulam pesados tributos para satisfação da insaciável sede por recursos que acabam muitas vezes desviados para um saco sem fundo. São os especuladores que vivem de juros ou lucros extraordinários, que normalmente tomam o destino do exterior, quando poderiam perfeitamente ficar aqui e gerarem mais empregos e rendas, fortalecendo a riqueza nacional. São os que julgam com morosidade e parcialidade, insensíveis à dor dos que clamam por justiça. São os sonegadores que se apropriam ilicitamente dos recursos públicos. São os corruptos que se vendem numa orgia de favorecimento e tráfico de influência com profunda lesão aos cofres públicos. Os que enganam o povo com promessas que nunca irão cumprir. Os que compram o voto do cidadão humilde, que por falta de educação cívica e desconhecimento do real papel que representam como célula formadora de um estado democrático e justo, trocam-no por uma cesta básica, um saco de cimento ou uma cédula de cinquenta reais. 

Esta é a cauda da serpente, que maltrata e infringe martírios no lombo do corpo de cabra, varrendo a esperança e sugando a fé.

País de quimera, dividido, mas rico. Pulmão do mundo, mas espoliado pelos interesses inescrupulosos de devastadores do meio ambiente. País das oportunidades, sufocado pelos interesses mesquinhos dos grandes grupos políticos e financeiros. Porém antes e acima de tudo, temos que reconhecer, é feito de um povo forte, que sofre à espera de um dia aparecer um “Belerofonte” montado em seu cavalo alado que mate o monstro e restabeleça a hegemonia entre os poderes, acabando com as interferências entre eles, tão nefastas nos dias atuais.