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Coluna

A voz da mulher na cidade que sonhamos

16 novembro 2020 - 20h13

A pergunta é de Freud: “afinal, o que querem as mulheres?”. As palavras ecoam na minha cabeça. Como seria poder definir o que querem todas as pessoas de um gênero, seja ele qual for? Me pergunto novamente, dessa vez, de forma diferente: “o que eu quero como mulher?”. E aí, novamente, me travei em outra questão. Apesar de mulher, num mundo machista, sou branca, de classe média, privilegiada. Não só o que eu quero deveria me importar.

Um dos maiores problemas que criamos em tempos tão tecnológicos como o que vivemos é a polarização radical de ideias. Hoje podemos ‘cancelar’ alguém, de uma hora pra outra, se essa pessoa faz ou diz algo que consideramos errado. E no feminismo não seria diferente. Como sair de uma zona de conforto para olhar amplamente problemas que não são nossos? Antes de pensar nas minhas necessidades, preciso olhar para mulheres pretas que não possuem a mesma voz que eu. Se sonhamos uma cidade, onde a mulher vai e deve ser ouvida, precisamos, dentro de nossos quadrados e bolhas virtuais, agir de forma a dar voz a quem ainda não possui. Usar de nossos privilégios para que a desigualdade entre mulheres brancas e pretas sejam diminuídas.

Me pergunto novamente: “o que eu quero como mulher?”. A resposta é simples, porém muito longe de ser fácil: quero mulheres na política, mulheres em locais de poder, empreendedoras ou chefes de famílias. Quero ver mulheres sendo ouvidas sem ter suas vozes diversas vezes mutadas, ou julgadas pelo tom. Mulheres em locais ou posições ‘ditas’ masculinas sem passarem por situações constrangedoras. Mulheres sendo contratadas mesmo depois de dizer que possuem filhos, ou que não sejam demitidas depois de parir. Creches, muito mais creches de qualidade para que essas mulheres tenham amparo público para sustentar suas famílias, enquanto seus filhos estão seguros.

Eu quero muita coisa como mulher, eu vejo muita injustiça como mulher. Mas, ainda assim, existem homens que desacreditam que exista diferença, quiçá que exista o machismo. Mulheres que vivem presas em tal violência e não conseguem enxergar que estão, por exemplo. O feminismo já mudou muito a balança dos gêneros, mas ainda há muito a ser mudado. Ainda existe muita luta para que essa diferença diminua. Nós, mulheres, precisamos estar sempre vigilantes e prontas. 

Mas, e você, homem, que leu até aqui? Você é capaz de dar as mulheres mais espaço? Olhar para uma mulher como igual? Ver total capacidade em exercer os mesmos papeis que você na sociedade?  E principalmente, você, homem, pode aumentar o volume de nossas vozes na sua vida? Porque nós já estamos falando, e nossas vozes precisam e serão ouvidas.