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Coluna

Música Machista Popular Brasileira

07 junho 2021 - 11h04

Da dupla Claudinho e Buchecha a Chico. Passando por funk, rock, pagode, sertanejo, axé, samba ou pop, enfim, não importa o ritmo, a música popular brasileira está recheada de letras machistas. Sejam as mensagens explícitas ou entrelinhas, é só procurar um pouquinho que elas pipocam na nossa cara. Depois de passar por vídeo no TikTok que me deixou perturbada, corri pro Google e... pronto, uma lista infinita de letras que viraram sucesso em algum momento descrevendo violência, abuso sexual, incesto e até pedofilia. Inclusive o título desta coluna é exatamente de um projeto criado apenas por mulheres para expor músicas de cunho machista (MMPB). Mas é óbvio que eu não vim até aqui só pra criticar e sair correndo, não é mesmo?

 Vamos começar com a dupla que citei no começo e a música ‘Nosso Sonho’, que literalmente fala do amor entre um homem e uma criança de 12. Nunca percebeu? Pois é. A primeira dica começa aqui: “Nossas emoções eram ilícitas. Que, apesar das vibrações proibia o amor em nossos corações”. Para seguir e ser ainda mais direto dizendo a idade da “Pequena”: ‘Os teus cabelos cobriam os lábios teus. Não permitindo encontrar os meus. E você é baixinha. Gatinha, eu vou parar. Mas tudo isso porque eu me sinto coroão. Tu tens apenas metade da minha ilusão. Seus doze aninhos permitem somente um olha”. 

Velhas Virgens, que já começa machista no próprio nome da banda, talvez devesse ganhar uma coroa por tantas e tantas músicas pedantes de letras horrorosas. Não vou precisar nem citar trechos delas aqui, e talvez nem poderia, pois os próprios títulos já deixam bem claro, e ler chega a dar náuseas, como por exemplo “Abre essas penas”, “Esse seu buraquinho” ou “Muito bem comida”. Seguimos para Raimundos, que por muito tempo foi febre, e ainda é, para os amantes do rock nacional, muito pedido inclusive nos shows acústicos das casas da região. Também poderia ficar aqui só citando os títulos de várias das músicas pesadas que encontramos da banda, mas citarei apenas “Me Lambe”, que também fala de pedofilia. Ao contrário de “Nosso Sonho” que deixa pra falar mais abertamente sobre o tema mais para o meio ou fim da música, “Me Lambe” já começa dando todas as informações: “O quê? O que que essa criança tá fazendo aí toda mocinha? Vê, já sabe rebolar, e hoje em dia quem não sabe? Se ela der mole, eu juro que eu não faço nada. Dá cadeia e é contra o costume. Mas se eu tiver na rua e ela de mão dada com outro cara, eu morro de ciúme (...) me fala a verdade. Quantos anos você tem? Eu acho que com a sua idade já dá pra brincar de fazer neném (...) sinto, amigo, lhe dizer, mas ela é de menor. Isso é crime. Seu guarda, se não fosse eu, podia ser pior. Imagine”. 

E o Chico, hein? Considerado um gênio da música brasileira, também acaba por expor certos machismos às vezes mascarados em suas letras: “Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas. Vivem pros seus maridos (...) sofrem por seus maridos (...) e quando eles voltam, sedentos. Querem arrancar, violentos carícias plenas, obscenas (...) quando eles se entopem de vinho costumam buscar um carinho de outras falenas. Mas no fim da noite, aos pedaços, quase sempre voltam pros braços de suas pequenas (...) elas não têm gosto ou vontade. Nem defeito, nem qualidade. Têm medo apenas. Não têm sonhos, só tem presságios.” Chico se defende dizendo que a letra na verdade é um aviso, e não um conselho. Será? 

As mulheres acabam reproduzindo também o que foram ensinadas desde pequenas, como por exemplo a canção da Valesca Popozuda, “Beijinho no Ombro”, que traz em sua letra a concorrência e disputa entre mulheres. Nem a dupla Sandy e Junior escapa desse pente fino, coitados, novíssimos, mal sabiam o significado do que falavam, cantando uma música absurdamente machista que é “Maria Chiquinha”: “Então eu vou te cortar a cabeça, Maria Chiquinha / Então eu vou te cortar a cabeça / Que cocê vai fazer com o resto, Genaro, meu bem? / Que cocê vai fazer com o resto? / O resto? Pode deixar que eu aproveito”. Vou finalizar com uma que me deixa de cabelo em pé, da banda Bidê ou Balde, ‘E por que, não?’ fala claramente sobre incesto. Apesar de seus autores terem defendido com veemência a veiculação da canção, e até mesmo mudado a letra, não tem como discutir que a música faz apologia ao incesto e possivelmente pedofilia: “Eu estou amando a minha menina. E como eu adoro suas pernas fininhas. E por que não? Teu sangue é igual ao meu. Teu nome fui eu quem deu. Te conheço desde que nasceu. E por que não? (...) Eu estou adorando ver a minha menina com algumas colegas dela da escolinha”. 

Eu poderia continuar, mas, como o espaço na coluna é limitado, deixo para vocês continuarem a pesquisa. Quando se trata de Música Machista Popular Brasileira, quanto mais se procura, mais se acha. Só deixo um aviso: esta playlist faz doer os ouvidos.