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Coluna

Fábula da cigarra e a formiga

19 maio 2023 - 06h00

Fábulas são histórias fantasiosas envolvendo animais, sempre com um fundo moral. Um dos mais conhecidos fabulistas foi Esopo (620 a.C. – 564 a.C.), que viveu na Grécia antiga e provavelmente foi um escravo de origem africana. Entre as muitas fábulas que escreveu está a da “Cigarra e a Formiga”. Nessa história, uma cigarra passava o verão e o outono a cantar e dançar, sempre zombando da formiga, que só fazia trabalhar, colhendo grãos de alimentos. Até que o inverno chegou. Os alimentos, sempre fartos na natureza, escassearam, e a cigarra calou o seu canto em função da fome. Lembrou então de procurar a formiga, pois sabia que ela tinha alimentos estocados. Mas de pronto recebeu um “não”, e um conselho para que fosse dançar como sempre fizera. A formiga foi cruel? Sim, mas justa.

Em nossa região, o período de verão sempre é sinônimo de bons negócios para a maioria das empresas. A presença volumosa de turistas é garantia de bons faturamentos, que alimentam o caixa e a conta bancária. Mas, passado esse período, chega a hora de enfrentar o recesso, a falta de clientes e de dinheiro, hora de colocar em prática um plano de contingenciamento, evitando não comprometer a saúde da empresa na baixa estação. Entretanto, o que mais se vê é o empresário aproveitar para gastar aquilo que ganhou no período farto. Vai viajar, realiza compras pessoais, etc, e descapitaliza a empresa, tendo, o que é desaconselhável, que recorrer a empréstimos bancários para vencer os meses seguintes, e a partir daí endividar-se até falir. O que ocorre, na verdade, é um equívoco gerencial em pensar que toda receita é lucro. Por incrível que pareça isso é muito comum. Há uma grande diferença entre receita e lucro.   Receita é tudo que entra, e lucro é tudo que fica, após terem sido satisfeitas todas as despesas e provisionamentos.

Na área de gestão pública, apesar da obrigação de maior controle e da fiscalização, têm ocorrido fatos semelhantes, notadamente nos municípios que recebem verbas indenizatórias finitas, como os royalties do petróleo e de outros recursos minerais. Em lugar de canalizarem essas receitas em projetos voltados para geração de mais receitas e sustentabilidade, utilizam esses recursos para realização de shows, obras de fachada e outros eventos que em nada irão acrescentar ao futuro dos munícipes. O grande problema é que cabeça de político só pensa no hoje, no que é visível. Shows dão ibope, popularidade, ao contrário de investimentos em infraestrutura, que só vão aparecer tempos mais tarde, e esses não interessam para muitos. Warren Buffett, empresário, investidor e filantropo americano, tem uma frase interessante: “Alguém está sentado na sombra hoje porque alguém plantou uma árvore há muito tempo”. Há uma grande diferença em pensar no amanhã para si e pensar no amanhã para o próximo.

Antônio Ermírio de Moraes (1928 – 2014), escritor, empresário, presidente do Grupo Votorantim, disse certa vez: “Há uma nítida diferença entre um estadista e um político. O primeiro é alguém que pertence à nação; o segundo é alguém que pensa que a nação lhe pertence”. E é o que vemos em todos os níveis da estrutura organizacional de governo. O gestor público tem na cabeça o sentimento de posse da coisa pública, e isso o faz pensar somente no seu projeto particular, estando o povo, para quem governa, em segundo plano.

Quer no projeto pessoal, quer no empresarial ou governamental, pensar no futuro é obrigação, apesar de que o futuro não pertence a nenhum de nós.