Eu vou admitir que têm sido muito difíceis esses últimos meses. Me sinto tomada por um ódio que eu sei que não me pertence, mas do qual sou incapaz de me libertar. Às vezes, até evito entrar em mídias sociais, ler notícias ou mesmo assistir TV, para tentar de alguma forma salvar minha saúde mental diante disso tudo que estamos vivendo. Mas, se não confiro o que está acontecendo no país, me sinto alienada. Uma vez me disseram que fugir de falar sobre política também é política. E, desde as eleições, quando Bolsonaro se tornou presidente, vivo me questionando onde quero estar nessa história: na militância ou na alienação.
O brasileiro tem uma energia muito boa para certas coisas e consegue até nos piores momentos fazer piada sobre determinados assuntos. Ultimamente temos pensado constantemente: “rir pra não chorar”. Entramos numa comodidade, infelizmente, ao ver tantas, mas tantas, notícias ruins, que a falta de esperanças e forças se tornou regra. Como dizem na internet: “o brasileiro não tem um segundo de paz”.
Quem sou eu para falar sobre política? Uma especialista nata? Ninguém. Um zero à esquerda. Com diploma do Google no assunto, sigo tentando acompanhar as notícias que são infinitas, e quase sempre desesperadoras. Quem sou eu para falar de esquerda ou direita? A mesma resposta. Porém, como muitos, me identifico mais para um lado que para o outro. Eu achava que esses termos se faziam valer na economia e só. Mas, hoje, vejo que se apoio certas pautas relacionadas a direitos humanos, por exemplo, isso me torna automaticamente uma comunista a ser combatida. Se apoio causas LGBTQI+, sou petralha. Se digo que demos um golpe na Dilma e que prenderam Lula sem provas, provavelmente sou um mal a ser combatido, torturada e morta, pois pessoas como eu é que estragam o Brasil e as tradicionais famílias brasileiras.
Eu vou ser sincera e dizer que eu não entendo. Não entendo pois não entra na minha cabeça alguém se achar no direito de cuidar, controlar e ameaçar a vida de outro indivíduo porque suas “opiniões” não batem. E o que eu mais ouço é isso: “mas isso é só minha opinião”. Não. Não é só uma opinião. O que o outro faz com a vida amorosa dele, com o cabelo dele, com as roupas dele ou sua personalidade, ou que o outro faz com a religião dele não te diz direito, não é e nunca vai ser da sua conta. O problema é que essas pessoas se sentem numa posição superior, cada uma por um motivo diferente, o que parece dar a elas carta branca para sair falando do outro em “opiniões” que na verdade revelam preconceitos velados e soberba. A partir do momento em que a sua opinião fere a existência de alguém, não é mais só uma opinião. E, diga-se de passagem, você nem deveria tê-la. Opinião é dizer que prefere verde a azul. Quando, sem que ninguém tenha a pedido, você vomita suas opiniões, elas na verdade são ataques à vida do outro.
E aí eu fico me questionando: “o que passa na cabeça dessas pessoas? Por que o que o outro faz ou deixa de fazer, sem afetar em nada a vida de outrem, fere tanto assim? Se dois homens andam de mãos dadas nas ruas porque se amam, de onde vem a ideia que isso lhe cabe alguma atitude? Se um negro está se aceitando e usando seu black power maravilhoso do jeitinho que deve ser, quem um dia disse que sua ‘opinião’ deveria sair da sua cabeça pela boca? Se uma pessoa não acredita no seu Deus, não tem a mesma cor que você, ou não vive dentro dos seus costumes ela é inferior? O seu padrão é o certo? Quando você nasceu, Deus disse no seu ouvido: “Vá e transforme o mundo de acordo com o que você pensa, ó majestade de todo universo”?
Quando foi que apoiar o direito de minorias, lutar pela melhor educação nas escolas públicas, defender a ciência e a história, implorar para que o sistema de saúde público continue funcionando e seja priorizado, lutar pela Amazônia e os povos que vivem lá e querer vacinas se tornou algo desprezível? Teve um cara que pisou aqui nessa terra, que viveu por tudo isso e mais um pouco, e ele foi pregado numa cruz. 2021 anos depois, eu acredito que ele seria crucificado de novo. E o pior, por aqueles que dizem que o seguem e se usam de um livro para distorcer tudo o que ele foi e pregou. Jesus morreria de novo.