sábado, 14 de junho de 2025
sábado, 14 de junho de 2025
Cabo Frio
22°C
Magnauto
Coluna

Denorex: parece mas não é

06 fevereiro 2023 - 10h57

Na década de 80, a propaganda de uma marca de shampoo viralizou no mercado brasileiro, tendo como bordão: “Denorex: parece remédio, mas não é”. O sucesso foi tanto, que se transformou num jargão popular aplicado nas situações diárias com o formato “Denorex: parece, mas não é”. Assim, em todas as oportunidades que ensejavam interpretações equivocadas sobre a originalidade de alguma coisa, utilizava-se a expressão.

Conta-se que em 1920 foi realizado um concurso para escolher o melhor sósia do Charles Chaplin, na figura do seu personagem Carlitos. Dezenas de candidatos se inscreveram, inclusive o próprio Carlitos que o fez de forma incógnita. Feita a seleção, por um júri de especialistas, o Carlitos original, o verdadeiro, ficou em 3.º lugar. Dada a época em que essa reportagem foi divulgada, levanta-se suspeição sobre sua veracidade, o que acabou por se transformar num “mito urbano”. Verdade ou não, chegou-se à constatação da existência de cópias que se apresentam, visualmente, mais perfeitas do que as originais, muito embora sejam “Denorex: parece, mas não é”. Durante a realização da Copa do Mundo de 2022, uma emissora de televisão brasileira recrutou diversos sósias de jogadores que disputavam o torneio. Personagens com aspectos físicos semelhantes e devidamente caracterizados como Neymar, Paquetá, Richarlison se apresentavam divertindo os torcedores com suas presenças. Cópias perfeitas, mas sem o talento, evidentemente.

Essa questão de imitação de personagens famosos é antiga. Ídolos como Elvis Presley, Michael Jackson, Roberto Carlos, Raul Seixas e outros têm sido copiados através dos tempos, com grande esmero e até com algum talento, mas sem o carisma do original. Alguns, inclusive, foram convidados para participação em filmagens como dublês, tal o grau de perfeição na imitação.

Entretanto, a prática de copiar ou imitar exemplares originais se estende a muitos setores da economia, causando sérios prejuízos aos fabricantes dos produtos. Segundo dados de 2021 divulgados pelo Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos Contra a Propriedade Intelectual (CNPC), estima-se que, somente no Brasil, 70,2 milhões de pessoas consumiram produtos “piratas”, ou seja, aqueles fabricados por agentes não autorizados, sem controle de qualidade e sem pagamento de tributos. Só na área de produtos esportivos a estimativa é de que foram comercializados 9 bilhões de reais em mercadorias piratas, o que redundou numa perda de 2,0 bilhões de reais em tributos. Computados todos os produtos pirateados, chega-se ao impressionante valor de 287 bilhões de reais. O grande incentivo à prática de pirataria é o elevado preço dos produtos originais, que alcançaram notoriedade por terem sido apresentados em uma novela ou numa propaganda exibida com utilização de pessoas renomadas, como artistas de cinema e televisão, socialites, políticos, etc. Há uma explicação psicológica para esse comportamento, uma vez que a maioria das pessoas tem necessidade de ostentar marcas de grife como status social. Ao não dispor de recursos para comprar os produtos legítimos, acaba optando pelos não originais. Marcas famosas como Adidas, Nike, Louis Vuitton, Lacoste, Pierre Cardin, são as mais utilizadas. A diferença de preço entre um produto original e outro falsificado é abissal. Claro, a qualidade caminha na ordem inversa. Até mesmo o governo sofre com a concorrência através da falsificação de cédulas de dinheiro, o que se acentua na atualidade pela alta tecnologia e recursos disponibilizados pelas modernas impressoras.

Os maiores fabricantes de produtos falsificados estão na China e na Índia, que os distribuem para todo o mundo. O grande problema é que sempre há um comprador para esses produtos, e essa demanda alimenta o lucrativo mercado.

Entretanto, não é somente a baixa qualidade ou pouca durabilidade dos produtos pirateados que deve causar preocupação aos usuários. Quando se trata de peças automotivas, por exemplo, o problema se agiganta, pois compromete a segurança dos compradores.

Em razão da existência de uma alta tecnologia, presente e utilizada em todos os setores de atividades, inclusive, e principalmente, o “Metaverso”, é aconselhável a cada pessoa, todas as manhãs, checar para ver se ela é ela mesma.  

Napoleão Bonaparte (1769 – 1821), imperador da França, é autor de uma frase que nos conduz a pensar que nem tudo pode ser copiado, ao dizer: “Coragem não admite falsificação”.