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Coluna

Metanoia

18 junho 2022 - 10h59

De origem grega, a palavra “metanoia” indica uma profunda mudança de comportamento, ligada à aprendizagem generativa, considerando que a aprendizagem envolve em muitas situações a quebra de paradigmas. Na área religiosa, esta palavra significa “mudança de ideia ou de pensamento”, ou seja, deixar de acreditar em determinada coisa para vivenciar um novo modo de enxergar a vida, o que normalmente se chama de conversão. No mundo das organizações passamos por semelhante processo. Em todo momento ocorrem mudanças, exigindo novos aprendizados e readaptações, principalmente mudança de mentalidade.

A acelerada evolução tecnológica tem obrigado a nos reinventar e é um processo tão rápido, que, quando conseguimos dominar uma nova técnica, eis que surge outra, e assim sucessivamente. Uma frase atribuída a Sócrates (470 a.C. – 399 a.C.) diz que: “quanto mais sei, mais sei que nada sei”. Atuando por muitos anos como professor, pude sentir na pele a verdade dessa citação. Quanto mais ensinava, mais necessidade tinha de estudar e aprender, para voltar a ensinar, muitas vezes rendendo-me a novos conceitos que surgiam.

Invenções revolucionárias de décadas passadas são hoje lembranças ou peças de museus. A máquina de escrever, o telégrafo, listas telefônicas, fax são alguns exemplos de instrumentos que muito ajudaram na vida corporativa, mas hoje são completamente inservíveis. Steve Jobs (1955 – 2011), fundador da Apple, disse que: “Os que são loucos o suficiente para pensarem que podem mudar o mundo são os que o fazem”. E o mundo está mudando, quem não mudar o modo de pensar ficará para trás.

Centro mundial da alta tecnologia, o “Vale do Silício”, no estado da Califórnia, Estados Unidos, onde se concentram as mais importantes empresas globais, como Apple, Facebook, Google, Intel, dentre outras, é responsável pelas inovações que a cada dia nos obrigam a iniciar novos aprendizados, em todas as áreas de atuação humana. Com foco nessa realidade, a Intel criou um sistema de gestão denominado de OKR (Objectives and Key Results), ou seja, objetivos e resultados chave. É uma metodologia de gestão para definir metas medidas por conjunto de resultados, aplicando funcionalidades, comandos e estruturas já prontas para garantir qualidade no desenvolvimento de um projeto. Esses objetivos são revistos periodicamente de três a seis meses, para readequação.

Essa ferramenta se mostrou tão eficiente que vem sendo adotada por muitas outras empresas, de todos os portes, como ajuda no processo de gestão face às novas tecnologias que estão surgindo.

Atividades normais, como dirigir um veículo, têm exigido constante aprendizado em razão das inovações. Algum tempo passado, viajei em um ônibus do Rio de Janeiro para Cabo Frio. Como o motorista titular não compareceu, foi chamado um reserva para conduzir o veículo. Apesar de anos de profissão, o profissional não estava familiarizado com o novo ônibus destacado para a viagem, todo informatizado. Por diversas vezes teve que parar para pedir instruções de como operar os equipamentos.

Sem treinamento, sem conhecimento generativo, as novas técnicas de nada adiantarão. Uma frase de Bill Gates expressa muito bem essa questão: “A primeira regra de qualquer tecnologia utilizada nos negócios é que a automação aplicada a uma operação eficiente aumentará a eficiência. A segunda é que a automação aplicada a uma operação ineficiente aumentará a ineficiência”.

Quem não se preparar para as mudanças que ocorrem a cada dia estará fadado a desaparecer. Um caso muito interessante foi o da Kodak. No final da década de 70 ela detinha 90% das vendas de filmes e 85% das vendas de câmeras fotográficas nos Estados Unidos, além de estar em toda parte do mundo com seus produtos. Possuía nessa época 100 mil empregados e obtinha bilhões de lucros anuais. Mas por não acreditar no futuro da fotografia digital, ou por não querer sair do seu cômodo e lucrativo mercado de filmes, não promoveu as mudanças que o mercado exigia, acabando por falir em 2012. Seus líderes foram incapazes de perceber que a foto digital não seria apenas mais um produto, mas sim uma mudança profunda no mercado de fotografia que estava migrando do método tradicional para o digital.

Certo estava Theodore Levitt (1925 – 2006), economista americano, ao dizer que “A criatividade é pensar coisas novas. A inovação é fazer coisas novas”.

(*) Clésio Guimarães é empresário, professor, administrador de empresas e representante do CRA-Conselho Regional de Administração.