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Coluna

Mamon

08 dezembro 2021 - 12h07

De origem hebraica, o termo “mamon” significa, literalmente, “dinheiro”. Sua figura é normalmente relacionada a um nobre de aparência deformada, que carrega um grande saco de moedas de ouro, e suborna os humanos para obter suas almas.   

Derivada da Bíblia, esta palavra é utilizada para descrever riqueza material ou cobiça. Apesar de alguns considerarem mamon um deus, não há correspondência histórica que confirme esta linha. Na era pré-cristã eram cultuados muitos deuses, principalmente na Grécia, mas não foi constatada a existência de nenhum mamon. No evangelho de Mateus, capítulo 6, versos 19 a 24, encontramos o seguinte registro: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas (ou mamon, conforme algumas traduções)”. Nesse viés podemos entender o fascínio que o dinheiro exerce sobre as pessoas, ao ponto de despertar em Jesus a necessidade de alertar àqueles que colocavam o dinheiro acima de tudo. Uma frase do Papa Francisco corrobora o ensinamento de Jesus, ao dizer que “o dinheiro tem que servir, não governar”. Nessa mesma linha, Francis Bacon (1561 – 1626) disse que “o dinheiro é um bom criado, mas um mau senhor”. 

Diariamente, o noticiário estampa episódios de crimes de diversas espécies, perpetrados em nome do dinheiro. Interessante observar que as pessoas vivem, em relação ao dinheiro, como se fossem eternas ou que fossem levar para eternidade aquilo que acumularam ao longo da vida. Uma pessoa amiga, em tom de sábio conselho, disse-me certa vez: “não fica guardando dinheiro, faça tudo que te dá prazer, viaje, compre sapatos novos, um bom perfume, roupas de estilo, ajude quem necessitar... tudo ficará aqui quando você morrer”.

Viajando pelo imaginário, se a alguém fosse dada a capacidade de escolher ser dinheiro, teríamos uma pessoa poderosa e invencível. Ganharia todas as eleições, viveria procurada e adorada por multidões, todas as portas seriam abertas para satisfação de suas necessidades, nada se constituiria em obstáculo às suas pretensões. Assim é o poder do dinheiro no mundo atual, tudo pode conquistar ou comprar, até mesmo a consciência das pessoas. Millôr Fernandes (1923- 2012), com seu nato senso humorístico, dizia que “o dinheiro não só fala, como faz muita gente calar a boca”.

No entanto, o dinheiro não foi concebido para dar tanto poder a uma pessoa. Seu surgimento foi consequência de um processo, iniciado pela troca direta de bens essenciais (escambo), passando pela moeda mercadoria (sal, peças de ouro e prata, especiarias, entre outras), culminando no formato que tem hoje. O objetivo da criação do dinheiro foi facilitar a troca e servir como intermediário geral, rompendo com os obstáculos que os outros tipos de moedas apresentavam. No entanto, sua existência e importância não condizem com a forma pela qual é utilizada pelos homens, e não é de agora. Por dinheiro, Judas traiu Jesus; por ele são proclamadas guerras; desvirtuam-se princípios éticos e morais e tantas outras mazelas.

Um dos princípios mais abalados pelos efeitos nocivos do dinheiro é a honestidade, muito embora, numa proporção epidêmica seja uma questão cultural.  Circula na internet um vídeo onde é relatado o espanto de um turista latino americano em visita à Suécia, diante do comportamento dos cidadãos daquele país em relação à conduta de honestidade. O fato aconteceu em Estocolmo, na estação do Metrô, quando o viajante latino, ao se dirigir à entrada de embarque para a plataforma, verificou a existência de duas roletas. Uma onde a maioria das pessoas se dirigia e apresentava o “ticket” de embarque, e outra de passagem livre, praticamente vazia. Indagando a um funcionário por que da existência daquela passagem, ouviu como resposta que ela se destinava às pessoas que não tivessem dinheiro no momento ou mesmo não pudessem pagar. Voltou a perguntar: “Mas, pessoas com dinheiro não utilizam, simplesmente como forma de não pagar?” E o funcionário, espantado, respondeu: “Mas por que alguém faria isso?”  

O dinheiro impulsiona o funcionamento do mundo, mas não podemos tê-lo como “mamon”, representando o terceiro pecado, a ganância ou avareza, uma vez que seria uma nova forma de escravidão.